Maafa
Maafa (ou Holocausto africano, Holocausto da escravidão ou Holocausto negro)[1][2][3] são neologismos políticos (que se tornaram populares de 1998 pra frente[4][5][6][7]) usados para descrever a história e os efeitos contínuos das atrocidades infligidas ao povo africano, particularmente quando cometidos por não-africanos (europeus e árabes, para ser exato)[8] especificamente no contexto da história da escravidão, incluindo o tráfico árabe de escravos e o comércio atlântico de escravos e dito como "presente até os dias atuais" através do imperialismo, colonialismo e outras formas de opressão.[4][6][7][9][5][10] Por examplo, Maulana Karenga (2001) coloca a escravidão no contexto mais amplo do Maafa, sugerindo que seus efeitos excederam a mera perseguição física e marginalização legal: a "destruição da possibilidade de humanidade envolveu a redefinição da humanidade africana para o mundo, envenenando relações passadas, presentes e futuras com outros que nos conhecem através desta estereotipagem, assim danificando as relações verdadeiramente humanas entre os povos."[11]
História e terminologia
[editar | editar código-fonte]O uso do termo suaíle Maafa ("Grande Desastre") no inglês foi introduzido por Marimba Ani em seu livro de 1998 Let the Circle Be Unbroken: The Implications of African Spirituality in the Diaspora.[12][13] Vem de um termo em suaíle para "desastre, terrível ocorrência ou grande tragédia".[14][15] O termo foi popularizado na década de 1990.[16]
Alguns acadêmicos como Maulana Karenga preferem o termo Holocausto africano porque implica intenção.[carece de fontes] Um problema detectado por Karenga é que a palavra Maafa também pode ser traduzida como "acidente", e na visão de alguns intelectuais o holocausto da escravidão não foi acidental. Ali Mazrui diz que a palavra "holocausto" é um "plágio duplo" já que o termo vem do antigo grego e portanto, embora seja associado com o genocídio de judeus, ninguém pode ter um monopólio sobre o termo. Mazrui diz que "esse empréstimo de mutuários sem atribuição é o que eu chamo de 'plágio duplo'. Mas esse plágio é justificável porque o vocabulário de horrores como genocídio e escravidão não deve estar sujeito a restrições de direitos autorais."[17]
Alguns intelectuais afrocêntricos preferem o termo Maafa em vez de Holocausto africano,[18] porque acreditam que a terminologia indígena africana transmite mais verdadeiramente os eventos.[13] O termo Maafa pode servir "praticamente para o mesmo propósito psicológico cultural para os africanos que a ideia de Holocausto serve para nomear a experiência culturalmente distinta dos judeus sob o nazismo alemão."[19] Outros argumentos a favor de Maafa em vez de Holocausto africano dão ênfase para o fato de que a negação da validade da humanidade africana é um fenômeno secular sem paralelo: "O Maafa é um sistema contínuo, constante e completo de total negação e anulação humana."[7]
Os termos "Comércio Transatlântico de Escravos", "Comércio Atlântico de Escravos" e "Comércio de Escravos" também são considerado por alguns[quem?] como profundamente problemáticos, porque servem de eufemismos para intensa violência e assassinato. Ao ser referido como um "comércio", este período prolongado de perseguição e sofrimento é apresentado como um dilema comercial, e não como uma atrocidade moral.[20] Tendo o comércio como foco principal, a tragédia mais ampla se torna consignada a um ponto secundário, como mero "dano colateral" de um empreendimento comercial. Outros,[quem?] porém, acreditam que evitar o termo "comércio" é um ato apologético em favor do capitalismo, absolvendo as estruturas capitalistas de envolvimento na catástrofe humana.[21]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ William Wright aponta para as diferenças entre história negra e história africana e defende que o Holocausto Africano é um grande motivo pelo qual essas duas histórias não são sinônimas: William D. Wright, Black History and Black Identity: A Call for a New Historiography, p. 117
- ↑ «What Holocaust». "Glenn Reitz". Consultado em 18 de dezembro de 2018. Arquivado do original em 18 de outubro de 2007
- ↑ Ryan Michael Spitzer, "The African Holocaust: Should Europe pay reparations to Africa for Colonialism and Slavery?", Vanderbilt Journal of Transnational Law, vol. 35, 2002, p. 1319.
- ↑ a b Barndt, Joseph. Understanding and Dismantling Racism: The Twenty-First Century. 2007, página 269.
- ↑ a b The Global African: A Portrait of Ali A. Mazrui. Omari H. Kokole.
- ↑ a b Reparations for the Slave Trade: Rhetoric, Law, History and Political Realities”.
- ↑ a b c Jones, Lee and West, Cornel. Making It on Broken Promises: Leading African American Male Scholars Confront the Culture of Higher Education. 2002, p. 178.
- ↑ Stewart, Sharon; Butts, Edward; Sadlier, Rosemary, Canadian Cultural Heritage Bundle: Louis Riel / Harriet Tubman / Simon Girty, Dundurn (2013), p. 314, ISBN 9781459727915
- ↑ Wright, William D. (2001). Black History and Black Identity: A Call for a New Historiography (em inglês). [S.l.]: Greenwood Publishing Group. ISBN 9780275974428
- ↑ Ryan Michael Spitzer, "The African Holocaust: Should Europe pay reparations to Africa for Colonialism and Slavery?", Vanderbilt Journal of Transnational Law, vol. 35, 2002, p. 1319.
- ↑ «Letter by Maulana Karenga, 2001». H-net.msu.edu. 29 de abril de 2010. Consultado em 14 de outubro de 2015
- ↑ Dove, Nah. Afrikan Mothers: Bearers of Culture, Makers of Social Change. 1998, p. 240.
- ↑ a b Gunn Morris, Vivian and Morris, Curtis L. The Price They Paid: Desegregation in an African American Community. 2002, p. x.
- ↑ Harp, O.J. Across Time: Mystery of the Great Sphinx. 2007, p. 247.
- ↑ Cheeves, Denise Nicole (2004). Legacy. [S.l.: s.n.] p. 1
- ↑ Pero Gaglo Dagbovie (2010). African American History Reconsidered. [S.l.]: University of Illinois Press. p. 191
- ↑ «Ancestry, Descent And Identity» (PDF). Igcs.binghamton.edu. Consultado em 14 de outubro de 2015. Arquivado do original (PDF) em 13 de março de 2012
- ↑ Tarpley, Natasha. Testimony: Young African-Americans on Self-Discovery and Black Identity. 1995, p. 252.
- ↑ Aldridge, Delores P. and Young, Carlene. Out of the Revolution: The Development of Africana Studies. 2000, p. 250.
- ↑ Diouf, Sylviane Anna. Fighting the Slave Trade: West African Strategies. 2003, p. xi.
- ↑ Epps, Henry. A Concise Chronicle History of the African-American People Experience in America. [S.l.]: Lulu.com. p. 57. ISBN 9781300161431. Consultado em 24 de fevereiro de 2015
- Anderson, S. E., The Black Holocaust For Beginners, Writers & Readers, 1995.
- Ani, Marimba, Let The Circle Be Unbroken: The Implications of African Spirituality in the Diaspora. New York: Nkonimfo Publications, 1988 (orig. 1980).