Cultura
Lucinha Lins fala sobre libido e maturidade: 'Não fica ruim, mas diferente'
Em cartaz com a peça 'Meninas Velhas', a atriz fala sobre etarismo, vaidade e sexo após os 60 anos. Conta ainda que prefere não se arriscar em grandes procedimentos estéticos. 'Não quero ficar esquisita. Quero ficar velha como qualquer pessoa'
9 min de leituraLucinha Lins tem celebrado a vida ao lado de Barbara Bruno, Nadia Nardini e Sônia de Paula em Meninas Velhas, peça que fica em cartaz no Teatro São Cristóvão Saúde, em São Paulo, a partir de 1º de julho. A montagem conta a história de quatro amigas que põem em xeque temas como etarismo, vaidade e relacionamento após os 60 anos.
O texto é assinado pelo dramaturgo e ator Claudio Tovar, com quem Lucinha é casada há 39 anos. O amor e a torcida um pelo outro, conta, pode ser a chave do relacionamento duradouro.
"Sou muito apaixonada pelo meu marido, apesar desses anos todos. Sou completamente tiete e fã dele", diz. "Sou muito privilegiada por ter a família que eu tenho. O meu marido, com letra maiúscula, é o máximo. Eu encho a boca para dizer", derrete-se.
Assim como o relacionamento, o sexo também acompanhou a evolução do casal. "Você não pode querer que uma mulher de 70 anos tenha a mesma energia hormonal para sexo de uma de 20. Isso é uma loucura", observa. "Como diz o poeta: 'Toda maneira de amar, vale a pena'. É isso que vai levando. É o dia a dia. Vamos nessa. Ruim não é não. Não vai ficar nunca, mas vai ficar diferente", avalia a atriz.
Aos 69 anos, completados em março, Lucinha garante que sempre se aceitou e prefere não se render a procedimentos estéticos agressivos. "Acho que todo mundo tem direito a se cuidar. Mas fico muito assustada com a quantidade de procedimentos que gente muito jovem está fazendo. Porque quando chegar nos 40, 50 anos, não tem mais pra onde ir", acredita. "Você fica com cara dos outros. Não quero ficar esquisita, eu quero ficar velha como qualquer pessoa vai ficar. Deixa acontecer".
Confira o bate-papo completo abaixo:
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MARIE CLAIRE Você está em cartaz com a peça Meninas Velhas, que fala sobre os “novos 60”, e discute uma nova forma de viver a fase madura da vida. O que é essa nova forma de viver?
LUCINHA LINS Não é uma nova forma de viver. Os tempos mudaram, né? Os avós de hoje vão surfar na praia com seus netos, a avó vai com a neta ao teatro ou faz aula de yoga junto. As coisas mudaram bastante, os velhos de hoje não são os de 40 anos atrás, aposentados, infelizes em casa esperando a morte chegar. Os velhos de hoje são, às vezes, mais jovens do que muitos jovens que a gente conhece. A peça lida muito com uma maneira de pensar que é a minha, por exemplo, no meu dia a dia particular, com o hoje de cada um de nós. Apesar da idade dessas quatro senhoras que começam no palco na faixa dos 60 e vão envelhecendo à medida que a peça avança, ela não é melancólica, não fica presa ao passado, não fala de coisas que já aconteceram. Ela lida com o hoje, que é sempre o melhor dos tempos. E é o que pode te preparar para um futuro próximo, seja ele qual for.
MC Como é a relação entre essas mulheres?
LL Elas normalmente se encontram em uma praça, onde implicam uma da outra, discutem, brigam e são felizes. Esse é o grande barato do nosso espetáculo. É a lealdade, a amizade antes de mais nada. E é o hoje. O hoje é tratado de uma maneira espetacular. Sendo bem vivido, ele prepara um amanhã bem melhor. O que nos surpreende muito é que temos uma plateia diversificada. É um espetáculo que pega todas as idades. Nós achamos que a nossa plateia seria dos 45 anos pra cima. Isso não acontece. Temos uma plateia muito jovem que é encantadora e vem falar com a gente no final.
