Caônios
caônios (em grego: Χάονες; romaniz.: Chaones) foram uma antiga tribo grega que habitou o Epiro, na região da Caônia, localizado atualmente no noroeste da moderna Grécia e sul da Albânia.[1][2][3] Na fronteira sul deles ficava outra tribo epirota, a dos molossos, e ao norte viviam as tribos ilírias. Segundo Virgílio, Caão foi um ancestral epônimo dos caônios. Pelo século V a.C., conquistaram e combinaram-se em grande escala com os vizinhos tesprócios e molossos. Os caônios fizeram parte da Liga Epirota até 170 a.C. quando o território deles foi anexado pela República Romana.
História
[editar | editar código-fonte]Os caônios originalmente habitavam a Caônia e tinham como principais vizinhos os ilírios, que residiam nas regiões costeiras e interioranas ao norte; o Périplo de Pseudo-Cílax faz uma clara distinção entre os caônios e as tribos ilírias.[4] Estavam assentados em Kata Komas (em grego: Κατά Κώμας), o que significa um conjunto de vilas e não uma pólis organizada (apesar do fato de que chamavam sua comunidade pólis), e foram um Estado tribal no século V a.C. com capital em Fenice.[5]
Durante a Guerra do Peloponeso, gozaram de grande reputação e, provavelmente, é neste contexto que Estrabão menciona que eles governaram sobre o Epiro inteiro.[6] Sua importância foi novamente referida na obra de Aristófanes,[7] que usa o nome da tribo como um trocadilho para ilustrar o caos da política externa ateniense.[8] Segundo Tucídides, os líderes deles foram escolhidos em uma base anual; ele nomeia dois de tais líderes, Fócio e Nicanor "da linhagem reinante".[9]
No século IV a.C., os caônios adotaram o termo próstata (em grego: Προστάτης; romaniz.: prostates; "governante") para descrever seus líderes,[10] como muitos outros estados tribais gregos no período. Outros termos para o ofício foram gramateu (em grego: Γραμματεύς; romaniz.: grammateus; "secretário"), demiurgos (em grego: Δημιουργοί; romaniz.: demiourgoi; "criadores"), hieromneno (em grego: Ἱερομνήμονες; romaniz.: hieromnemones; "da memória sagrada") e sinarconte (em grego: Συνάρχοντες; romaniz.: synarchontes; "co-governante").[11][12]
Eles juntaram-se a Liga Epirota, fundada em 325/320 a.C., unindo seus territórios com aqueles dos tesprócios e molossos em um estado vagamente federado que tornou-se um grande poder na região. Em 230 a.C., segundo Políbio, Fenice foi alvo dum raide ilírio devastador, um incidente que produziu ramificações políticas significativas: muitos comerciantes italianos que estavam na cidade no tempo do saque foram mortos ou escravizados pelos ilírios, o que levou a República Romana a lançar a primeira das três Guerras Ilíricas no ano seguinte.[13] Em 170 a.C., a Liga Epirota foi conquistara por Roma.[14] Durante o século II d.C., os prasebos (prasaebi) substituem os caônios no controle de Butroto, como atestado em inscrições do período.[15]
Origens mitológicas
[editar | editar código-fonte]Os caônios alegaram que a casa real deles foi de descendência troiana, afirmando ascendência com o herói epônimo Caão (em grego: Χάων) que deu seu nome a Caônia. Ele teve algum tipo desconhecido de relação com Heleno e acompanhou-o à corte de Neoptólemo.[16] Após sua morte, também incerta, Heleno nomeou parte de seu reino em honra a Caão. Os vizinhos dos caônios, os molossos e tesprócios, também afirmavam descendência troiana. Tem sido sugerido que um mito de origem muito similar aquele dos caônios pode ter surgido como uma resposta para as auto-definições dos molossos e tesprócios.[17]
Lista de caônios
[editar | editar código-fonte]- Fócio e Nicanor, líderes dos caônios na Guerra do Peloponeso (ca. 431−421 a.C.).[9]
- Doropso (em grego: Δόροψος), teoródoco em Epidauro (ca. 365 a.C.).
- Antanor (filho de Eutímides), próxeno em Delfos (325−275 a.C.).
- Peucesto, próxeno em Tirreião, Acarnânia (século III a.C.).
- Mirtilo, oficial que deu ao beócio Calímelo o decreto da proxenia (final do século III a.C.).
