Ossanhe
Oçânhim | |
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Oçânhim incorporado no terreiro de Ilê Axé Ijino Ilu Oróssi, em Salvador | |
Nome nativo | Ògún |
Parte da série sobre |
Candomblé |
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Cidades sagradas |
Oçânhim,[1] Oçãe,[2] Oçãim,[3] Oçanha,[4] Oçanhe,[5] Oçânim,[6] Oçonhe,[7] Ossanha,[8][9] Ossaim[10][11] ou Ossanhe[12] (em iorubá: Ọ̀sányin)[13] é o orixá das folhas sagradas, ervas medicinais e litúrgicas, identificado no jogo do merindilogum pelo odus Icá[11] e ejilobom[14] e representado material e imaterialmente pela cultura Jeje-Nagô, através do assentamento sagrado denominado ibá de Oçânhim. Sua importância é primordial. Nenhuma cerimônia pode ser realizada sem sua interferência. O seu sacerdote é o Baba ewe ou Babalossaim.
Descrição
[editar | editar código-fonte]É o detentor do axé (força, poder, vitalidade), de que nem mesmo os Orixás podem privar-se. Esse axé encontra-se em folhas e ervas específicas. O nome dessas folhas e o seu emprego é a parte mais secreta do ritual do culto dos orixás, voduns e inquices.
O símbolo de Oçânhim é uma haste de ferro de cuja extremidade superior partem sete pontas dirigidas para o alto. A do centro é encimada pela imagem de um pássaro.
Oçânhim é o companheiro constante de Ifá. É representado por uma sineta de ferro forjado, terminada por uma haste pontuda enfiada em uma grande semente. A haste é fincada no chão, ao lado do ossum (o assém dos fons) do babalaô. Por sua presença, Oçânhim traz a influência das folhas para as operações da adivinhação.
A ele são associados o pilão e instrumento de sete pontas com uma no centro com um pássaro no alto.[15]
Brasil
[editar | editar código-fonte]No candomblé jeje, é chamado de Agué: é o Vodum da caça e das florestas e conhece os segredos das folhas. No candomblé bantu, é chamado de Catendê, Senhor das insabas (folhas). Babá Olossaim, Oxumarê , Obaluaiê e Ieuá são filhos de Nanã com Oxalá.
Comanda as folhas medicinais e litúrgicas, chamadas de folha sagrada, que são utilizadas numa mistura especial chamada de abô. Muitas vezes, é representado com uma única perna. Cada orixá tem a sua folha, mas só Ossaim detém seus segredos. E sem as folhas e seus segredos não há axé, portanto sem ele nenhuma cerimônia é possível.
- Ferramenta: sua ferramenta tem uma haste central com um pássaro na ponta, do meio dessa haste saem sete pontas, chamada de Opere ou Avivi .
- Cores: Verde, branco, e todas as variações de verde dependendo da nação.
- Fio-de-contas verde, branco, verde rajado de branco ou branco rajado de verde.
- Animais: Bode e galo, entre outros.
- Saudação: Ewê Assáo Eruéje
Itã de Oçânhim
[editar | editar código-fonte]Oçânhim recebera de Olodumarê o segredo das folhas. Oçânhim sabia que algumas delas traziam a calma ou o vigor. Outras, a sorte, a glória, as honras ou ainda, a miséria, as doenças e os acidentes. Os outros orixás não tinham poder sobre nenhuma planta. Eles dependiam de Oçânhim para manter sua saúde ou para o sucesso de suas iniciativas.
Xangô, cujo temperamento é impaciente, guerreiro e impetuoso, irritado por esta desvantagem, usou de um ardil para tentar usurpar Oçânhim a propriedade das folhas. Falou dos planos à sua esposa Iansã, explicou-lhe que, em certos dias, Oçânhim pendurava, num galho de Irocô, uma cabaça contendo suas folhas mais poderosas. Desencadeie uma tempestade bem forte num desses dias, disse-lhe Xangô. Iansã aceitou a missão com muito gosto.
O vento soprou a grandes rajadas, levando o telhado das casas, arrancando árvores, quebrando tudo por onde passava e, o fim desejado, soltando a cabaça do galho onde estava pendurada. A cabaça rolou para longe e todas as folhas voaram.
Os orixás se apoderaram de todas. Cada um tornou-se dono de algumas delas, mas Oçânhim permaneceu "senhor/senhora do segredo" de suas virtudes e das palavras que devem ser pronunciadas para provocar sua ação. E assim, continuou a reinar sobre as plantas como senhor absoluto, graças ao poder (axé) que possui sobre elas.
Na cultura popular
[editar | editar código-fonte]Ossanhe é representado na música "Canto de Ossanha", escrita por Vinicius de Moraes por Baden Powell em 1966 e gravada por diversos artistas, sendo o afrosamba mais conhecido e regravado do planeta.[16][17]
Referências
- ↑ «Oçânhim». Michaelis
- ↑ «Oçãe». Michaelis
- ↑ «Oçãim». Michaelis
- ↑ «Oçanha». Michaelis
- ↑ «Oçanhe». Michaelis
- ↑ «Oçânim». Michaelis
- ↑ «Oçonhe». Michalis
- ↑ Ferreira 1986, p. 1236.
- ↑ «Ossanha». Michaelis
- ↑ Prandi 2001, p. 150.
- ↑ a b Rocha 2007, p. 173.
- ↑ Castro 2001, p. 310.
- ↑ Beniste 2011, p. 626.
- ↑ Beniste 2011, p. 142.
- ↑ Carybé 1979, p. 38.
- ↑ Trevisan, Ana Júlia. «Orixá das folhas sagradas: entenda o significado por trás de "Canto de Ossanha"». Terra. Consultado em 13 de maio de 2024
- ↑ do Espirito Santo, José Julio (18 de dezembro de 2009). «Nº 9 - Canto de Ossanha». Rolling Stone Brasil. Consultado em 30 de maio de 2024
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Beniste, José (2011). Dicionário yorubá-português. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil
- Castro, Yeda Pessoa de (2001). Falares africanos na Bahia: um vocabulário afro-brasileiro. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras
- Carybé (1979). Mural dos orixás. Salvador: Banco da Bahia Investimentos S/A
- Ferreira, A. B. H. (1986). Novo dicionário da língua portuguesa 2.ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira
- Prandi, Reginaldo (2001). Mitologia dos Orixás. São Paulo: Companhia das Letras
- Rocha, Agenor Miranda (2007). Caminhos de Odu. Organização de Reginaldo Prandi 4.ª ed. Rio de Janeiro: Pallas