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MC Ano que vem você completará 70 anos. Como lida com o envelhecimento?
LL Quando eu fiz 15, as pessoas disseram: ‘Nossa, 15 anos. Que linda’. Quando eu fiz 20: ‘Nossa, já tem 20, como se sente?’. Quando fiz 30, a mesma coisa. Quarenta, 50, 60 e agora 70. Bom, eu ainda não tenho 70, eu fiz 69, mas eu já estou tendo que responder como é ter 70 anos. Eu não sei responder a essa pergunta, eu sei que eu estou envelhecendo, sem sombra de dúvida. Isso é impossível de não acontecer. Me sinto muito bem. Claro que agora antes de trepar em uma árvore que eu tentei até uns cinco anos atrás, vou olhar e dizer ‘acho que é melhor não’. A cabeça da gente fica no 30. Fica lá atrás. A juventude da nossa cabeça é diferente da do nosso corpo. E é claro que a minha pele ficou uma porcaria. Tenho mancha de sol porque fui “rata de praia”, são as consequências. Não tenho mais a energia que eu tinha, mas faz parte do dia a dia e você vai aprendendo a lidar. Você não fica velho de um dia para o outro, você vai envelhecendo. Sem saudosismo, não tem nada disso na minha vida, ao contrário. Um dia alguém falou assim ‘Se você voltasse atrás numa época boa da sua vida, num momento maravilhoso. Qual seria?’. Para lugar nenhum. Eu já vivi aquilo. Eu posso falar de coisas maravilhosas da minha vida. Eu também posso te fazer chorar, porque só não tem problema quem não conta. Que bom que eu tenho tantas lembranças. Olha que vida vivida, quantas aventuras. Quantas coisas incríveis aconteceram na minha vida, mas eu não quero voltar. Estou preocupada com hoje, se dou conta do que eu tenho que fazer, da minha felicidade, do que eu posso produzir, do meu trabalho. Hoje é mais interessante do que eu voltar lá atrá. Essas lembranças estão comigo. Eu quero o hoje e daqui para frente. O novo é sempre assustador e é um desafio maravilhoso.
MC Você é adepta a procedimentos estéticos? O que pensa sobre?
LL Olha, eu acho que todo mundo tem direito a se cuidar. Tenho um amigo médico que fala assim: ‘A partir dos 40 passa lá no consultório para dar um beijinho assim no cantinho do olho, depois você dá um beijinho no pescoço, você dá um beijinho nos peitos’. Ele brinca que são pequenos procedimentos para que você fique bem. Eu fico muito assustada com a quantidade de procedimentos que gente muito jovem está fazendo. Porque quando chegar 40, 50 anos, não tem mais pra onde ir e aí, as coisas podem dar problema. Não sei o que vai acontecer com essas pessoas, mas eu acho que procedimentos que te fazem se sentir bem, sem bagunçar, sem mudar suas feições, está bom. Se você tem um nariz com um osso horroroso, dá um jeitinho nele, mas não queira fazer igual o nariz da Angelina Jolie porque talvez não fique bem em você. Eu tenho muito medo de procedimentos. Já fiz algumas coisas muito discretas, com muito critério. E agora vamos ficar velha, não há o que fazer. Porque quanto mais velho você ficar esticando para lá e para cá, você fica com a cara dos outros. Eu não quero ficar esquisita, eu quero ficar velha como qualquer pessoa vai ficar. Deixa acontecer.
MC Gostaria de falar um pouco mais sobre sua personagem na peça, a Zukeika. O que vocês têm em comum?
LL A Zuleika é um presente. Ela esperou a vida inteira por um grande papel, fez tablado, fez todos os cursos de teatro que você puder imaginar, e se acha uma atriz incrível, mas não passa de uma atriz medíocre. Ela não é tão talentosa assim, mas é apaixonada por teatro, se veste como personagens e sai na rua. Fala como se estivesse dando um texto maravilhoso, mas só está batendo papo com as amigas, é uma figura. As amigas conhecem e embarcam na dela e a tratam normalmente. É uma delícia de fazer. Ela me dá trabalho e é cansativa, é uma canastrona, mas é linda a personagem. Todas são muito bonitas e têm características muito especiais e muito engraçadas. Todas emocionam de alguma maneira a plateia.
