As festas de final de ano, como Natal e Réveillon, costumam ser sinônimo para momentos de alegria e diversão, acompanhadas de fogos de artifício e música boa. Para os pets, porém, essas comemorações nem sempre trazem a mesma satisfação, com barulhos altos e multidões no lar, podem trazer estresse ao bicho, além de afetar a sua audição.
Ainda, as celebrações podem levar a diversas reações por parte dos animais de estimação. Segundo levantamento da Petlove em parceria com o Instituto Caramelo, com participação de 3 mil pessoas, 39% dos entrevistados perderam ou conhecem alguém que perdeu os pets devido ao pânico causado pelo estampido dos fogos de artifício.
O levantamento também pontuou que 82% dos bichos de estimação costumam se assustar com o barulho de rojões, tendo como principais reações se esconder (71%) ou ficar desorientado (60%).
O impacto dos fogos de artifício em pets
Amados por alguns e odiados por outros, os fogos de artifício fazem parte das festas de final de ano. Contudo, com o passar do tempo, tem surgido cada vez mais debates sobre os seus efeitos em pets, animais livres, idosos, crianças ou indivíduos no espectro autista.
Em São Paulo, por exemplo, já há uma lei que proíbe a soltura de estampidos, enquanto no Rio de Janeiro, a Câmara aprovou, em outubro, um projeto de lei que determina multa para quem soltar fogos com ruído.
“Os impactos de fogos de artifício estão relacionados estritamente com os sons extremamente altos e repentinos, o que pode provocar uma sensação de pânico nos pets”, explica Mariana Agulló Pimenta, veterinária graduada pela Universidade Anhembi Morumbi.
A especialista ainda pontua que as reações se devem ao fato de que animais têm uma audição muito mais sensível do que os seres humanos, de maneira que ruídos fortes podem gerar desconforto, estresse e medo intenso.
Entre as possíveis reações instantâneas está choro, pedido de carinho insistente, lambidas compulsiva e ronronar. “Isso também dispara uma resposta de 'luta ou fuga' e até mesmo dor. Em casos graves, pode levar a taquicardia, tremores, salivação excessiva, vocalizações, tentativas de fuga e, em casos extremos, traumas físicos ou psicológicos”, coloca Pedro Risolia, médico-veterinário da Petlove.
Em casos mais graves, caso a exposição ao ruído seja prolongada, podem desencadear crises epilépticas devido ao pânico intenso. “Os cães também costumam reagir com tremores, latidos, tentativas de fuga e destruição de objetos. Já os gatos podem se esconder em locais difíceis de achar por dias”, diz Daniel Pereira, médico-veterinário comportamentalista
Como proteger os pets de fogos de artifício
Para protegê-los, a médica-veterinária recomenda começar por criar um ambiente seguro para que os animais de estimação possam se refugiar durante a queima de fogos. “A dica é manter o animal em um local onde ele se sinta mais protegido e seguro, longe de portas e janelas, para evitar acidentes”, diz.
Ainda, incorpore no cômodo iluminação suave e sons relaxantes, como música calmante ou ruído branco. Se possível, acomode o pet em um local com isolamento acústico. Outra maneira de atenuar os sons, segundo Mariana, é com o uso de protetores auriculares específicos para pets.
Pedro ainda destaca táticas para atenuar o barulho de fogos dentro de casa, com abafadores de sons, toalhas ou bandanas, mas alerta para fazer com cuidado a fim de não gerar ainda mais desconforto no pet.
“Introduzir brinquedos interativos também é uma opção para entreter o animal durante a queima de fogos. Ainda, é imprescindível que o tutor fique ao lado do animal e interaja de maneira calma, sem reforçar o medo. Tentar acalmá-lo excessivamente pode ser interpretado como uma resposta ao estresse”, recomenda a especialista.
Porém, também existem maneiras de preparar os bichos para as festas de final de ano, certificando-se de que tenham o mecanismo necessário para lidar com eventuais crises e barulhos intensos, como o caso de rojões.
“Exponha gradualmente o animal a sons similares de fogos em volume baixo, recompensando comportamentos calmos. Feromônios sintéticos também ajudam a reduzir o estresse e, em casos graves, um veterinário pode prescrever ansiolíticos ou calmantes naturais”, diz Pedro.
Atenção à quantidade de convidados
Durante as festas, é comum que o volume de convidados em casa cresça, podendo trazer pessoas desconhecidas pelo pet e um volume de indivíduos maior ao que estão acostumados. Isso também pode gerar estresse, pois implica no aumento de informações e barulhos em seus lugares seguros.