- Bisco (filho de Messaneu), próstata (final do século III a.C.).
- Lícida (filho de Helino), próstata (ca. 232−162 a.C.).
- -to (filho de Lísias), vencedor na luta das Panatenaicas (ca. 194/193 a.C.).
- Caropo, filho de Macatas e pai de Caropo, o Jovem - políticos filo-romanos. (século II a.C.).[18]
Referências
- ↑ Lewis 1994, p. 430; 434.
- ↑ Boardman 1982, p. 284.
- ↑ Wilkes 1995, p. 104.
- ↑ Lewis 1994, p. 433.
- ↑ Nielsen 1997, p. 14.
- ↑ Estrabão século I, p. 7.5.
- ↑ Smith 1870, p. 832.
- ↑ Reckford 1987, p. 167.
- ↑ a b Tucídides século V a.C., p. 2.80.5.
- ↑ «προστάτης» (em inglês). Consultado em 26 de agosto de 2013
- ↑ Horsley 1987, p. 243.
- ↑ Hornblower 2002, p. 199.
- ↑ Astin 1989, p. 81-106.
- ↑ Walbank 1989, p. 459.
- ↑ Gildersleeve 1947, p. 102-103.
- ↑ Virgílio século I a.C., p. 3.295.
- ↑ Malkin 1998, p. 138.
- ↑ Toynbee 1965, p. 472.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Astin, A. E. (1998). The Cambridge Ancient History: Rome and the Mediterranean to 133 B.C. Cambridge: University of California Press. ISBN 0-521-23448-4
- Boardman, John; Nicholas Geoffrey Lemprière Hammond (1982). The Cambridge Ancient History - The Expansion of the Greek World, Eighth to Sixth Centuries B.C., Part 3: Volume 3 (Second Edition). Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 0-521-23447-6
- Estrabão (século I). Geografia. livro VII. [S.l.: s.n.]
- Gildersleeve, Basil Lanneau; Miller, Charles William Emil; Meritt, Benjamin Dean; Frank, Tenney; Cherniss, Harold Fredrik; Rowell, Henry Thompson (1947). American Journal of Philology. 68. [S.l.]: Johns Hopkins University Press
- Grimal, Pierre; Maxwell-Hyslop, A. R. (1996). The Dictionary of Classical Mythology. Malden, Massachusetts: Wiley-Blackwell. ISBN 0-631-20102-5
- Hansen, Mogens Herman; Nielsen, Thomas Heine (2004). An Inventory of Archaic and Classical Poleis. Oxford: Oxford University Press. ISBN 0-19-814099-1
- Hornblower, Simon (2002). The Greek World, 479-323 BC. Nova Iorque e Londres: Routledge. ISBN 0-415-16326-9
- Horsley, G. H. R. (1987). New Documents Illustrating Early Christianity: A Review of the Greek Inscriptions and Papyri Published in 1979. Grand Rapids, Michigan: Wm. B. Eerdmans Publishing. ISBN 0-85837-599-0
- Lewis, David Malcolm; Boardman, John (1994). The Cambridge Ancient History: The Fourth Century B.C. Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 0-521-23348-8
- Malkin, Irad (1998). The Returns of Odysseus: Colonization and Ethnicity. Barkeley e Los Angeles: University of California Press. ISBN 0-520-21185-5
- Nielsen, Thomas Heine (1997). Yet More Studies in the Ancient Greek Polis. Estugarda: Franz Steiner Verlag. ISBN 3-515-07222-5
- Reckford, Kenneth J. (1987). Aristophanes' Old-And-New Comedy: Six Essays in Perspective. Chapel Hill, Carolina do Norte: The University of North Carolina Press. ISBN 0-8078-1720-1
- Smith, William (1870). Dictionary of Greek and Roman Geography. [S.l.]: Little, Brown and Company
- Toynbee, Arnold Joseph (1965). Hannibal's Legacy: The Hannibalic War's Effects on Roman Life. Oxford: Oxford University Press
- Tucídides (século V a.C.). História da Guerra do Peloponeso. [S.l.: s.n.]
- Virgílio (século I a.C.). Eneida. [S.l.: s.n.]
- Walbank, Frank William (1989). The Cambridge Ancient History (Volume 7, Part 2): The Rise of Rome to 220 BC. Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 0-521-23446-8
- Wilkes, John (1995). The Illyrians. Oxford: Blackwell Publishers Limited. ISBN 0-631-19807-5