'Duro de Matar' (1988) é um dos maiores produções do cinema de ação de todos os tempos e há também quem o coloque no topo do ranking de melhores filmes de Natal já feitos, já que toda a ação é permeada pela data - basta ver os memes a respeito de "tiros ouvidos no Nakatomi Plaza" todos os anos inundando as redes sociais entre os dias 24 e 25 de dezembro para entender.
Também ficou marcado por transformar Bruce Willis em um dos grandes astros do cinema do seu tempo, interpretando de forma perfeita o policial de Nova York John McClane, perdido em Los Angeles para tentar salvar seu casamento, e que acaba enfrentando na unha um bando de assaltantes disfarçados de terroristas comandando pelo calculista Hans Gruber (Alan Rickman).
Mas, por pouco, essa versão clássica para 'Duro de Matar' nunca viu a luz do dia. Simplesmente por que entre muitas idas e vindas da produção, os responsáveis e o estúdio tinham outro ator em mente para viver McClane - o já consagrado Clint Eastwood, cujo currículo contava com diversos filmes do gênero, em especial os da franquia 'Dirty Harry', nos quais ficou eternizado como o detetive polêmico Harry Callahan.
Segundo contou o roteirista Jeb Stuart, em entrevista muitos anos depois do lançamento de 'Duro de Matar', o script foi confeccionado imaginando Eastwood realizando as falas do protagonista. Porém, o astro não se sensibilizou e disse "não" logo na primeira abordagem dos produtores.
"Clint disse a eles: 'Não entendo o humor'. O que, para mim, foi um choque, porque se você ouvir muitas dessas palavras, Eastwood é uma das poucas pessoas que poderia ter dito uma frase como 'Venha para a Costa [ Los Angeles], divirta-se, dê umas boas risadas'."
O escritor se refere a um dos momentos mais icônicos do filme (confira abaixo), em que John McClane se mete em um duto de ventilação para escapar do fogo cerrado dos bandidos. A pitada irônica, de forma quase impassível rindo da própria desgraça e de situações tensas, era uma característica de Clint Eastwood nos seus filmes.
Vale dizer também que foram feitas várias modificações do material original no qual é baseado 'Duro de Matar', o romance policial 'Nothing Lasts Forever' ('Nada Dura para Sempre', em tradução literal). McClane no livro era um tira aposentado - no filme, ele está na ativa - e viaja a Los Angeles para encontrar a filha e não a esposa. Ou seja, mais adequado para Eastwood cinquentão à época do que para Willis, que tinha 33 anos.
A verdade é que depois da negativa do astro, os produtores ficaram com a bússola quebrada e passaram a oferecer 'Duro de Matar' para meia Hollywood, incluindo os grandes astros de ação da década de 1980, como Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenegger, trabalhando com diversas versões da história. Bruce Willis acabou sendo a décima - e reza a lenda - última opção.
Escrevendo certo por linhas tortas, o projeto encontrou rumo com o ator, que fez uso do seu timing cômico perfeito, adquirido nas várias temporadas da série 'O Gato e o Rato'. Também mostra que é feito de carne e osso em vários momentos, saindo da aventura todo arrebentado, algo pouco factível para os heróis daqueles tempos. Por isso, é difícil imaginar outro ator se não Willis no papel - nem mesmo a lenda Eastwood.
Nas décadas seguintes, Bruce Willis - aposentado em 2020 por conta de um diagnóstico de afasia e atualmente lutando contra a demência - ainda interpretou John McClane em outros quatro filmes, transformando 'Duro de Matar' em uma das franquias mais bem-sucedidas do cinema de ação. A maior prova de que, em Hollywood, muitas vezes os últimos realmente são os primeiros.
Confira a seguir o trailer do clássico de ação (e de Natal) 'Duro de Matar' (1988).