25% dos fundadores de empresas de base tecnolĂłgica se autodeclararam pretos ou pardos, de acordo com um estudo realizado pela BlackRocks Startups. A pesquisa foi realizada em 2021 com 2.571 respondentes. Desta amostra, apenas 29,3% haviam recebido investimento.
âĂ muito desafiador para o empreendedor negro conseguir capital porque Ă© necessĂĄrio ter uma rede relacional com pessoas com muitos recursos e acessar alguns locais onde identificam nossas caracterĂsticas de forma diferente. Se nĂŁo utilizo as expressĂ”es em inglĂȘs, estou fora, sou lida como inferior, como quem nĂŁo tem conhecimentoâ, pontuou MaitĂȘ Lourenço, fundadora do BlackRocks, hub de inovação e aceleradora de startups, no evento Black VC Day, realizado na segunda-feira (13/11) no Cubo ItaĂș, em SĂŁo Paulo.
Essa dificuldade de acesso Ă© expressa em nĂșmeros: uma outra pesquisa realizada pelo BlackRocks em parceria com a Bain & Company mostrou que 81% das gestoras de venture capital afirmaram investir a partir de indicaçÔes e 71% disseram que nunca ou raramente tiveram acesso a startups lideradas por pessoas negras.
Antes de conseguir captar R$ 1,25 milhĂŁo, em agosto deste ano, via equity crowdfunding, a Uppo recebeu 40 negativas de fundos de venture capital. Fundada em 2020, a startup de benefĂcios flexĂveis seguiu com bootstrap atĂ© a captação. âBreak-evada, mas com as contas justinhasâ, diz Vanessa Poskus, cofundadora e CEO da empresa. Depois de abrir a captação, atingiu o valor em trĂȘs semanas, atraindo 170 investidores. A partir daĂ, startup entrou no radar de grandes gestoras, que mostraram interesse em acompanhar o crescimento da empresa.
AndrĂ© Barrence, head do Google for Startups, afirma que o venture capital tem regras prĂłprias e pode nĂŁo ser o caminho para todo mundo. âPrecisa ter firmeza para saber se Ă© o que vocĂȘ quer. Ă uma forma de crescer que vem com ĂŽnus e bĂŽnus. Existem outros tipos de capital empreendedor. Estudar as possibilidades e saber as melhores alternativas Ă© função de todo fundadorâ, ressaltou durante o evento.
A Biti9, startup de transformação digital que auxilia empresas a reduzirem atividades repetitivas do dia a dia com automação, passou por dois modelos de captação antes de buscar o venture capital: em 2021, foi selecionada pelo Hotmart Challenge, recebendo um cheque pré-seed; em julho deste ano, passou pelo crivo do Black Founders Fund, iniciativa do Google for Startups para fundadores negros, com aceleração e investimento sem contrapartida de equity.
Residente no Cubo, a startup entrou para a turma do segundo semestre de 2023 do programa Scale-Up Endeavor. Com todas essas chancelas, o fundador Martin Luther começou a sondar as gestoras de venture capital. âAgora estamos nos preparando para a prĂłxima etapa que Ă© a captação de um seed. Estamos criando indicadores, começando o relacionamento, para na hora do pitch nĂŁo ter receio. Estamos trabalhando no networking, entendendo as teses de cada gestora para captar no primeiro trimestre do prĂłximo anoâ, afirmou.
Lourenço, do BlackRocks, declarou que nĂŁo existe uma fĂłrmula certa e que isso se deve Ă falta de outras histĂłrias para se espelhar. âQuem chegou ao investimento? Como conseguiu? Temos o case da MadeiraMadeira, unicĂłrnio, mas o Robson Privado sempre trabalhou na operação, em ĂĄreas secundĂĄrias. SerĂĄ que estava na linha de frente da captação e era lido como fundador? Alguns dos critĂ©rios colocados pelas gestoras para a avaliação sĂŁo excludentes, como a graduação. Isso deve ser questionadoâ, finalizou.