• Renata Reps
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O pós-parto é um período desafiador para as mulheres. Arcar com a responsabilidade de zelar por uma vida, totalmente dependente, é um desafio e tanto para a nova mãe. Mas não é o único. Existe ainda a preocupação de lidar com as novas emoções e de restabelecer o corpo, que encarou muitas transformações ao longo da gestação. Para se ter uma ideia, o útero de uma mulher que nunca teve filhos pesa cerca de 90 gramas e tem o tamanho de uma pera. No último trimestre da gravidez, ele pode chegar a um quilo para abrigar um bebê de 3,5 kg e 52 cm. Isso significa que o abdômen cresce até 11 vezes! Por essa e outras razões, é preciso respeitar um período de cerca de 40 dias de recuperação, depois do parto. É o chamado puerpério, conhecido como resguardo ou quarentena, em que nem tudo é permitido – mas nem tão proibido como alardeavam nossas avós.

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Casal com o bebê no colo na quarentena (Foto: Corbisimages)

Essa fase, digamos, peculiar começa com a queda brusca dos níveis hormonais no pós-parto, capaz de provocar desânimo e cansaço, o que torna imprescindível o apoio do pai e da família. Aproximadamente 80% das novas mães experimentam sentimentos de tristeza e insegurança. Esse estado, que costuma durar até 15 dias, é classificado pelos médicos como baby blues. Se o mal-estar persistir e vier associado a problemas de apetite e de sono, falta de concentração e de interesse em qualquer atividade, pode se tratar de depressão pós-parto, que requer auxílio médico.

"Nos primeiros 42 dias, é quase impossível engravidar e a chance continua baixa enquanto a mulher amamentar de forma exclusiva, por livre demanda, pois isso inibe a ovulação. Mas, a partir da 7ª semana, o risco de gravidez aumenta. Por isso, a mulher deve adotar um método contraceptivo que não interfira no leite, como o DIU de cobre ou com progesterona ou a minipílula, à base do mesmo hormônio.""

 

Em relação às condições físicas da nova mãe, nos primeiros dias costuma aparecer um sangramento de coloração avermelhada que, ao longo das semanas, passa a um tom marrom, amarelado e, por fim, transparente. O fluxo será mais intenso se o parto tiver sido normal. Isso porque a retirada da placenta estimula a expulsão dos tecidos remanescentes, promovendo a regeneração uterina.

Esse processo de recuperação torna o sexo proibido no puerpério, mas não significa que você não possa namorar seu parceiro. Use a imaginação e invista em carícias, masturbação, sexo oral... Tente não encanar com sua forma física nesse momento. Lembre-se de que você terá ajuda extra para resgatar o antigo corpo: o aleitamento, que não só favorece o recém-nascido, como induz a liberação de hormônios para que o útero retorne ao tamanho normal. “Quando a criança suga o seio, a glândula hipófise, localizada no cérebro, recebe um estímulo para produzir o hormônio ocitocina que, entre outras funções, promove a redução do volume abdominal”, esclarece o ginecologista Walter Amaral, da Escola Superior de Ciências da Saúde (DF).

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Devido a esse processo, é normal sentir cólicas nas primeiras semanas. Os benefícios de oferecer o peito vão além: um estudo da Coordenação dos Institutos de Pesquisa da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo provou que amamentar reduz o risco de câncer de mama, de ovário e osteoporose.

Outra boa estratégia para recuperar a forma e a saúde física é manter uma dieta equilibrada. A ingestão de minerais, como o ferro e o cálcio, continua fundamental. Portanto, as carnes, principalmente as vermelhas, e os laticínios são mais do que bem-vindos. Também é importante beber de dois a três litros de água por dia, especialmente um copo grande antes e outro depois de amamentar. “Frutas com cascas, como maçã, ameixa e pera, ajudam a prevenir ou a reverter a constipação, comum nessa fase por conta do útero aumentado, que comprime o intestino”, esclarece o obstetra Artur Dzik, diretor da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana.

Evite refeições pesadas e gordurosas, porque elas passam para o bebê pelo leite e o sistema digestivo dele ainda não está preparado para alimentos complexos. Segundo o ginecologista Alberto D’Áuria, diretor médico do Banco de Sangue do Cordão Umbilical (SP), alguns itens devem ser evitados no primeiro mês por provocarem cólicas na criança: café, chocolate, refrigerantes à base de cola, verduras escuras, talo de alface, feijão e tomate.

