Um Só Planeta

Grande parte de energia consumida no mundo é proveniente de fontes não renováveis, ou seja, aquelas que são finitas ou esgotáveis. Para a maioria delas, a reposição na natureza é muito lenta. Quanto mais usamos as fontes de energia não renováveis, menos teremos no estoque total. O petróleo e o carvão mineral, por exemplo, são responsáveis por grande parte da emissão de gases de efeito estufa na atmosfera, visto que são combustíveis e liberam gases poluentes, que impactam a saúde e o meio ambiente.

Ao contrário, a eletricidade verde é a energia elétrica gerada a partir de fontes renováveis e sustentáveis que têm um impacto ambiental reduzido em comparação com os combustíveis fósseis. Ela é essencial para a transição para um sistema energético mais limpo e sustentável.

A principal característica da eletricidade verde é incluir fontes renováveis, que se regeneram naturalmente. As mais conhecidas são a energia solar, que captura a luz do sol através de painéis solares; a energia eólica, que utiliza turbinas para converter o vento em eletricidade; a energia hidrelétrica, que gera eletricidade a partir do movimento da água em rios e represas; a energia geotérmica, que utiliza o calor da terra para gerar eletricidade; e a chamada biomassa, que produz eletricidade a partir de materiais orgânicos, como resíduos agrícolas e florestais.

Mas, sobre a biomassa, há controvérsias que questionam o fato de ser considerada fonte renovável ou não. Os pellets de madeira são a forma mais avançada de utilização da biomassa e, no geral, são produzidos a partir de serragem de madeira refinada e seca, que depois é comprimida.

"São biocombustíveis sólidos, fabricados a partir de resíduos da indústria madeireira. Seu formato cilíndrico e sua fluidez facilitam o processo de automatização da queima. Por isso, o pellet é muito utilizado hoje em aplicações residenciais, comerciais e industriais”, explica Dorival Pinheiro Garcia, engenheiro industrial, pesquisador e consultor na área de pellets.

“O verdadeiro problema está na origem da madeira para produzir os pellets”, diz John Sterman, professor de administração e diretor da iniciativa de sustentabilidade na MIT Sloan School of Management. “Os produtores de pellets na América do Norte e outras regiões afirmam que utilizam apenas resíduos de exploração madeireira ou árvores doentes e pequenas, e que não desmatam ou utilizam árvores inteiras. Essas discussões foram repetidamente provadas falsas. A quantidade de resíduos não consegue atender à demanda atual e projetada para bioenergia”, afirma.

Como os pellets se tornam combustíveis

Os resíduos madeireiros – serragem, pó de serra, maravalha e lascas de madeira – são densificados em máquinas chamadas peletizadoras. Quando queimados, os pellets liberam energia na forma de calor, que pode ser usada para gerar vapor que aciona turbinas que produzem eletricidade.

“Os pellets de madeira prontos têm baixa umidade, densidade em torno de 700 kg/m3, poder calorífico em torno de 19 MJ/kg e liberam pouca fumaça na queima, ou seja, torna-se uma ótima fonte de energia térmica”, afirma Dorival. John alerta que o processo de combustão também libera CO2 e outras emissões na atmosfera.

A biomassa emite muito C02 para gerar energia?

“Não. O pellet de madeira é energia limpa, renovável e sustentável. É um biocombustível de baixo carbono e CO2 neutro, o que significa que as emissões na sua queima são recuperadas no crescimento da árvore. Portanto, usar pellets não contribui com o aumento de gases do efeito estufa”, afirma Dorival.

John discorda e explica: “Uma molécula de CO2 adicionada à atmosfera hoje tem o mesmo impacto no aquecimento global, proveniente de combustíveis fósseis de milhões de anos ou de biomassa cultivada no ano passado. O fato de que o carbono na madeira foi removido da atmosfera no passado, enquanto as árvores cresceram, é irrelevante: quando você corta e queima uma árvore, aumenta a quantidade de CO2 na atmosfera além do que seria se aquela árvore não tivesse sido queimada”.

