Despertar o medo do público é a principal missão dos eventos de Halloween em vários parques de diversões pelo mundo. Esses complexos investem na transformação dos ambientes para instigar o instinto de sobrevivência dos visitantes, proporcionando experiências que caminham do assustador ao divertido em poucos minutos. A arquitetura temática é um dos principais artifícios para garantir tal façanha.
A mudança das áreas durante a temporada de terror – que, geralmente, vai de agosto a novembro – não é somente visual, mas também sensorial, com efeitos especiais que englobam áudio, iluminação, cores, texturas e até o tamanho do local.
É assim nos parques do Universal Orlando Resort na Flórida, nos Estados Unidos, durante o evento Halloween Horror Nights.
Segundo David Hughes, gerente de cenografia para arte e design, o maior desafio para a construção de "casas mal-assombradas" e labirintos é a disponibilidade de espaço, mas é justamente o "aperto" o grande truque.
"Muitas vezes criamos corredores estreitos e sinuosos onde os visitantes ficam em dúvida sobre o que pode estar escondido, fazendo com que eles fiquem tensos. Grandes espaços abertos são bons para contar histórias e espetáculos, enquanto corredores escuros e apertados são os melhores para sustos", ele afirma.
Além disso, é essencial investir no elemento surpresa. "Depois desse suspense, geralmente colocamos um artista em um canto ou escondido por um objeto. A surpresa permite que o visitante libere toda a tensão com gritos ou risadas", acrescenta Lora Sauls, diretora assistente de desenvolvimento criativo de entretenimento e direção de shows da Universal.
Portal da escuridão
É no cair da noite que os eventos de terror costumam acontecer, deixando o clima ainda mais tenebroso nos parques. "Temos um medo instintivo e primal do escuro. É assim que sobrevivemos como espécie por milhares de anos. Nossa mente diz que é no escuro onde estão as maiores ameaças ao nosso bem-estar e segurança, então, naturalmente, estamos condicionados a ficar em alerta e prontos para agir", comenta David.
Na Universal, o projeto arquitetônico das casas "assombradas" reforça ainda mais a escuridão, com pouca entrada de luz e efeitos especiais para deixar o público vigilante.
"Aumentamos a ansiedade com áudios apropriados e 'stingers' (sons súbitos e altos). Sabemos que fizemos nosso trabalho corretamente quando ouvimos gritos e vemos os visitantes rindo por sobreviverem ao 'perigo'", afirma Lora.
A invocação do mal
O primeiro evento de terror realizado em um parque de diversões aconteceu no Knott's Berry Farm na Califórnia, Estados Unidos, em outubro de 1973. Na ocasião, os ambientes ganharam decoração especial, como abóboras assustadoras, teias de aranha falsas e caveiras de espuma – uma extensão da tradição estadunidense de enfeitar as casas para o Dia das Bruxas.
A iniciativa foi um sucesso e, rapidamente, outros parques nos Estados Unidos e no mundo começaram a criar suas versões da celebração. No Brasil, a iniciativa chegou em agosto de 1988, quando o Playcenter, na capital paulista, organizou o Noites do Terror. Foram realizadas 23 edições do evento até o fechamento do parque, em 2012.
O vale do medo
O Hopi Hari, em Vinhedo (SP), começou a investir na empreitada em 2002 com a Hora do Horror. Para a temporada deste ano, o parque trouxe uma temática medieval e o maior labirinto de sua história, chamado Reinado de Cliff, com 300 metros de extensão.
"A cada ano, escolhemos um tema que gostaríamos de explorar, o público tenha interesse e seja diferente do que já fizemos. Todos os elementos, como cenários, figurinos, shows e maquiagens, são pensados para impactar os visitantes de uma maneira que eles se sintam dentro do espetáculo", diz Anderson Rodrigues, diretor artístico do Hopi Hari.
Nesse sentido, a arquitetura é crucial, pois é ela que dará vida às atrações temporárias. "Sempre contratamos arquitetos para materializar as ideias que desenvolvemos internamente. Muitos profissionais que chamamos fazem esses projetos temáticos de terror pela primeira vez, então complementamos as nossas experiências para construir estruturas lúdicas, sem o aspecto de edificações comuns", ele comenta.
Para 2024, por exemplo, a empresa contratada foi a Artes Cênicas, do artista plástico Lael Araújo e da arquiteta Suellen Simão. Entre as novidades aplicadas nos labirintos, há um sistema de ar-condicionado, melhorando o conforto térmico. "Alguns figurinos são mais quentes e essa solução, trazida pelos arquitetos, melhorou a experiência dos atores e visitantes", fala o diretor.
Além da construção de estruturas temporárias, os parques costumam "redecorar" elementos já existentes, como jardins, lojas e áreas de passagens. A própria entrada do Hopi Hari, por exemplo, sempre é transformada durante a Hora do Horror.
"Todos os detalhes garantem a imersão o dia inteiro, não apenas à noite. Os labirintos são completamente decorados, mesmo que seja difícil enxergar tudo no escuro. Os efeitos de luz, a trilha sonora e a energia dos atores completam essa equação e fazem a mágica acontecer", aponta Anderson. É assim que o medo tem hora para acontecer.