Acostumados a trabalhar em metros, arquitetos e designers mudam de escala. É quando, em centímetros ou até mesmo milímetros, buscam novas proporções e, sem perder a essência de seus desenhos, concebem joias, bolsas, tênis, roupas, pratos e jogos de cama. Confira algumas das criações deles abaixo!
Joias por Jader Almeida: essência do design, sem caricaturas
Pela segunda vez explorando o universo das joias, Jader Almeida acaba de lançar a coleção Dinna. Em 2022, em homenagem aos 10 anos das mesas Jardim, o designer se lançou nesse mundo encantado da prata e do ouro com a coleção de mesmo nome que incluía pulseiras, colares, pingentes, brincos e broches.
Desta vez, criada para celebrar os 20 anos da cadeira Dinna, uma das peças percursoras da marca, a coleção apresenta colares e brincos. “A proposta segue sendo a elegância, assim como na coleção Jardim, onde mantemos a essência do design da peça de origem sem caricaturas”, diz Jader.
Na coleção Dinna, o foco está em materiais preciosos, como o ouro e a prata, mas também foi incorporado um toque de glamour e leveza com o uso do diamante. “A inspiração vem diretamente das formas da cadeira, que deu origem às peças, um ícone de design que celebra o equilíbrio entre simplicidade e sofisticação. As linhas limpas e delicadas das costas da cadeira se refletem e acabam por gerar as joias, sendo, portanto, de uma elegância sutil”, descreve Jader.
A conexão entre o desenho dos móveis e das joias é profunda. “Ambas são fruto da mesma busca por formas extremamente depuradas. As joias são, de certa forma, uma extensão do meu trabalho: a mesma atenção aos detalhes, o mesmo estudo de proporções e, claro, o mesmo compromisso com a originalidade e a atemporalidade. A transição entre essas duas áreas ocorre de forma natural, já que as joias também são objetos de desejo e expressão de estilo, assim como no mobiliário”, conclui Jader.
Bolsas e tênis por Kengo Kuma: materiais reciclados e novas tecnologias
Esta não foi a primeira vez que o arquiteto japonês Kengo Kuma se lançou no mundo da moda. Em 2019 desenhou o tênis de corrida Metaride AMU, para a Asics, até então, “a menor forma arquitetônica” que havia criado.
Em 2021, na VAVA Eyewear, fez uma coleção cápsula de óculos, incorporando materiais orgânicos sustentáveis e impressão 3D. Agora, o arquiteto acaba de lançar uma coleção de acessórios para a grife italiana Fendi.
Composta da bolsa Peekaboo, da baguete Soft Trunk e do tênis Fendi Flow, a nova linha foi apresentada no desfile Fendi Spring/Summer 24, durante o tradicional evento de moda italiana Pitti Uomo, em Florença.
As peças foram confeccionadas com materiais como papel waran-shi, tecido feito com bambu, cascas de bétula e madeira proveniente de oliveiras toscanas. O waran-shi, explica o arquiteto, é um novo material japonês feito à mão, criado por um amigo holandês.
“Como sugerem as letras de wa-ran, é um material que forma uma ponte entre o Japão e a Europa (Holanda, neste caso). E é justamente este conceito de unificação entre os povos que levo para a minha arquitetura”, diz.
Além disso, o waran-shi é um papel único porque absorve materiais naturais, como plantas e cascas. “Nossos projetos de arquitetura sempre foram ótimas oportunidades para experimentar ou utilizar vários materiais reciclados. Para o piso do Estádio Nacional do Japão aplicamos peças desmontadas de azulejos antigos. Para as caixas de plantas do estádio foram utilizadas pedras de basalto trituradas”, exemplifica.
Já na Japan House, na Avenida Paulista, em São Paulo, projeto assinado pelo arquiteto em parceria com o escritório brasileiro FGMF, é a permeabilidade da fachada que se assemelha à existente no tênis Fendi Flow, que leva cortiça e tem solas trançadas, de impressão 3D, inspiradas em yatara ami (técnica de cruzamento de bambu).
“Ao experimentar diferentes materiais e abordagens em pequenos produtos, as nossas ideias para novas matérias-primas e tecnologias são realimentadas em projetos de maior escala”, afirma Kengo.