Os pellets de madeira devem ser produzidos somente da matéria-prima natural, livre de cascas, folhas ou substâncias químicas artificiais — Foto: Pexels / Ron Lach / Criative Commons
Os pellets de madeira devem ser produzidos somente da matéria-prima natural, livre de cascas, folhas ou substâncias químicas artificiais — Foto: Pexels / Ron Lach / Criative Commons

Como a bioenergia da madeira se comporta na mudança climática

John diz que é preciso avaliar várias coisas antes de chegar a conclusões: “Por exemplo, quanto CO2 a queima da madeira adiciona à atmosfera? E em comparação com o quê? A energia da madeira reduz o uso de combustíveis fósseis? E qual combustível? As florestas colhidas para bioenergia crescerão novamente? Se sim, quanto tempo levaria para que o crescimento retirasse o CO2 adicionado quando a madeira foi queimada? O que acontece com a mudança climática nesse meio tempo? Quão rápido as florestas que estão sendo colhidas estão crescendo agora? Quanto CO2 essas florestas em crescimento removeriam da atmosfera se não fossem cortadas para a bioenergia?”, questiona o especialista.

“Considere uma floresta de 50 anos colhida e queimada para energia. Quando a madeira é queimada, o carbono que ela contém é emitido como CO2 na atmosfera. Se a floresta crescer novamente, após cinco décadas, terá removido aproximadamente a mesma quantidade de CO2 que emitiu quando foi cortada e queimada para energia. Até lá, há mais carbono na atmosfera do que se ela não tivesse sido queimada, acelerando a mudança climática”, diz.

Agora se a floresta não tivesse sido cortada, complementa, continuaria crescendo, removendo mais carbono da atmosfera. Comparado a permitir o crescimento da floresta, a bioenergia aumentaria as emissões de CO2 e agravaria o aquecimento global por muitas décadas, ou mais — tempo que não temos para alcançar emissões líquidas zero e evitar os prejuízos da mudança climática.

É preciso avaliar se as florestas colhidas para bioenergia crescerão novamente. E o quão rápido! — Foto: Pexels / Pok Rie / Criative Commons
É preciso avaliar se as florestas colhidas para bioenergia crescerão novamente. E o quão rápido! — Foto: Pexels / Pok Rie / Criative Commons

O CO2 diminuiria se a madeira reduzisse o uso de combustíveis fósseis?

“Isso depende de quanto CO2 é emitido pela madeira em comparação com o combustível substituído”, afirma John.

De acordo com suas pesquisas, John acredita que a bioenergia da madeira emite mais dióxido de carbono do que os combustíveis fósseis, incluindo o carvão. Queimar madeira para gerar eletricidade emite mais CO2 por quilowatt-hora gerado do que os combustíveis fósseis, até mesmo o carvão. Embora a madeira e o carvão contenham aproximadamente a mesma quantidade de carbono por unidade de energia primária, a madeira queima com menor eficiência, pois mais da energia primária liberada no processo de combustão é usada para quebrar as ligações químicas na madeira do que no carvão, além do que ela contém mais água.

“A situação é pior se a madeira substituir outros combustíveis fósseis. Isso porque a madeira libera cerca de 25% mais CO2 por unidade de energia primária do que o óleo combustível e cerca de 75% mais CO2 do que o gás natural. Além disso, a madeira deve ser colhida, seca, processada em cavacos ou pellets e transportada para uma usina de energia. Essas atividades emitem CO2 de máquinas e veículos movidos a combustíveis fósseis para colheita e transporte, além das emissões de queima de madeira ou combustíveis fósseis para secar os pellets.

A eficiência da cadeia de suprimentos da madeira é menor do que a do carvão. Por exemplo, cerca de 27% do carbono coletado é usado para secar pellets, enquanto o processamento do carvão adiciona apenas cerca de 11% às emissões. A bioenergia da madeira, portanto, emite mais CO2 por quilowatt-hora de energia gerada do que todos os combustíveis fósseis, incluindo o carvão”, explica.