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CRENÇAS POPULARES

Mas também não precisa ficar só na canja de galinha durante toda a quarentena. Esse é um mito antigo. O prato é saudável e equilibrado, mas não precisa ser o único do cardápio! Aliás, muitas lendas ainda pairam sobre o imaginário popular. É o que confirma uma análise de entrevistas da Unifesp feita com 300 mulheres que haviam acabado de ter filhos. As respostas revelaram que procedimentos sem validação científica até hoje pautam o comportamento das mães. Um exemplo é acreditar na necessidade de ficar 13 dias sem lavar a cabeça, para não interromper o sangramento no pós-parto e, assim, correr o risco de morrer ou ficar louca.

Uma revisão de estudos realizada na USP de Ribeirão Preto sugere que essa e outras crenças têm origem em uma tese antiga e infundada de que o útero teria comunicação com todas as partes do corpo e a presença da menstruação seria necessária para manter o organismo funcionando bem. Também por isso algumas mulheres creem que precisam ficar na cama por semanas, após dar à luz, e evitar a ingestão de frutas ácidas.

Para deixar claro quais são, de fato, as precauções necessárias nessa fase, CRESCER consultou um time de especialistas. Leia abaixo, mas considere que o estado geral da mulher é o melhor parâmetro para determinar o que pode ou não ser feito.

O QUE É PERMITIDO (OU NÃO) NA QUARENTENA

DIRIGIR

Parto normal - É desaconselhável no primeiro mês por atrapalhar a cicatrização do períneo, região entre o ânus e a vagina, principalmente se ele tiver sido submetido a uma epistomia –pequeno corte para facilitar o parto normal. Caso a mulher não sinta nenhum incômodo, pode dirigir a partir de duas semanas.
Cesárea - Não costuma ser permitido no primeiro mês, porque pode atrapalhar a cicatrização das suturas abdominais.

SEXO

Parto normal - Proibido no primeiro mês não só porque a mulher pode sentir dor, mas porque existe o risco de infecção, já que o processo de cicatrização pós-parto ainda não está finalizado. Além disso, a produção do hormônio prolactina, que favorece a produção do leite, diminui a libido e a lubrificação vaginal.
Cesárea - A quarentena impõe 30 dias de abstinência sexual para recuperação do organismo e do sistema reprodutor. Caso contrário, os riscos seriam os mesmos já descritos no parto normal, somados à sobrecarga na região dos pontos cirúrgicos.

ATIVIDADE FÍSICA

Parto normal - Exercícios pesados, como corridas, são proibidos nos primeiros 45 dias, porque o esforço pode atrapalhar o processo de recuperação. Caminhadas leves, de 20 a 30 minutos, podem ser feitas após o primeiro mês. Esse tempo é variável e depende do condicionamento físico da mulher antes de engravidar. Para nadar confortavelmente, sem risco de escapes de sangue, é melhor esperar dois meses.
Cesárea - A volta à atividade física pós-cesárea é bem mais complexa, por se tratar de um processo cirúrgico como outro qualquer. Exercícios pesados, como corridas, precisam ser evitados por três meses. Caminhadas e natação estão liberadas a partir de dois meses.

CARREGAR PESO

Parto normal - Não é recomendado no primeiro mês. Mesmo depois, é bom sentar em uma cadeira para levantar o filho mais velho, fazendo força no braço, e agachar com as costas eretas para pegar uma sacola no chão. O objetivo é poupar a coluna, fragilizada pelo peso que sustentou durante a gravidez.
Cesárea - Proibido no primeiro mês pelo cuidado com os pontos cirúrgicos. Mesmo depois desse período, vale seguir as recomendações referentes ao parto normal.

SUBIR ESCADA

Parto normal - Se não houver dor, não existe contraindicação.
Cesárea - Não há nenhum problema se não houver dor.

DEPILAÇÃO

Parto normal - Nada impede que a mulher se depile nesse período.
Cesárea - Não existem contraindicações.

CUIDADOS COM O CABELO

Parto normal - Eles ficam enfraquecidos e costumam cair, devido à queda hormonal ocasionada pela perda da placenta. Cerca de 90 dias depois do parto, o processo atinge seu auge e, passado esse período, a tendência é que as madeixas se normalizem. Em relação às tinturas, o ideal é adiar o procedimento enquanto a mulher estiver amamentando, porque os produtos químicos podem conter amônia ou formol e são perigosos para o bebê, intoxicando-o. A pintura à base de henna não oferece risco.
Cesárea - As recomendações são idênticas às do parto normal e valem para todas as mulheres que amamentam.

ABSORVENTE INTERNO

Parto normal - Não existem restrições.
Cesárea - Não existem restrições.