69% dos empreendedores e investidores estão otimistas para 2025, diz Latitud

Terceira edição do LatAm Tech Report sondou a expectativa dos agentes do ecossistema de inovação sobre o cenário de investimentos e se aprofundou em setores quentes, como fintechs e SaaS


A terceira edição do LatAm Tech Report mostrou que há expectativas de melhora no cenário de investimentos no próximo ano Freepik

Os números de 2024 ainda não foram consolidados, mas os registros até o terceiro trimestre mostram que o ecossistema não se recuperou plenamente do inverno das startups. Dados da Associação de Investimento em Capital Privado da América Latina (LAVCA) indicam que o funding em startups latino-americanas foi de US$ 4,1 bilhões em 2023 e, até o terceiro trimestre deste ano era de US$ 2,7 bilhões. Apesar disso, há otimismo entre empreendedores e investidores.

O estudo The LatAm Tech Report 2024, lançado nesta quinta-feira (19/12) pela Latitud, aponta que 69% dos entrevistados acreditam que o cenário de investimentos vai melhorar em 2025. Apenas 3,4% assinalaram que deve piorar. A percepção sobre 2024 também foi positiva entre os participantes: 48,3% declararam que o mercado se manteve similar a 2023 e 41,4% afirmaram que houve melhora em comparação com o ano anterior.

“O gelo está derretendo. No ano passado, eu não estava confiante sobre 2024 e foi um ano difícil. Eu acredito que os investimentos vão voltar a subir, mas de forma moderada. O sopro de ar fresco é olhar para tudo com o ângulo da inteligência artificial, uma tecnologia que acelera as oportunidades”, afirma Brian Requarth, cofundador da Latitud.

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A pesquisa também indicou os principais desafios para os empreendedores que estão no early stage: o processo de captar investimento foi apontado por 39% dos participantes, seguido por educação do mercado e adoção da solução (37%); encontrar o product market fit (37%); encontrar a melhor estratégia de vendas (33%); e escalar (33%).

O Tech Report trouxe ainda o índice de maturidade da tecnologia na América Latina. Em escala de 0 a 5, a região tem nota 2,465. Alguns itens foram registrados tanto nos motivos positivos quanto nos negativos, como qualidade dos produtos e da competição; educação e adoção do mercado; investimentos e presença de casos de sucesso. Tópicos como oportunidades inexploradas, regulações e impostos aparecem como causas para a baixa maturidade.

Pela primeira vez, o estudo destacou um capítulo à parte para tratar de inteligência artificial. Apesar de ser o tema mais falado no ano, a região ainda recebe pouco investimento para o desenvolvimento da tecnologia em comparação com outros ecossistemas. Segundo dados do Crunchbase, enquanto a América Latina recebeu 0,4% do investimento global em 2024, os Estados Unidos receberam 62,5% no mesmo período.

Requarth destaca que o Vale do Silício (EUA) concentra boa parte do desenvolvimento de IA e que não se trata de um problema brasileiro. “O que faz falta é o conhecimento pontual. A preocupação que eu teria é com a fuga de talentos. É natural, tem brasileiros se juntando a projetos de construção de deep techs de IA, de modelos de linguagem, em São Francisco [EUA]”, comenta.

A tendência para o uso de IA e IA Generativa na América Latina é redução de custos e crescimento de receita. As principais aplicações incluem suporte ao cliente, personalização de produtos, escrita de conteúdo e código, otimização operacional e prevenção de fraudes. Requarth destaca que os investidores têm bastante interesse nos usos para otimizar as "tarefas chatas".

A terceira edição do relatório também aponta tendências, oportunidades e desafios para os setores que mais se destacam na América Latina, como fintechs – a região abriga mais de 3 mil startups de serviços financeiros e tem mais de 20 unicórnios do segmento. As startups de finanças representam 57% do investimento de venture capital recebido na América Latina neste ano – a porcentagem girava em torno de 40% nos anos anteriores. Com a parte bancária mais consolidada, o estudo indica que as frentes de empréstimos, pagamentos e software receberam mais capital em 2024 em comparação com 2023.

A América Latina só teve um novo unicórnio em 2024: a brasileira QI Tech. Requarth aponta que existem vários "unicórnios dormentes", que poderiam atingir o valuation de US$ 1 bilhão, mas decidiram não captar. “Não teremos uma fábrica de unicórnios, mas startups não foram ao mercado porque estão gerando caixa. E, se você não levanta capital, você não tem um novo valuation. Sei de algumas [empresas] que receberam ofertas e chegariam ao status de unicórnio, mas negaram porque o mercado não está bom”, declara.

Outro setor destacado pelo estudo foi o de Software as a Service (SaaS). Com a popularização da IA, 70% das startups SaaS da região afirmaram que já lançaram ou pretendem lançar ferramentas com a tecnologia. A medida é importante porque existe risco de substituição: empresas podem deixar de assinar softwares para adotar a IA. “Para mim, o principal originador de oportunidades em 2025 é o SaaS. O mercado está crescendo na América Latina e existe uma quantidade interessante de negócios com receita”, conclui Requarth.

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