Tradicional, esportivo, elegante, criativo, dramático, romântico e sexy. As expressões compõem a teoria dos sete estilos universais — cada pessoa pode se identificar até com três deles. Apesar de muito disseminado, há quem acredite o método é limitante. Cáren Cruz, 39 anos, é uma dessas pessoas. Pensando em expandir os conceitos da teoria e com foco em melhorar a diversidade no acesso a esse tipo de conteúdo, ela criou, em 2020, a Pittaco Consultoria, que realiza consultorias de imagem para empreendedoras negras. Só no ano passado, ela atendeu mais de 1,2 mil pessoas e, no próximo ano, deve lançar um aplicativo, que ajuda na escolha de looks.
Nascida em Salvador (BA) e formada em relações públicas, Cruz começou sua jornada na moda em 2007, dando pitacos em um blog. “Não me sentia confortável com os ‘looks do dia’. A minha ideia era discutir o tema, questionando padrões e resgatando a autoestima feminina”, lembra.
Cruz se formalizou como empresa em 2012, com abertura de um registro de MEI. Antes de apostar na consultoria, ela chegou a promover eventos para o blog e teve uma loja de roupas itinerante. “O meu maior medo de atuar com consultoria era falar na internet que eu era contra as teorias tradicionais. Muitas consultoras tinham anos de estrada perpetuando aquelas informações e eu não queria virar inimiga de ninguém”, diz Cruz.
Em 2017, ela começou a fazer a transição do negócio. No último evento realizado, avisou que faria uma pausa para redefinir sua atuação e se aprofundar em teorias de imagem. Três anos depois, deu início à Pittaco Consultoria. “Foi ao mesmo tempo que a pandemia começou. Tudo estava planejado para o presencial, mas tive que adaptar para o online”, conta.
O serviço que Cruz oferece é focado em mulheres negras de negócios, mas ela também atende quem está fora desse perfil. “Quando a pessoa entende como esses códigos sociais são lidos independentemente da raça, é possível acessar espaço, criar conexão e gerar autoridade”, aponta. “Ainda há muitas mulheres brancas que apoiam a causa e adquirem os serviços, o que é muito bom, porque quando a gente subnicha sempre tem uma insegurança”, complementa.
Hoje, ela também atende empresas, cuidando da imagem de executivos e assessores, por exemplo. O tíquete médio da empresa é de R$ 3 mil.
Durante a pandemia, ela conquistou uma clientela que se manteve. Quando as medidas de restrição se afrouxaram, Cruz alugou um estúdio para fazer os atendimentos. Com a queda das restrições, veio uma demanda reprimida de mentorandas, e a empresa começou a crescer.
O principal diferencial do modelo de Cruz é a atenção aos códigos sociais e aos contextos de cada uma das mulheres. “As roupas e os acessórios enfatizam ou minimizam as informações do rosto, onde a leitura sobre uma pessoa começa. Trabalhamos com isso, adequando tudo ao estilo de vida e ao guarda-roupa que a pessoa já tem”, diz.
“Todo o processo ocorre com respeito. Eu gosto de perguntar sempre quais são os acordos inegociáveis da mulher, como não usar salto e acessórios. Mesmo sem isso é possível parecer uma mulher de negócios”, garante Cruz.
A empreendedora também faz coloração pessoal, retrato corporativo e criação de marca pessoal. Durante a consultoria, há a etapa de entendimento em que as mentorandas montam looks em lojas de shopping, sem comprar nada. Já na coloração pessoal, é importante entender a variação dos tons nos ambientes e não apenas com relação às características físicas do cliente.
A empreendedora não abre o faturamento, mas diz que em 2022 fez 1.257 atendimentos, que ocorrem em Salvador e também online — com a ajuda de 12 funcionários. Para 2024, a aposta é no lançamento de um aplicativo próprio, que vai escanear o corpo e as roupas do usuário. “Será possível colocar seus objetivos de imagem para que ocorra uma curadoria de looks”, conta. O app terá versões gratuita e paga. "A expectativa é aumentar a escala da empresa", finaliza.