Sinônimo óbvio de sucesso, Samuel L. Jackson marcou seu rosto na história do cinema norte-americano com alguns dos mais icônicos personagens da cultura pop. E sua filmografia soma 14 bilhões de dólares nas bilheterias - tendo quase uma dezena de filmes em sua carreira que ultrapassaram a marca de bilionários. Mas ele nunca levou para casa um Oscar por atuação - apenas um honorário em 2022.
É claro, o ator já foi indicado: em 1995, ao encarnar o irritadiço e perspicaz Jules Winnfield, no filme de Quentin Tarantino 'Pulp Fiction - Tempo de Violência' (1994)-- que por sua vez, foi vencedor da estatueta de Melhor Roteiro Original -, na categoria de Melhor Ator Coadjuvante. Jackson, entretanto, perdeu para Martin Landau, que levou o prêmio por sua versão do ícone do terror Bela Lugosi, em 'Ed Wood' (1994) de Tim Burton. Uma vitória, no entanto, nunca aconteceu (assim como qualquer outra indicação).
Quando questionado recentemente sobre o valor de ser indicado à premiação mais popular da indústria do entretenimento, Samuel L. Jackson foi bastante realista e não teve medo de acabar gerando mais discussões sobre o assunto.
"Estamos na indústria tempo suficiente para saber que quando um cara diz que 'É uma honra ser indicado'...Não, não é. Honra mesmo, é ganhar", respondeu rindo durante uma conversa com a AP Entertainment. "Você recebe uma indicação e o pessoal fala, 'Ah, sim. Eu me lembro disso'. Ou a maioria esquece. Geralmente é uma competição que você não se voluntariou para participar. Eu não fui lá para me gabar. 'Me deixe fazer a minha cena para que você se lembre de quem eu sou'."
Ele ainda continua: "Eles te indicam e aí as pessoas falam: 'Qual era mesmo o filme pelo qual eles te indicaram? Qual é o nome daquela coisa?'. Daí quando acaba, eles têm dificuldade até de lembrar quem venceu".
Samuel L. Jackson começou cedo com os sucessos -- de pequenas participações em 'Um Príncipe em Nova York' (1988), 'Faça a Coisa Certa' (1989) até aparições rápidas em 'O Exorcista III' (1990) e 'Os Bons Companheiros' (1990), ele já aludia ao tipo de sucessos que logo viria marcar futuramente.
Um personagem de destaque veio em 'Jurassic Park' (1993), considerado o filme mais lucrativo de todos os tempos por alguns bons anos - até o lançamento de 'Titanic' (1997) mais especificamente.
No ano seguinte, em 'Pulp Fiction', o protagonismo finalmente veio. A interpretação do astro rendeu não apenas os elogios da crítica à época, mas também o selo de ícone cultural pelos últimos 30 anos. Mesmo hoje, as falas de Jules Winnfield continuam sendo referenciadas uma e outra vez em diferentes mídias: no cinema, na TV ou até na internet.
Mesmo com um personagem daquele em mãos, Samuel L. Jackson perdeu o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante em 1995 para Landau, que também havia entregado uma performance daquelas, homenageando um ícone do cinema de terror. Jackson, entretanto, nunca concordou muito com a decisão da Academia. Na verdade, em uma entrevista ao The Times em 2022, o astro declarou que "deveria ter ganhado aquela estatueta".
Durante a mesma entrevista, Jackson ainda disse que também deveria ter sido indicado em 1992 por Febre da Selva' (1991), fazendo referência aos indicados a Melhor Ator Coadjuvante daquela edição, Harvey Keitel e Ben Kingsley, por 'Bugsy' (1991). "Minha esposa e eu fomos assistir a 'Bugsy'. Eles foram indicados e eu não?".
Para o astro, atores negros não só são ignorados no Oscar, como também são premiados apenas por papéis moralmente questionáveis.
"Atores negros só ganham o Oscar por coisas desprezíveis na tela. Tipo o Denzel [Washington] vencendo por aquele policial tenebroso em 'Dia de Treinamento'. E as coisas incríveis que ele fez em 'Malcolm X'?", disse ainda em 2022.
Dois anos passados e um Oscar honorário vencido em 2022 por seus vários personagens e projetos icônicos ao decorrer de uma carreira de mais de 50 anos, a relação do astro do Universo Marvel não é lá das mais agradáveis com a Academia. E ele não tem vergonha nenhuma de admitir isso.
"Eu nunca vou deixar o Oscar se tornar um parâmetro do meu sucesso ou do meu fracasso como ator", declarou ainda naquele ano. "Meu termômetro de sucesso é a minha felicidade: Estou satisfeito com o que estou fazendo? Eu não estou fazendo filmes para correr atrás de uma estatueta. Sabe: [sussurrou] 'Se você fizer esse filme vai ganhar o Oscar'. Não, obrigado. Eu prefiro ser o Nick Fury. Ou me divertir sendo o Mace Windu com um sabre de luz nas minhas mãos".
Para além de um ator condecorado entre a crítica especializada, Samuel coleciona sucessos de bilheteria -- os mais famosos, é claro, são os filmes do MCU, onde o astro dá vida a Nick Fury, o agente da S.H.I.E.L.D que reúne e vigia os Vingadores pelo decorrer de toda a primeira fase da trama que perdura há mais de 15 anos. A aparição mais recente de Jackson como Fury foi na série 'Invasão Secreta', em 2023.
Além do chefão dos heróis, o ator também deu vida ao lendário Mestre Jedi Windu em uma das sequências mais lucrativas e aguardadas da história, 'Star Wars: Episódio I - A Ameaça Fantasma' (1999).
"Esse é o cara que eu escolho ser e eu estou bem feliz com isso. Eu estou em paz, porque é quem eu quero ser. Eu sou o cara que fala as frases estampadas em camisetas. Tem atores que passam a carreira inteira e as pessoas não sabem dizer uma frase dita por eles em um filme. As pessoas vão ver um filme meu para conferir o quão maluco eu estou ou quantas vezes eu falo um palavrão. Qualquer coisa que faça eles garantirem uma cadeira no cinema", complementou, por fim.
Com ou sem Oscar, a verdade é que, hoje, ninguém passa o recorde de Samuel. Com uma filmografia que chega quase aos 15 bilhões de dólares, não tem Robert Downey Jr., nem Tom Cruise que consiga chegar perto do astro que consegue viajar de um sucesso para o outro com exímia facilidade.
De uma comédia sobre as desigualdades na Nova York dos anos 1980 em 'Faça a Coisa Certa' (1989), para um drama sobre a defesa de um homem negro que se vingou contra o assassino branco da filha em 'Tempo de Matar' (1996), para então uma saga estelar em 'Star Wars: Episódio I - A Ameaça Fantasma' (1999), uma animação sobre o futuro esquecido de super-heróis na década de 1960 em 'Os Incríveis' (2004) até chegar no Universo Marvel, um dos maiores acontecimentos da indústria americana.
A estatueta pode até não ter vindo, mas o lucro nunca deixou de aparecer para Samuel, que, nada surpreendentemente, decidiu ir contra a maré de Hollywood e "ignorar" aquele que é considerado o maior símbolo de sucesso na indústria cinematográfica.
Confira abaixo o momento em que a pequena Anna Paquin apresenta os indicados e o vencedor a Melhor Ator Coadjuvante no Oscar de 1995, quando Samuel L. Jackson perdeu para Martin Landau.
*Com edição de Luís Alberto Nogueira