Cientistas descobriram que as baleias-francas-do-sul, da espécie Eubalaena australis, vivem duas vezes mais do que se pensava até então – podendo chegar a 150 anos. Um estudo publicado na revista Science Advances mostrou que sua vida útil real pode ultrapassar os 100 anos, e 10% delas podem viver mais de 130 anos.
As baleias são os animais de maior longevidade no reino animal, sendo que várias espécies vivem mais de 100 anos. Algumas baleias-da-groenlândia (Balaena mysticetus), por exemplo, vivem mais de 200 anos no Ártico.
Para medir a idade das baleias, geralmente é preciso analisar um animal recém-falecido, já que as técnicas envolvem contar as camadas de cera de ouvido (que aumentam a cada ano) e avaliar a transformação química nas proteínas oculares do animal.
Mas a nova pesquisa analisou animais em vida usando uma técnica diferente: fotos de baleias fêmeas ao longo de várias décadas. “Baleias individuais podem ser reconhecidas ano após ano a partir de fotografias. Quando elas morrem, deixam de ser fotografadas e desaparecem”, explicaram os autores Greg Breed, da Universidade de Alaska Fairbanks, e Peter Corkeron, da Universidade Griffith, em texto ao The Conversation.
Com as fotos, eles desenvolveram as chamadas "curvas de sobrevivência", que ilustram a probabilidade de indivíduos de uma espécie sobreviverem ao longo do tempo. Assim, eles estimaram a probabilidade das baleias desaparecerem das fotos conforme envelhecem e, com isso, mediram o potencial máximo de vida.
A espécie vive em oceanos abaixo do equador e, no litoral brasileiro, pode ser encontrada durante o inverno e a primavera, quando migra da Antártica para reproduzir, concentrando-se especialmente em Santa Catarina.
Até então, acreditava-se que essas baleias viviam bem menos, entre 70 e 80 anos, assim como outra espécie da família Balaenidae, as baleias-francas-do-atlântico-norte (Eubalaena glacialis). Nativas da costa atlântica da América do Norte, elas também têm uma expectativa de vida diferente do que se pensava, mas raramente passam dos 50 anos.
"Essas duas espécies estão intimamente relacionadas – há apenas 25 anos eram consideradas uma única espécie – portanto, esperávamos que tivessem uma expectativa de vida igualmente longa", explicaram os pesquisadores.
A pesquisa mostrou que sua expectativa de vida é de 22 anos, provavelmente devido à morte por emaranhamento em equipamentos de pesca e colisões com navios, sendo que essas são as baleias de grande porte mais ameaçadas de extinção.
A idade em que as baleias começam a se reproduzir e o intervalo de tempo entre filhotes é influenciado por sua expectativa de vida. Por isso, entender sua longevidade é importante para protegê-las. "As estratégias de conservação e gerenciamento que não forem planejadas adequadamente terão uma chance maior de fracasso. Isso é especialmente importante em função dos impactos esperados da desestabilização climática", afirmaram Breed e Corkeron.