Jogo de cama e mesa posta por Arthur Casas: minimalismo contemporâneo e moderno
Em 2019, o arquiteto Arthur Casas desenvolveu para a Trousseau a sua primeira criação têxtil. Agora acaba de lançar mais duas novas cores para o jogo de cama e a linha de mesa posta Amorfa. A primeira compreende lençol de baixo, fronha e duvet – chumbo com verde-claro e bege com capuccino.
“A capa do duvet tem um lado de algodão – parte que fica em contato com o corpo –, prevalecendo o conforto, e o outro, facetado para cima, é feito de linho com detalhe desfiado, dando o tom moderno e sofisticado da peça. O lençol de baixo é feito 100% de algodão. As matérias-primas, linho e algodão, são italianas e a confecção é feita no Brasil”, detalha Adriana Trussardi, sócia-fundadora da Trousseau.
Já a linha Amorfa contempla jogo americano com guardanapo de linho, além das louças de cerâmica. Os pratos rasos, fundos e de sobremesa foram executados nas cores off-white e verde-escuro e são esculpidos de cerâmica esmaltada, com design e formato assimétrico – seu diferencial.
Para complementar, o jogo americano feito 100% de linho tem um detalhe desfiado, acrescentando um toque despojado e contemporâneo à coleção. "Tenho um certo fascínio por desenhar formas amorfas – contornos orgânicos que, na natureza, não apresentam uma forma fixa, estável. São muitas as tentativas para alcançar o desenho ideal, trata-se de um exercício e uma pesquisa constante. Trago esse traço comigo da arquitetura – definindo claraboias, percursos, rasgos, aberturas – ao design de objeto, dando forma a xícaras, bandejas, mesas, luminárias, e mais recentemente, as louças", diz Arthur.
“O processo criativo dessa parceria envolve muitos aspectos, especialmente requinte, design e funcionalidade, trazendo para outros cômodos da casa, principalmente a cozinha, o toque clássico que é a marca registrada da Trousseau e de Arthur Casas. As novas cores do jogo de cama também reforçam esse atributo”, comenta Adriana.
A principal característica de toda a linha, além do minimalismo contemporâneo e moderno, é o cuidado com os detalhes, conforto, funcionalidades e cores neutras – essa última, comum a ambas as marcas.
Roupas por Sergio Rodrigues: miniaturas de móveis e croquis
Quem diria que as fantasias de dragões que Sergio Rodrigues fazia para as filhas poderia dar nisso? O fato é que, coincidência ou não, a obra do arquiteto e designer foi parar nas roupas da marca carioca Handred.
“Sergio tinha um espírito muito lúdico. Ao fazer as fantasias para os filhos, creio que ele incorporava uma criança também, juntando-se à brincadeira a sua habilidade de lidar com diversos materiais”, diz Fernando Mendes, presidente do Instituto Sergio Rodrigues.
“Ele não teve uma experiencia profissional diretamente ligada à moda, mas tinha um jeito peculiar de se vestir. Colete, quepe, suspensórios, botina e sempre meias coloridas, preferencialmente vermelhas ou amarelas. Era o jeito Sergio Rodrigues de se vestir. Certa vez, um jornalista alemão de um jornal de Frankfurt disse que o arquiteto se vestia como uma criança que a mãe deixara o filho escolher a roupa sozinho”, conta.
Na coleção da Handred, a moda do arquiteto e designer aparece na forma de croquis, perspectivas, miniaturas de móveis e desenhos rebordados. O linho, a organza, o crepe de chine e o shantung são presença marcante em saias, calças, camisas e vestidos.
Há também um forte uso do couro, fazendo referência a matéria-prima dos revestimentos dos móveis. Os lisos mergulham no pantone usado por Sergio em sua obra e vida pessoal, com grande destaque para o vermelho e o pistache.
“A estampa mais literal a um móvel específico, foi a estampa Cuiabá, em referência ao espelho, que ganhou um xadrez em seda”, explica Fernando. Aparecem também croquis à mão do sofá Tonico, poltrona Mole, banco Mocho e muitas perspectivas de interior que o arquiteto desenhava. Todas elas foram lançadas com um desfile no SPFW, em novembro de 2023, sendo parte do resultado das vendas revertido para a manutenção do Instituto.