Os biocombustíveis são vistos como uma maneira de fazer a transição dos combustíveis fósseis e reduzir a dependência de energia importada — Foto: Pexels / Cristian Rojas / Criative Commons
Os biocombustíveis são vistos como uma maneira de fazer a transição dos combustíveis fósseis e reduzir a dependência de energia importada — Foto: Pexels / Cristian Rojas / Criative Commons

Os pellets prejudicam ou não o meio ambiente

“Os pellets não prejudicam o meio ambiente. Pelo contrário, eles contribuem, pois utilizam os resíduos das indústrias madeireiras que, em alguns lugares, são considerados passivos ambientais deixados em qualquer lugar”, diz Dorival.

John discorda e afirma que mesmo no melhor cenário, em que a madeira substitui o carvão, o crescimento não remove o excesso de CO2 emitido pela madeira por quase um século ou mais, e muito mais se a madeira substituir outros combustíveis fósseis. “Naquele momento futuro, a bioenergia da madeira pode ser considerada neutra em carbono. Até lá, a bioenergia da madeira aumenta o nível de CO2 na atmosfera além do que seria, acelerando o aquecimento global”, explica.

O uso de pellets pode ser considerado greenwashing

Greenwashing se refere à prática de apresentar uma atividade ambientalmente prejudicial como ecologicamente amigável. “Alegações de que a bioenergia da madeira é neutra em carbono ou ambientalmente amigável são baseadas na falsa suposição de que o CO2 liberado ao calor da madeira é rapidamente compensado pelo crescimento das florestas”, diz John.

Dorival considera que jamais os pellets de madeira devem estar relacionados com essas maquiagens verdes que tem por aí. “Eles são commodities comercializados internacionalmente no mundo todo. O Brasil produz cerca de 2 milhões de toneladas de pellets de madeira por ano. As primeiras indústrias de pellets do país surgiram no início dos anos 2000, muito antes do surgimento do termo greenwashing. Portanto, não é modismo ambiental. É uma fonte de energia renovável e sustentável. Basta plantarmos florestas comerciais”, afirma.

Já para John, a bioenergia da madeira piora a mudança climática além do ano 2100. Países e empresas que promovem a bioenergia da madeira como uma fonte de energia verde estão enganando o público sobre seu verdadeiro impacto ambiental.

Sendo ou não energias renováveis, os pellets de madeira não eliminam a necessidade de protegermos e restaurarmos nossas florestas — Foto: Pexels / Pok Rie / Criative Commons
Sendo ou não energias renováveis, os pellets de madeira não eliminam a necessidade de protegermos e restaurarmos nossas florestas — Foto: Pexels / Pok Rie / Criative Commons

O que explica o investimento da União Europeia nos biocombustíveis?

“O investimento da União Europeia em biocombustíveis, incluindo pellets de madeira, é impulsionado pelo compromisso de reduzir as emissões de gases de efeito estufa e cumprir metas de energia renovável. Os biocombustíveis são vistos como uma maneira de fazer a transição dos combustíveis fósseis e reduzir a dependência de energia importada. No entanto, esse investimento é baseado na falsa suposição de que os biocombustíveis são neutros em carbono”, afirma John.

Já para Dorival, o motivo do investimento da União Europeia nos biocombustíveis se dá por ser zero CO2. “Os países europeus estão aumentando o uso desses biocombustíveis pellets para ‘limpar’ sua matriz energética, diminuindo o uso de fontes poluentes e não-renováveis”. John acredita que as políticas da União Europeia visam promover energia renovável, mas precisam ser reavaliadas para garantir que sejam realmente eficazes na redução das emissões.

E a luta contra o aquecimento global

Na opinião de John, para combater eficazmente o aquecimento global, é crucial focar na redução das emissões de gases de efeito estufa por meio de soluções mais sustentáveis e imediatas. “Melhorar a eficiência energética em residências, edifícios comerciais e instalações industriais é a maneira mais rápida, segura e barata de fornecer às pessoas o que precisam, enquanto usamos menos energia e produzimos menos poluição climática. Outra forma é reforçamos o desenvolvimento de fontes de energia realmente renováveis, como energia eólica e solar, com armazenamento. Além disso, precisamos, claro, proteger e restaurar as florestas”, conclui.

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