Mulheres empreendedoras gastam quase duas vezes mais tempo por dia em cuidados com pessoas da família e afazeres domésticos, se comparadas aos homens. O dado é da pesquisa “Características dos Empreendedores: Empreendedorismo Feminino”, que foi divulgada neste domingo (19/11), Dia do Empreendedorismo Feminino.
O levantamento foi feito a partir de entrevistas por telefone com com 6.942 empreendedores de ambos os gêneros, entre 27 de julho de 2023 e 1º de setembro de 2023.
Segundo o estudo, mulheres empreendedoras gastam mais de 3,1 horas diárias com cuidados com pessoas, enquanto para os homens este tempo é 1,6 hora. Quando se trata de afazeres domésticos, as mulheres usam cerca de 2,9 horas por dia, enquanto os homens gastam 1,5 hora.
“A pesquisa comprova a importância de desenvolvermos políticas públicas que permitam às donas de negócios condições iguais para competir no mercado”, diz Margarete Coelho, diretora de administração e finanças do Sebrae Nacional. “Quando uma mulher é dona do seu dinheiro, ela é dona também da sua vida, das suas escolhas. Isso impacta diferentes aspectos da economia e da vida da população, inclusive na redução da violência doméstica.”
A diferença também é vista de acordo com o porte do negócio. Por exemplo, os microempreendedores individuais (MEIs) dedicam mais tempo aos cuidados e trabalhos domésticos do que aqueles que são micro e pequenas empresas (MPEs).
Ainda assim, independente do tamanho do negócio, as mulheres são as mais sobrecarregadas pela jornada doméstica. As mulheres formalizadas como MEI gastam 3,2 horas em cuidados com pessoas da família e 3 horas com afazeres domésticos. O resultado é menor para os homens, com 1,8 hora ocupados em cuidados com pessoas e 1,7 hora em afazeres domésticos.
A disparidade de gênero com os cuidados é ainda maior nas MPEs. Mulheres que são micro e pequenas empresárias gastam em média 3 horas diárias em cuidados com pessoas, contra 1,2 hora diária dos homens. E, enquanto as mulheres dedicam 2,7 horas por dia em afazeres domésticos, os homens gastam apenas 1 hora diária no mesmo tipo de atividade.
A dupla jornada traz consequências para as mulheres. A pesquisa pediu para que empreendedores de ambos os gêneros respondessem se já se sentiram sobrecarregados por ter de cuidar da empresa, dos filhos ou crianças ou idosos ou parentes ao mesmo tempo. 76% das mulheres relataram “alta identificação” com a frase, contra 55% dos homens.
Essa sobrecarga também se reflete nos negócios: 73% das mulheres concordaram que o público feminino enfrenta mais dificuldades para ter um negócio por terem que dispender mais tempo cuidando da casa e da família do que os homens. A afirmação também é verdadeira para 66% dos homens.
Com isso, 61% das mulheres responderam que tiveram "alta identificação" com a afirmação de já ter deixado de fazer algo para si ou para a empresa para cuidar de outras pessoas. Quando se trata dos homens, o resultado cai para 48%.
Filhos inspiram empreendedorismo
A pesquisa também questionou se os empreendedores tinham filhos, e a resposta foi "sim" para 67% das mulheres e 64% dos homens — a maioria possui descendentes com mais de 12 anos.
E as proles são inspiração para empreender, com o cuidado dos filhos ainda recaindo mais sobre o gênero feminino: 68% das mulheres disseram que cuidar dos filhos “influenciou muito”. Entre os homens, 56% disseram que influenciou muito e 34% disseram que “não influenciou nada”. Apenas 22% das mulheres responderam que o cuidado com os descendentes "não influenciou nada".
Apoio para abrir negócios
O relatório também aborda o apoio recebido por empreendedores no momento de abrir a empresa. Em ambos os gêneros, clientes/fornecedores lideram os apoiadores, com 67% para as mulheres e 68% para os homens. Mas, em questão de cônjuge, o apoio recebido por mulheres cai para 61%, enquanto o dos homens continua em 68%.
A situação fica mais igualitária quando se trata do momento atual do negócio, com o apoio dos cônjuges representando 59% para as mulheres e 60% para os homens.
Como conclusão da pesquisa, Coelho acredita que os "dados mostram que a cultura machista ainda privilegia os homens na atividade empreendedora, assim como em outros segmentos da economia e da sociedade”. “Se todos na casa se beneficiam com os filhos bem cuidados, com o jantar quentinho, com a casa limpa, será que é justo que este peso recaia somente sobre as costas das mulheres, de maneira a sobrecarregá-las?”
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