Nesta quarta-feira (02), em que o tema saúde e meio ambiente pauta o Menos30 Fest, festival de inovação e empreendedorismo da Globo, uma conversa entre dois especialistas propôs a reflexão sobre a importância da ciência. O biólogo Atila Iamarino e o engenheiro florestal Tasso Azevedo participaram do “Falas Afiadas”, e pediram a participação de todos no momento em que o mundo enfrenta a pandemia do novo coronavírus. A conversa foi transmitida no menos30fest.globo.com, G1 e Youtube da Globo.
– A gente está depositando toda esperança (de controlar a pandemia) em tratamento, vacinas e outras coisas, e tudo isso parte da ciência, mas o que a ciência aponta ainda depende de um esforço coletivo muito grande (...) O “eu” some dessa história. Tudo somos nós: nós precisamos usar máscara, nós precisamos nos vacinar, nós precisamos nos isolar, nos cuidar – destacou Atila.
Para o biólogo, que é doutor em virologia e faz divulgação científica através de um canal na internet, há um entendimento da relevância decisiva da ciência em todo o processo. O caminho agora é uma interação maior (e melhor) com a sociedade.
– Acho que o papel da ciência está muito bem estabelecido. Transmitir para as pessoas a importância disso e o quanto a gente tem que mudar a nossa vida, agora que a gente entende isso, é o mais difícil. Com a Covid, é o grande problema: a gente sabe o que o vírus faz e como se espalha. A grande dificuldade é convencer as pessoas a respeitar ou agir de acordo com isso. A gente sabe da importância da vacina, a dificuldade lá na frente vai ser convencer as pessoas a se vacinarem – disse.
Tasso Azevedo também demonstrou preocupação com a postura de quem tem informação, conhece os perigos do vírus e, ainda assim, trata a situação com normalidade.
– Fico chocado. Temos mil pessoas morrendo por dia no Brasil (de Covid), que é quatro vezes um desastre como o de Brumadinho, e a gente está normalizando isso. Mil pessoas morrendo e as pessoas voltando à vida normal. E é algo que a gente tem também com relação aos problemas ambientais. Por muito tempo a gente conviveu com taxas de desmatamento muito altas, tratando isso como se fosse algo normal – considerou.
Para o engenheiro florestal, o que a sociedade precisa normalizar é a conexão com a natureza. Ele recomenda especialmente que crianças e jovens sejam estimulados a ter esse contato com frequência:
– Uma das coisas que falta pra gente, como sociedade, cada vez mais, é ter o contato com a natureza. A gente está ficando muito distante dela. Tenho visto muito essa dificuldade dos jovens e crianças enxergarem isso como algo normal, não como uma coisa que você faz como uma aventura. Essa noção da natureza como algo próximo é algo que a gente precisa desenvolver muito.
Ainda assim, Tasso acredita na mudança e projeta o futuro com otimismo – com ganho florestal, energia renovável, agricultura regenerativa do solo e alimentos mais saudáveis.
– Acho que o futuro do Brasil e do mundo é dar esse salto. Se o passado foi o da indústria, esse será o século em que a gente fez as pazes com o mundo e vamos sair, no final, nos sentindo plenamente integrados com o ambiente em que a gente vive.
Os dois aproveitaram a interação para entrevistar um ao outro. Confira:
TASSO AZEVEDO ENTREVISTA ATILA IAMARINO
O que você gostaria de ver na próxima vez que olhasse no microscópio? Gostaria de ver uma microscopia eletrônica mostrando o novo coronavírus com um anticorpo ligado nele, mostrando que a resposta da vacina que a gente está tomando funciona e protege a gente do vírus.
Complete a frase: lugar de cientista é... Na sociedade, devolvendo para a sociedade o que a sociedade investiu neles para conhecer o mundo.
Uma descoberta que você gostaria de ter feito: a relação entre todos os seres vivos. Quando a gente descobriu como o DNA funciona, olhou para o DNA de todos os seres vivos e viu que todos têm uma origem em comum e que somos todos relacionados. Adoraria ter descoberto isso e poder gritar para o mundo que somos todos parentes, temos todos uma mesma origem.
Qual a maior “nerdice” que você já fez? Criar canais no Youtube para convencer as pessoas a ouvirem o que tenho para contar, do que estou descobrindo, que é muito legal. É criar canais para continuar estudando e aprendendo o que eu gosto.
Uma dica de saúde: Cuidem bem da natureza… Mentira, essa vou deixar pra você. Mantenham o distanciamento, usem máscara, aprendam a fazer isso bem hoje, porque a gente precisa fazer para a Covid, mas da maneira como a gente convive e viaja bastante, a Covid é um dos vírus respiratórios que deve saltar para humanos. Nós provavelmente vamos ter outros pela frente e precisamos aprender a conviver com eles. Distanciamento, máscara, essas coisas, é uma lição que provavelmente a gente vai carregar por bastante tempo.
ÁTILA IAMARINO ENTREVISTA TASSO AZEVEDO
Se você estivesse aqui na descoberta do Brasil, quando os europeus estavam descendo por aqui e encontrando os nativos, o que queria ver de diferente? Se eu estivesse no barco, que era o mais provável, eu queria ser o Pero Vaz de Caminha., Eu faria aquela carta toda e colocaria um adendo no final: vamos embora que eles estão bem aqui.
Você falou em Mata Atlântica. E o Cerrado? Cerrado ou Mata Atlântica? Fico com o ecótono, que é a confluência entre os biomas. A gente tem seis biomas no Brasil e são todos muito importantes, todos têm o seu valor, a sua importância e as razões para mantê-los.
Um sonho? Viajar no tempo. Se eu pudesse viajar no tempo ia ser sensacional. É meio infantil. Queria voltar pelo menos uns dois mil anos para ver como era o mundo quando ele foi o mais coberto de florestas possível e queria dar um pulinho uns 100 anos para frente para saber se meu futuro otimista vai estar lá.
Uma árvore que você gosta muito? Jatobá. Não sei por que cismei com essa árvore há muito tempo porque comi o fruto dela. Acho que foi a primeira árvore grande na floresta em que comi o fruto, que não tinha nada a ver com algum fruto que a gente conhece, do dia a dia. Cismei com ela. Meu primeiro computador, o nome dele na rede era jatobá.
Uma dica de saúde: Andar muito, se possível, na natureza. É muito bom. Mas nos tempos que a gente vive, diria que a gente tem que ser avarento no ódio e esbanjar amor. O mundo está muito difícil.
Sobre o Menos30 Fest
O Menos30 Fest, patrocinado por SEBRAE e SENAI/SESI, segue até sexta-feira, dia 4 de setembro. Com o tema “É hora de empreender mudanças”, debate sociedade digital, nova aprendizagem, saúde e meio ambiente, impacto social e cultura. Confira a programação completa.