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Madonna, Maria Cândida, Nany People e outras se unem em campanha contra etarismo
Campanha visa promover a discussão e a desconstrução do etarismo e nas próximas etapas abordará a gordofobia e a pressão estética
3 min de leituraNomes como Madonna, Luiza Trajano, Ana Paula Padrão, Nany People, Claudia Matarazzo, Maria Cândida, entre outros, são estrelas da campanha "Você me vê como eu me vejo?" que propõe uma reflexão sobre o etarismo, que atinge principalmente mulheres. Todas as participantes da campanha são mulheres com mais de 50 anos que são reconhecidas por suas atuações em diferentes áreas e por romperem com padrões socialmente construídos.
Em conversa com Marie Claire, Maria Cândida afirmou que o etarismo recai sobre mulheres principalmente por causa do machismo e do patriarcado que estão presentes em nossa sociedade. "Nós sempre estivemos neste lugar e não tem muita saída, quando vai chegando aos 40 anos a mulher fica com medo. Hoje a realidade está mudando, mas sempre tivemos muito medo porque ouvimos que seria terrível chegar nessa idade. Eu mesma sempre me escondi muito, mas hoje não escondo mais nada por uma questão ideológica e porque quero ajudar essas mulheres a se libertarem. Hoje se escuto que sou velha não estou nem aí, quero que exploda e quero revolucionar".
A campanha faz parte de um movimento anti preconceito chamado "Em Desconstrução" e anteriormente já discutiu temas como racismo, capacitismo e lgbtfobia. A nova fase falando sobre etarismo será lançada no dia 27 de fevereiro e trará uma exposição no metrô de São Paulo com fotos de Madonna, Luiza Trajano, Ana Paula Padrão, Nany People, Claudia Matarazzo, Regina Volpato, Maria Cândida, Babi Xavier, Renata Falzoni, Cris Guerra, Cristiana Oliveira e Cláudia Alencar.
O Instituto Envolver Mover Tranformar (IEMT) é o responsável pela campanha, e seu fundador, Marcos Guimarães, falou sobre a discriminação contra pessoas mais velhas. "Embora etarismo possa se referir ao preconceito contra qualquer grupo etário, a discriminação por idade está principalmente associada às pessoas mais velhas, à terceira idade, rotuladas como lentas, fracas, dependentes e senis. O problema afeta principalmente as mulheres, pois o etarismo vem atravessado pela pressão estética e o machismo”.
Durante a conversa com Marie Claire, Claudia Matarazzo falou sobre a reação de outras pessoas quando resolveu assumir seus cabelos grisalhos durante a pandemia. Ela relatou que hoje, aos 64 anos, não se sente velha, mas na verdade se sente madura.
"Eu amei o tal grisalho mas foi uma coisa muito doida. Primeiro meu irmão me chamou de louca e falou que eu estava parecendo uma senhorinha. Mas eu tenho 64 anos e sou uma senhorinha mesmo, quem eu quero enganar? Não acho que estou velha porque a velhice depende da saúde e da alma da pessoa, eu estou madura. E na verdade passamos a maior parte da nossa vida na maturidade, ninguém com mais de 35 anos é jovem mais. As pessoas não aceitam e principalmente os homens não gostam de mulheres que se sintam libertas, não gostam que estejamos seguras e a nossa segurança incomoda os homens porque eles são mais inseguros do que as mulheres".
Nany People também relacionou o etarismo a uma questão cultural do Brasil, destacando que ainda somos um país jovem e com uma cultura descartável. "Tudo é feito para o jovem comprar e depois desapegar. A indústria funciona assim e não temos uma cultura que valoriza a idade e o conhecimento, somos ignorantes. Quando uma pessoa é madura é libertador e ela não precisa de muita coisa. No meu caso, que sou uma mulher trans, o não sempre fez parte da vida. A primeira coisa que ouvi quando era criança é que não podia ou não era assim. A maturidade se dá pelo seu poder de contemplar o que conquistou. Se você está feliz você não teme os 50 anos. Eu aos 50, por exemplo, fiz uma biografia e três festas".
A campanha "Você me vê como eu me vejo?" já abordou o capacitismo e ainda engloba outros dois temas para dar visibilidade, promover discussões e propor ações concretas em torno de preconceitos estruturais. Depois da discussão sobre etarismo, as duas últimas fases vão focar na gordofobia e na pressão estética. Nesta fase da campanha, além da exposição no metrô, está previsto o leilão "Lance do Bem", que terá renda destinada ao Retiro dos Artistas e outras instituições.
Por fim, Marcos destacou que a conversa acerca desses temas precisa acontecer e é urgente, para que essas questões sejam normalizadas e desconstruidas. "Cada imagem da campanha é uma história que é contada. Esses preconceitos são muito cruéis com qualquer pessoa, mas especialmente mulheres. Nossa intenção é conseguir fazer a pessoa incorporar na vida dela essa realidade e a sua percepção sobre o próprio preconceito. Por isso convidados para uma reflexão para que seja iniciada uma conversa sobre auto responsabilidade, acho que essa é a chave de tudo".