• Naíma Saleh
Atualizado em
prematuro (Foto: Thinkstock)

Em 2013, entre as 6,3 milhões de mortes de crianças de até 5 anos, quase 1,1 milhão foram causadas pela prematuridade, segundo um estudo publicado na renomada revista científica internacional Lancet. Dessas, 965 mil aconteceram nos primeiros 28 dias de vida e 125 mil, do primeiro mês aos 5 anos de idade. Esse resultado coloca a prematuridade como maior causa de morte infantil no mundo. As duas outras principais ameaças à vida das crianças são pneumonia (responsável por 935 mil óbitos) e complicações decorrentes do próprio parto (720 mil óbitos), como apontaram os resultados. A pesquisa foi realizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em parceria com universidades dos Estados Unidos e do Reino Unido.

“Prematuridade não é apenas causa de morte, também é a principal causadora de sequelas nos bebês, como a paralisia cerebral”, explica o obstetra Paulo Gallo de Sá, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Por volta do sexto mês, o bebê já está praticamente formado. No entanto, o pulmão é o último órgão que amadurece, por isso, o maior risco da prematuridade é que o bebê nasça com problemas respiratórios.

Desde 2000, a taxa de mortalidade infantil no mundo caiu de 76 para 46 mortes a casa 1000 nascimentos. A melhora desse índice se deve tanto ao investimento para o cumprimento das Metas do Milênio quanto ao sucesso no combate a doenças infecciosas, como diarreia, pneumonia, sarampo e malária. Um dos autores do estudo, o professor Joy Lawn, da Escola de Higiene & MedicinaTropical de Londres, declarou que: “O sucesso que nós vimos na batalha contínua contra doenças infecciosas demonstra que também podemos ser bem sucedidos se investirmos na prevenção e no cuidado com o nascimento prematuro”.

Os autores argumentam que dois terços dessas mortes poderiam ser evitadas sem que as crianças precisassem ser levadas a uma unidade de tratamento intensivo. O tempo de internação depende do grau de prematuridade do bebê. Quanto mais novo, maior o risco. Por exemplo, um bebê que nasce entre 32 e 36 semanas tem menos risco de complicações do que um bebê que nasce de com menos de 32 semanas, o que já é considerado uma prematuridade grave. Quando o bebê nasce com menos de 28 semanas é que ele corre mais risco, por isso, essa faixa é considerada como prematuridade extrema. “Os bebês geralmente têm alta quando atingem 2,2 kg e precisam ter condições de estar sugando naturalmente, mamando sem maiores transtornos”, explica Gallo de Sá. O aleitamento materno e o método canguru, no qual o bebê fica em contato pele a pele com a mãe e o pai, são alguns artifícios eficazes no tratamento de bebês prematuros.

Os resultados da pesquisa apontam ainda que Macedônia, Eslovênia, Sérvia, Dinamarca e Reino Unido detêm os maiores índices de morte de prematuros. Nos últimos dois casos, as taxas podem ser atribuídas à idade avançada das mães, um dos fatores de risco para o nascimento antes da hora. “Principalmente acima dos 40 anos, há maior chance de a mulher desenvolver diabetes gestacional, pré-eclâmpsia e descolamento de placenta, todos fatores de risco para a prematuidade”, explica Gallo de Sá. De acordo com o obstetra, o aumento do uso de técnicas de reprodução assistida é outro fator que aumentou o número de prematuros.  “Com elas, o número de gestações gemelares aumentou cinco vezes, o que é um fator de risco muito alto”, explica.

No Brasil
No que se refere às taxas de morte por prematuridade, nosso país ocupa o 103º lugar em um ranking composto por 162 países – foram 9 mil óbitos contabilizados no ano passado. Segundo o levantamento “Prematuridade e suas possíveis causas”, apoiado pela Unicef e pelo Ministério da Saúde, divulgado no Brasil no ano passado, 11,7% de todos os partos realizados no Brasil são prematuros. E essa taxa vem aumentando.

Um estudo realizado pela Universidade de Campinas (Unicamp), que  acompanhou durante um ano mais de 30.000 nascimentos em 20 maternidades de referência das regiões Sul, Sudeste e Nordeste, chegou a um número bem parecido: 12,3%. A intenção dos pesquisadores era apontar quais são os principais gatilhos do parto prematuro no Brasil, mapeando 100 fatores de risco. Tanto para mulheres passando por sua primeira gestação quanto para as que já haviam ficado grávidas, a gravidez múltipla, o encurtamento do colo do útero, malformação formação fetal, sangramento vaginal e fazer menos do que seis consultas durante o pré-natal estão entre os principais agravantes. No grupo das mulheres que já passaram  por uma gestação anterior, também precisam ser levados em consideração parto prematuro e aborto prévios, além de aumento do volume amniótico ao redor do feto. Para mães com menos de 19 anos sem um parceiro, que fazem uso do cigarro e apresentaram algumas infecções durante a gestação, o risco de parto prematuro também se mostrou maior.

Segundo um dos autores do experimento, Renato Passini Júnior, do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), “a pesquisa mostra que parte dos riscos pode ser identificada pela mulher e pelos serviços de saúde a tempo de o médico intervir para ou corrigir os problemas ou tentar minimizar suas consequências”. Os resultados apontam ainda que 80% dos nascimentos prematuros aconteceram entre a 32ª e a 36ª semana de gestação e 7,4% antes da 28ª semana.

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