Comportamento

Por Por Isadora Pacello Com Júlia Martinez


A domesticação dos gatos remonta a milhares de anos atrás, no Oriente Médio — Foto: ( Pexels/ Inge Wallumrød/ CreativeCommons)
A domesticação dos gatos remonta a milhares de anos atrás, no Oriente Médio — Foto: ( Pexels/ Inge Wallumrød/ CreativeCommons)

Hoje, 17 de fevereiro, comemora-se o Dia do Gato. A data foi escolhida na Itália para combater os maus-tratos a esses pets. Mas você também pode encontrar quem celebre os bichanos no dia 8 de agosto, graças a uma iniciativa da International Fund for Animal Welfare, ou, ainda, em 20 de fevereiro, em homenagem a Socks, gata de Bill Clinton, ex-presidente dos Estados Unidos.

Enquanto os cães são conhecidos por sua fidelidade, a fama dos gatos é devida à sua personalidade. Isso é o que diz Rômulo Braga, médico-veterinário do CRV Imagem. Mas vale lembrar que, ao contrário do que muitos pensam, os gatos são, sim, apegados aos seus tutores. A personalidade varia de bicho para bicho – há desde os mais brincalhões até os mais reservados.

Mesmo não sendo “úteis” como os cães – que podem ajudar no trabalho pesado e na segurança das casas –, os gatos encantam cada vez mais os humanos. O Dr. Rômulo lembra que esses bichanos são os pets cuja procura mais cresce ao redor do mundo. Mas o convívio entre gatos e humanos remonta a milhares de anos atrás, no Oriente Médio.

A domesticação

O processo de domesticação dos gatos teve início entre dez e onze mil anos atrás, na região do Crescente Fértil (área que atualmente engloba Egito, Líbano, Jordânia, Israel, Síria, Turquia, Irã e Iraque), onde se estabeleceram as primeiras civilizações humanas. Também há descobertas arqueológicas desse período na região de Chipre, e outras mais recentes, de cinco mil anos atrás, na China.

No entanto, Amanda Chaves de Jesus, médica-veterinária e CEO de uma clínica especializada em felinos, ressalta uma das peculiaridades da domesticação dos gatos: “Ela se deu de forma incompleta, ou seja, existe uma parte de felinos que não foi domesticada ou que foi domesticada de maneira parcial”. Isso significa que, ao contrário do que se deu em outros casos, a espécie ancestral, a Felis silvestris, não foi extinta após o processo de domesticação.

Segundo Juliana Gil, médica-veterinária especialista em felinos, a domesticação dos bichanos está relacionada ao início do sedentarismo e da agricultura. “O acúmulo de alimentos provenientes da colheita em silos passou a atrair animais, como ratos e, consequentemente, os gatos”, conta a especialista. A oferta de alimento e de proteção levou à aproximação entre eles e os humanos. A especialista ainda afirma que, diferentemente dos cães, a domesticação desses felinos foi mais lenta e direcionada.

O armazenamento de alimento da colheita, no início da agricultura, atraía ratos e, consequentemente, gatos — Foto: ( Pexels/ Katherine Mihailova/ CreativeCommons)
O armazenamento de alimento da colheita, no início da agricultura, atraía ratos e, consequentemente, gatos — Foto: ( Pexels/ Katherine Mihailova/ CreativeCommons)

Amor e ódio

“Aielurófilos” é o termo usado para designar os amantes de gatos. Ao longo da história, esses felinos passaram por episódios de amor e ódio, a depender dos povos com que se envolveram.

Sabe-se que os antigos egípcios veneravam os gatos. A deusa Bastet, relacionada à fertilidade, possuía, inclusive, a cabeça desse felino. “Há um mito que diz que, certa vez, os antigos persas conseguiram invadir o Egito se valendo dessa adoração. Os soldados persas chegaram carregando gatos nos braços, e os egípcios não puderam atacá-los”, conta o Dr. Rômulo.

“Há relatos sobre os gatos com Maomé, daí talvez venha que alguns povos, como os turcos e os árabes, também protegem mais eles do que os cães. Isso fez um grande contraste com os ocidentais na época da Inquisição”, acrescenta o Dr. Rômulo. Isso porque, na Idade Média, os bichanos eram muito associados às bruxas, que, geralmente, tinham grande envolvimento com a natureza. Por essa razão, os bichos chegaram a ser perseguidos e até mesmo queimados junto com essas mulheres. E, embora esses felinos sejam cada vez mais amados entre os humanos, até hoje há resquícios dessa ressalva – você provavelmente já ouviu falar da superstição de que cruzar o caminho de um gato preto dá azar.

A superstição sobre o gato preto é um resquício da perseguição aos gatos durante a Idade Média — Foto: ( Pexels/ Helena Lopes/ CreativeCommons)
A superstição sobre o gato preto é um resquício da perseguição aos gatos durante a Idade Média — Foto: ( Pexels/ Helena Lopes/ CreativeCommons)

Gatos domésticos e selvagens

Camila Ackermann, médica-veterinária especialista em felinos, afirma que, fisiológica e reprodutivamente, os gatos domésticos se parecem muito com os selvagens. “Não existe uma grande diferença. A maior distinção é que os felinos domésticos são mantidos em casa e já têm um temperamento que aceita a presença dos humanos com facilidade”, explica.

No entanto, segundo a veterinária, mesmo os gatos domésticos ainda podem apresentar impulsos mais selvagens, ligados, sobretudo, à caça e à proteção. É por isso que, de acordo com o Dr. Rômulo, os tutores de gatos precisam fazer o enriquecimento ambiental, a fim de estimular esse instinto e melhorar a qualidade de vida do bichano, evitando, por exemplo, obesidade e diabetes.

Mas o fato de estimularmos esses impulsos dos gatos não significa que eles vão voltar a ser selvagens. “As pessoas confundem animal domesticado com a ideia de que podemos controlar todos os comportamentos desse animal. Obviamente, gatos que não são criados dentro de casa, por humanos, podem ter mais dificuldade de conviver de forma próxima a nós, mas isso não tem relação com voltar a ser selvagem”, explica a Dra. Juliana.

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