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MC Acredita que envelhecer no meio artístico é mais difícil para as mulheres do que para os homens?
LL Eu acho que tem personagens para todas as idades, mas sem dúvida eu hoje não poderia ser a mocinha de Roque Santeiro. Eu posso ser a mãe, talvez a avó da mocinha. Acho que as coisas têm seu tempo para acontecer. Faço parte da velha guarda, não da nova. Vai ter sempre algum papel, mas talvez você não seja a grande protagonista. A juventude talvez tenha uma chance maior, mais possibilidades, mas tem papel para todo mundo. É mais difícil para uma mulher mais velha determinados papéis, eu acredito que para os homens também. A juventude é linda e o mais velho tem outo tipo de beleza. É completamente diferente. Acho que a dificuldade de um ator mais velho é bem parecida com a de uma mulher mais velha, as cobranças são iguais.
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MC Você é casada há quase 40 anos. Acredita que existe um segredo para se relacionar com uma pessoa por tantos anos?
LL No ano que vem eu faço 70 anos e 40 anos de casada. Esse ano, em agosto, eu e o Tovar completamos 39 anos de casados. Que luxo, não é? Quando a gente fez bodas de prata eu disse assim: ‘Marido, será que a gente chega em bodas de ouro?’ Ele respondeu: ‘Ih mulher, a gente vai estar tão velho. Acho melhor não’ (risos). Então vamos deixar rolar para ver. Fui casada 11 anos com o Ivan [Lins], comecei a namorar com ele aos 15 anos e me casei com 18. Quer dizer, 15 anos da minha vida, eu tive um casamento lindo, com filhos, com tudo. E um dia nos separamos e eu acabei me casando de novo e tive mais filhos e estou casada há 39 anos. Acho que eu sou uma moça casadoira. Mas são pessoas diferentes, amores tão diferentes. Conviver é muito difícil. Olhar o outro é tão importante.
A pandemia talvez nos tenha feito perceber o outro com um pouco mais de atenção. Sem o outro a vida seria muito pobre, muito triste. Eu sou muito apaixonada pelo meu marido, apesar desses anos todos. Sou completamente tiete e fã dele, tenho uma admiração muito grande. Sou muito privilegiada por ter o marido que eu tenho, a família que eu tenho. Ele é a figura mais importante na minha vida, fora os meus pais. Nós somos uma família muito grande e amorosa, mas o meu marido é o máximo.
MC E a libido da mulher após os 60?
LL Tudo se transforma. A pele não fica ruim? A gente não vai ficando toda enrrugadinha? A mão não vai ficando feia? Não tem mancha no corpo? A libido acompanha isso tudo. É normal. É chato? É chato. A menopausa é um desastre. Eu acho é chato, mas machuca a mulher essa mudança, isso é hormonal. Você não pode querer que uma mulher de 70 anos tenha a mesma energia hormonal para sexo de uma de 20. Isso é uma loucura. Não existe. Mas como diz o poeta: 'Toda maneira de amar, vale a pena'. É isso que vai levando. É o dia a dia. Vamos nessa. Ruim não é não, não vai ficar nunca, mas vai ficar diferente. Acho que os homens sofrem mais que as mulheres neste aspecto. Na medida que vão envelhecendo é mais visível nos homens do que nas mulheres. Mais do que nunca você tem que falar sobre isso com seu companheiro e ele tem que falar com você. Isto é uma coisa vista, sentida e reorganizada na vida juntos. Ninguém faz amor sozinho. O casal fala sobre isso, vive, muda e experimenta o possível e assim caminha a humanidade. Não é um bicho de sete cabeças, é um aprendizado, como tudo na vida.
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