Morreu neste sábado (7/12) a arquiteta, designer e figurinista Freusa Zechmeister, aos 83 anos. Ela foi diagnosticada recentemente com câncer no pâncreas.
Freusa nasceu em Patos de Minas, cidade de Minas Gerais, em 1941. Formada pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 1964, passou logo a trabalhar com projetos de arquitetura, design e paisagismo.
Em 1981, começou a criar os cenários e os figurinos para a companhia de dança mineiro Grupo Corpo a partir de sua percepção de espaço, movimento e cores, resultado de sua experiência de arquiteta. Ela via o figurino como uma forma de arquitetura do corpo, e o corpo como arquitetura da cena.
“Na criação de moda e arquitetura, o pensamento é um só. Projeto um espaço pensando nos movimentos de um bailarino nele e desenho a roupa como se fosse um espaço arquitetônico”, dizia.
Nos projetos de arquitetura, Freusa sempre usou de muita ousadia e irreverência para compor os ambientes com mistura de cores intensas, materiais, objetos de várias épocas e diversos estilos, de um jeito que ela considerava bem brasileiro.
Entre suas obras, há desde edificações comerciais de destaque em Belo Horizonte até design interiores em residências. Na década de 1990, ela destacou-se ao desenvolver projetos que utilizavam materiais de demolição e foi responsável pela restauração e pelos interiores da tradicional padaria Casa Bonomi, na capital mineira.
Freusa conseguiu grande repercussão na imprensa brasileira quando assinou projetos de casas para celebridades, como a residência de campo da atriz Maitê Proença. Ela era admirada pelos artistas por buscar inspiração em filmes e utilizar obras de arte na elaboração de cada trabalho.
Avessa a entrevistas, costumava dizer que gostava mais de fazer do que de falar. “Não dou conta”, repetia. “Tenho mais livros de arte do que de arquitetura. Aprendo com a vida e vivo perigosamente.”
Em busca de soluções precisas para os mínimos detalhes de cada projeto, Freusa interpretava o universo visual de cada cliente. “Minha formação é através do olhar. Só tenho o olhar e a memória de meu olhar. Qualquer plantinha me leva a uma viagem louca”, explicava. “Sou muito detalhista. Se tem 2 milímetros de diferença de um lado, vejo que está torto. A única coisa que eu tenho de legal na vida é meu olhar. Não tenho memória numérica, agora a visual é boa.”
Em 2017, a arquiteta mostrou no programa Casa Brasileira, do canal GNT, a reforma da casa de um sítio na qual intensificou o toque campestre com uma estrutura em pedras, fachada na cor magenta e amplas janelas de vidro. “Misturei vários pigmentos até alcançar o tom perfeito”, contou Freusa, que gostava dos materiais naturais e de fazer escadas. “Uma escada é uma escultura”, dizia.
Nos últimos anos, Freusa se dedicou de corpo e alma ao projeto do hotel boutique no Instituto Inhotim, em Minas Gerais. O que antes era para ser uma charmosa pousada virou um verdadeiro complexo de chalés.
A arquiteta criou bangalôs coloridos e telhados cobertos por vegetação rasteira, que permite integração harmoniosa da estrutura com os acervos de arte contemporânea e coleção botânica do parque. No espaço de recreação infantil, ela projetou origamis gigantes, inspiração de uma viagem que fez a Nova York.
“Quando me formei, eu tinha o desejo de fazer dois projetos: um hotel e um teatro. Achava que ia arrasar”, contava. Seu sonho se realizou nos projetos para o Grupo Corpo e do hotel em Inhotim. “Eu tenho uma maneira diferente de pensar um hotel. Não quero nada artificial. E obra minha é colorida”, afirmava.
“Todos os bangalôs de Inhotim são pintados com terra local, porque se pintar de vermelho ou rosa, depois de dois anos a tinta desbota. Se a pintura com terra desbotar fica mais lindo. É maravilhoso porque tem tons diferentes: alguns ficam mais vermelhos e outros amarelos.”
Como Freusa não se casou nem teve filhos, dizia que não tinha hora para trabalhar. “A única coisa que eu não me atrevi foi em mexer em uma cadeira. Acho que é uma divindade. Por isso, eu nunca desenhei uma cadeira”, afirmava.
Sobre o medo de dar entrevista, a arquiteta explicava: “Eu só sei contar casos. Não tenho fala com citações de livros. Minha formação é através do meu olhar. Resolvo na minha cabeça; entendo como quero entender. Eu desenho, eu crio, mas não sou de dar entrevista. Eu não dou conta.”