Por isso, atente-se ao número de convidados e, se possível, permita que o animal se familiarize com eles antes da festa. “Neste caso, delimite um espaço reservado, como cama ou caixa de transporte, com enriquecimento ambiental e mordedores naturais como cascos, chifres e orelhas. Ainda, oriente os vistante a respeitarem o espaço do pet, evitando interações forçadas”, recomenda o médico-veterinário comportamentalista.
Caso queira estimular a interação do bicho com seus convidados, uma boa aposta pode ser premiar comportamentos calmos na presença de pessoas. “No mais, mantenha a rotina do pet, os horários regulares de alimentação, passeios e brincadeiras para proporcionar segurança”, acrescenta Pedro.
Evite alimentos desconhecidos
Pode ser tentador dar alimentos da ceia para os pets quando eles fazem súplicas, mas é importante se manter firme. Conforme dados do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP), 99% do cardápio da ceia natalina não pode ser oferecido aos pets, e o 1% dos alimentos que até pode ser compartilhado com cães e gatos, o que, geralmente, limita-se a algumas frutas, em pequenas porções.
“Evite oferecer alimentos com chocolate e doces, porque estes contêm açúcar e substâncias tóxicas, como teobromina. Também tome precaução com uvas-passas, que podem causar insuficiência renal”, diz Daniel. Ademais, afaste-os de comida com temperos como alho e cebola, que são tóxicos, além de ossos cozidos que possam lascar e ocasionar ferimentos.
Alimentos gordurosos também devem ficar de fora da ceia do pet, pois podem ocasionar pancreatite. “Ingredientes com xilitol também devem ser evitados, pois é um adoçante altamente tóxico para cães ou até quantidades excessivas de açúcar”, pontua Pedro.
Cuidado com as decorações de Natal
Também é importante se atentar às decorações de Natal em casa, pois podem ser mais um empecilho na noite do animal. Alguns adornos, como bolas, guirlandas e luzes piscantes, podem se tornar perigosas se manipuladas ou ingeridas pelos animais.
“Enfeites, como velas e itens decorativos pequenos, podem ser atraentes para os pets, especialmente a gatos e cachorros curiosos. Se ingeridos ou quebrados, esses objetos podem causar sufocamento ou ferimento, podendo resultar no atendimento veterinário emergencial”, explica a médica-veterinária.
Para isso, a especialista indica o uso de decorações mais seguras, como enfeites mais altos e resistentes.
Proteja os animais de estimação de plantas típicas da época
Assim como é importante se atentar ao alimento ingeridos pelos pets durante as festividades, é importante prestar atenção nas plantas típicas da temporada. “Algumas espécies natalinas, como visco, lírio, flor-de-Natal e o azevinho, são tóxicas para cães e gatos. Podem causar vômitos, diarreia e outros problemas de saúde”, diz Mariana.
Caso tenha essas plantas em casa, certifique-se de mantê-las fora do alcance dos animais ou substitua por alternativas mais seguras, especialmente quando colocadas em jardins. “Caso o animal ingerir estas ou qualquer outra planta tóxica, é indicado que procure imediatamente atendimento veterinário”, complementa.
Faça um protetor do tipo “Thundershirt”
Ainda, caso você tenha certeza de que haverá fogos na sua região ou que sua casa estará muito barulhenta, uma boa aposta são as faixas protetorias sonoras, que ajudam a atenuar os sons intensos de maneira segura, trazendo conforto ao pet.
“Elas aplicam uma leve pressão ao redor do corpo do animal, simulando um efeito calmante, similar a um abraço”, explica o médico-veterinário da Petlove.
Ainda, Mariana recomenda as faixas do tipo “Thundershirt”, desenhadas para exercer uma pressão suave no corpo do animal, funcionando como um abraço. Caso não tenha em casa, é possível criar uma versão caseira usando uma faixa de tecido elástica e envolvendo-a ao redor do corpo do animal.
Segundo Mariana, o primeiro passo é escolher um tecido macio e confortável, de preferência elástico para que se ajuste ao corpo do animal. “Para começar a técnica de amarração, posicione a faixa de pano na altura do pescoço. Depois, cruze as pontas da faixa sobre o dorso do animal, atravessando seu pescoço”, explica.
Em seguida, cruze novamente as pontas da fixa sobre a coluna do animal, passando pela parte de cima do tronco. “Para completar a amarração, faça um nó próximo à coluna, prestando atenção para não apertar muito. O ideal é que a amarração seja feita 30 minutos antes do início da queima de fogos”, finaliza.