Descrição
Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou.”
João Guimarães Rosa, em Grande Sertão: Veredas.
Espinosa (1632 – 1677) é um dos maiores pensadores modernos, mas certamente não o encontraremos nos manuais de psicologia. Mas, se ele escreveu sobre filosofia, o que faz de seu pensamento algo importante o bastante para nós o considerarmos, neste curso, como se fosse um psicólogo? Muito simples, o filósofo holandês se debruça sobre a natureza humana, considera suas múltiplas facetas e busca um remédio para as dores, aflições e insatisfações da nossa existência.
Ou seja, mesmo não sendo um psicólogo, a filosofia de Espinosa nos permite antecipar inúmeras afirmações que posteriormente os psicólogos fariam. A ligação mente e corpo, nossos pensamentos supersticiosos, as emocões pelas quais sentimos ao longo de nossa existência, as melhores maneiras de lidar com nossa finitude, pequenez e limitações. Em outras palavras, Espinosa não era um psicólogo, mas seu pensamento está na base de muitas das ideias que viriam a se desenvolver pelas mais diversas abordagens da psicologia posteriormente.
Filosofamos porque sofremos, porque temos medo, porque inúmeras vontades permancem insatisfeitas. A religião oferece as suas alternativas, que Espinosa simplesmente descarta como irracionalidades; a psicologia buscará as suas, mas ainda não havia se desenvolvido na época do pensador holandês. Por isso, a filosofia de Espinosa está no meio: herda da religião a necessidade de oferecer para a humanidade um caminho que nos possibilite encontrar a salvação, e oferecerá os recursos filosóficos que serão desenvolvidos pela psicologia para as pessoas se realizarem neste vida, neste mundo.
Ora, cabe ao filósofo este dever (quase tão antigo quanto a filosofia) de buscar racionalmente uma alternativa, proporcionar uma medicina da alma. Não foi algo que todas as religiões se dispuseram a oferecer? Certamente. Não é grande parte da responsabilidade ética hoje da psicologia? Com toda certeza. E seu sucesso e longevidade resulta em grande parte do pensamento profundo e radical de Baruch de Espinosa.
Bibliografia
Em Busca de Espinosa – Antonio Damásio, Ed. Companhia das Letras
A Unidade do Corpo e da Mente – Chantal Jaquet, Ed. Autêntica
Ética – Baruch de Spinoza, Ed. Autêntica
Tratado da Emenda do Intelecto – Baruch de Espinosa, Ed. Unicamp
Espinosa e outros Hereges – Yirmiyahu Yovel, Ed. Imprensa Nacional – Cada da Moeda
O Mal – Luís Cesar Oliva, Ed. Edições 70
Alegria e Felicidade – Marcos Ferreira de Paula, Ed. Edusp
Desejo, Paixão e Ação na Ética de Espinosa – Marilena Chaui, Ed. Companhia das Letras
Espinosa e o Problema da Expressão – Gilles Deleuze, Ed. 34
Espinosa, Filosofia Prática – Gilles Deleuze, Ed. Escuta
Elogio da Filosofia – Pierre Hadot – Ed. Loyola
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