Clariça Lima

Por Clariça Lima

Colunista | Formada em Arquitetura pelo Centro Universitário Belas Artes, especializou-se em Arquitetura Paisagística, no Instituto Brasileiro de Paisagismo

Ao pensar sobre biodiversidade e as mais diversas formas de adaptação, sempre me vem a cabeça uma planta que depois que a vi, nunca mais esqueci. Pelo poder de adaptação, pela forma peculiar e, principalmente, pelo belo nome, logicamente associado à sua forma: o polvo do deserto.

Desconhecida por grande parte dos brasileiros, a rica biodiversidade da Namíbia exibe uma numerosa quantidade de vida vegetal em todo seu árido e extenso deserto: o Sossusvlei. Foi em meio às dunas e aos platôs arenosos que me deparei com uma planta endêmica, também conhecida como Welwitschia mirabilis, que só existe nos desertos de Namíbia e Angola.

As folhas, que lembram os tentáculos do polvo, podem chegar até 4 metros — Foto: Flickr / Hans Hillewaert / Creative Commons
As folhas, que lembram os tentáculos do polvo, podem chegar até 4 metros — Foto: Flickr / Hans Hillewaert / Creative Commons

Planta rasteira, ela é considerada uma das mais longevas do mundo vegetal, chegando a 1.500 anos, sendo que o seu aparecimento como espécie remonta ao tempo dos dinossauros.

Isso acontece porque pode ativar certas proteínas para se proteger das condições extremas onde vive e suas folhas são capazes de absorver parte da umidade da névoa que se forma no começo da manhã, mesmo no deserto, captando do ar sua sobrevivência. Seu crescimento é lentíssimo, mas constante ao longo de toda a sua milenar existência.

A planta só ocorre nos desertos da Angola e Namíbia — Foto: Flickr / Petr Kosina / Creative Commons
A planta só ocorre nos desertos da Angola e Namíbia — Foto: Flickr / Petr Kosina / Creative Commons

À medida que a planta vai crescendo, nas suas extremidades, as folhas se esfarrapam e enroscam entre si, com a similaridade de mini tentáculos, como um polvo. Tem um tronco curto e uma raiz principal.

Suas folhas em fitas, mesmo crescendo milímetro por ano, pode chegar de 2 a 4 m e, esteticamente, lembram uma suculenta ou um cacto. Quando se enroscam, parecem ter inúmeras folhas, mas são formadas por duas que se desfiam, como se tivesse uma ilusão óptica.

Outra curiosidade é a complexidade do sistema de reprodução: cones do masculino são parecidos como uma espiga de milho e avermelhada, enquanto a fêmea é ovalada e sua tonalidade azulada.

Seu aspecto geral é muito peculiar: parece estar em um processo de falência e morte, seja pelas suas fibras secas, seja pela aparência de velhas, mas, na verdade, é a demonstração de um fenômeno da natureza, com sua beleza peculiar e fascinante modus vivendi, tornando-a uma espécie única no planeta.

Mais recente Próxima Paisagista fala sobre o cultivo da bromélia e a sua importância nos jardins