Há um ano, a JAMA Pediatrics (uma das revistas da Associação Médica Americana) publicou o artigo Intervenções não farmacológicas para aumentar a duração do sono em crianças saudáveis: uma revisão sistemática e meta-análise.
No artigo, nove pesquisadores da Universidade de Londres pesquisaram em vários bancos de dados eletrônicos médicos e psicológicos todos os estudos sobre a duração do sono infantil publicados em mais de 70 anos.
Eles encontraram mais de 28 mil estudos no total. Após a exclusão dos duplicados, e daqueles em que o título e o resumo eram suficientes para constatar que não eram pesquisas bem-feitas, restaram 411 que tiveram que ser lidos e avaliados com profundidade. A maioria foi descartada por não atender aos requisitos mínimos para serem confiáveis. Por fim, foram detectados 45 estudos, apenas 45 na história da ciência, sobre métodos para fazer as crianças dormirem mais (sem recorrer a medicamentos), com qualidade suficiente para fornecer resultados confiáveis.
A conclusão apresentada no artigo foi de que “as intervenções para melhorar o sono em crianças saudáveis foram associadas a um pequeno aumento na duração do sono (dez minutos por noite)”. Isso mesmo: dez minutos é a eficácia média geral em crianças e adolescentes. Se dividirmos por idade, aqueles com mais de 6 anos dormiram mais de 11 minutos extras. Mas em crianças menores de 5 anos, os diferentes métodos mal alcançavam cinco minutos e meio.
A propósito, o método que funciona (cerca de 46 minutos de sono extra) e aumenta a média nas crianças mais velhas é simplesmente ir para a cama mais cedo. Um simples “desligue o computador e vá para a cama” pode fazer com que as crianças mais velhas durmam mais, mas não resolve a questão no caso das menores.
E os cursos, workshops e especialistas que oferecem métodos infalíveis para ajudar as crianças a dormir? Bem, deixe-os provar isso então. É fácil “vender fumaça”, ou seja, algo que ainda não se concretizou. A ciência, porém, mal conseguiu ganhar dez minutos.
Outro fator importante é a duração do acompanhamento. Os estudos que acompanharam os participantes durante menos de seis meses pareceram mais eficazes: cerca de 15 minutos. Mas, depois de seis meses, o sono extra caiu para um minuto e meio; e depois de um ano, não durou nem um minuto. Isso ajuda a entender por que alguns pais parecem tão entusiasmados de início. “Só fomos ao especialista há um mês e ele já está dormindo mais 15 minutos. Se continuarmos assim, ele vai dormir por horas”, dizem.
Na realidade, ele dormirá cada vez menos e, passados seis meses, não haverá mais vestígios desse método “eficaz”. Além disso, vocês ainda vão ter de arcar com a vergonha de confessar que pagaram uma fortuna por nada.