Cobertor ponderado: entenda o que é o utensílio e as suas vantagens

De acordo com Nathália Bório, médica especialista em Medicina do Sono pela Universidade de São Paulo (USP), o cobertor ponderado é aquele que conta com um peso adicional, geralmente distribuído de forma uniforme ao longo de toda a sua superfície.

A peça conta normalmente com materiais pesados em sua composição, como micro pérolas, microesferas de plástico ou contas de vidro.

“Geralmente, esse peso corresponde entre 5% a 10% do peso corporal do usuário", comenta Maria Ângela Ramalho, fisioterapeuta do sono e doutora em Medicina Clínica e Saúde pela Universidade de Granada, na Espanha.

Ao proporcionar pressão suave e uniforme, o peso do cobertor oferece uma sensação de conforto e segurança, como a de um abraço reconfortante.

“Os cobertores ponderados são frequentemente utilizados para aliviar a ansiedade, melhorar o sono e oferecer suporte a pessoas que sofrem de transtornos do espectro do autismo (TEA), transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) ou condições relacionadas", afirma a médica.

Os benefícios de um cobertor pesado para a saúde humana são respaldados pela ciência. Um relatório publicado no periódico Medicina Clínica do Sono (JCSM, na sigla em inglês), por exemplo, concluiu que o utensílio é uma intervenção eficaz e segura para pacientes insones com certos transtornos psiquiátricos.

Durante quatro semanas, a pesquisa avaliou 120 pacientes com transtornos como depressão, bipolaridade, ansiedade generalizada ou déficit de atenção e hiperatividade.

Para a avaliação, eles dormiram com cobertores costurados com metal, o que aumentava o peso sobre o corpo. Os resultados demonstraram impactos positivos: a manutenção do sono se tornou melhor, a atividade diurna aumentou e os sintomas diurnos de fadiga, depressão e ansiedade reduziram.

Já uma revisão de escopo, publicada no periódico científico Frontiers in Psychiatry , analisou 18 estudos relacionados ao tema e encontrou evidências que apoiam o uso de cobertores pesados. Entre os relatos de participantes adultos estão melhorias no sono, no humor e menos dores físicas.

Segundo Maria Ângela, há muitas vantagens associadas ao uso do cobertor ponderado. “A pressão profunda estimula o sistema nervoso parassimpático, ajudando a reduzir os níveis de cortisol, o hormônio do estresse, e promovendo relaxamento", diz.

A qualidade do sono melhora, pois, segundo a fisioterapeuta, o cobertor pode ajudar a adormecer mais rápido e permanecer dormindo por mais tempo, especialmente em pessoas com insônia ou dificuldades para relaxar à noite. “A sensação de ‘abraço’ pode criar um ambiente mais aconchegante e calmante", ela acrescenta.

Além disso, cobertores ponderados podem ter efeitos semelhantes à terapia sensorial. “Podem ser particularmente úteis para pessoas com condições neurológicas ou distúrbios de regulação sensorial, como TEA ou TDAH", explica Maria Ângela. Vale lembrar que esta é uma terapia adicional e não deve substituir eventuais medicamentos de uso contínuo.

Há, ainda, uma relação com a produção de melatonina: como a pressão do cobertor ponderado ativa receptores sensoriais da pele, acaba por promover uma resposta conhecida como “estimulação por pressão profunda”.

“Essa estimulação pode aumentar a produção de serotonina, um neurotransmissor associado ao bem-estar, convertido em melatonina, o hormônio responsável pela regulação do sono. Assim, o cobertor contribui indiretamente para melhorar o ritmo circadiano", informa a fisioterapeuta.

Pessoas que sofrem de ansiedade podem se beneficiar do uso de cobertores ponderados, uma vez que a pressão dos utensílios pode reduzir o cortisol, aumentar a serotonina e estimular o sistema nervoso parassimpático.

À lista de beneficiados, Maria Ângela inclui as pessoas com fibromialgia ou dores musculares leves, já que o efeito calmante ajuda a reduzir a percepção da dor. Além disso, pessoas com Transtornos do Humor ou Síndrome das Pernas Inquietas podem ter os sintomas aliviados devido à estabilidade sensorial promovida pelo peso do utensílio.

Há, contudo, grupos que demandam mais cuidados. Segundo Nathália, são eles:

- Gestantes: a pressão do cobertor ponderado pode não ser adequada a gestantes, principalmente no terceiro trimestre e se a paciente estiver dormindo de decúbito dorsal (de barriga para cima), pois o aumento do volume uterino pode comprimir o retorno venoso e, inclusive, diminuir a circulação de sangue para o feto;

- Crianças: o cobertor ponderado deve ser proporcional ao peso da criança e geralmente não deve exceder 10% do peso dela. Além disso, deve-se ter certeza de que a criança consiga retirar o cobertor sozinha;

- Idosos e pacientes com mobilidade reduzida: para se evitar risco de queda ou de pressão excessiva em algumas partes específicas do corpo, deve-se ter atenção;

- Pacientes com problemas respiratórios, obesidade grave e apneia do sono: o peso adicional pode dificultar a ventilação, reduzindo o oxigênio e aumentando o CO₂ durante o sono;

- Pacientes com problemas circulatórios: deve-se ter atenção com este grupo, pois o peso pode diminuir o fluxo sanguíneo, principalmente nas extremidades (braços, mãos, pernas e pés).

Você pode adotar outras estratégias para ter um sono mais tranquilo e de qualidade. Uma delas é investir na higiene do sono, criando um ambiente propício para dormir: escuro, silencioso e com a temperatura adequada.

Maria Ângela orienta estabelecer uma rotina noturna, com um horário regular para dormir e acordar. Além disso, vale evitar a luz azul e estimulantes como cafeína, álcool e refeições pesadas antes de dormir.

A fisioterapeuta do sono indica, ainda, utilizar aplicativos de sons relaxantes ou ruído branco e a Terapia Cognitivo-Comportamental para Insônia (TCC-I), que ajuda a identificar e modificar pensamentos e comportamentos que interferem no sono. “O exercício físico regular promove a regulação do ritmo circadiano e alivia o estresse", acrescenta ela.

Por sua vez, o relaxamento progressivo e mindfulness reduzem a atividade mental e física antes de dormir. Certos medicamentos podem ser prescritos em casos de insônia severa ou ansiedade incapacitante, mas apenas como última opção, e se necessário.