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Ziembinski

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Ziembinski
Ziembinski
Ziembinski em 1950.
Nome completo Zbigniew Marian Ziembiński
Outros nomes Zimba
Nascimento 17 de março de 1908
Wieliczka, Reino da Galícia e Lodoméria, Áustria-Hungria
Morte 18 de outubro de 1978 (70 anos)
Rio de Janeiro, Brasil
Nacionalidade polonesa
brasileira
Cônjuge Maria Prozynska (1936-1939)
Ocupação
Período de atividade 1927–1978

Zbigniew Marian Ziembiński (Wieliczka, 17 de março de 1908[1][2][3]Rio de Janeiro, 18 de outubro de 1978), mais conhecido apenas como Ziembinski, foi um ator e diretor polonês naturalizado brasileiro.

Vida e carreira

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Desde os doze anos envolvido com o mundo teatral, em 1941, aos 33 anos, deixa a Polônia (ocupada pela Alemanha e União Soviética), quando emigra para o Brasil, desembarcando no Rio de Janeiro em 6 de julho de 1942.

Chamado carinhosamente de Zimba, é considerado um dos fundadores do moderno teatro brasileiro por sua encenação inovadora do texto Vestido de Noiva, em 1943 do dramaturgo Nelson Rodrigues. Com esta montagem e por seu processo de ensaio, introduz-se a noção de diretor no teatro brasileiro, aquele que cria uma encenação, quase como um pintor da cena, substituindo a de ensaiador, aquele que se preocupava apenas em distribuir papéis e ordenar a movimentação em cena.

A direção de Ziembiński de Vestido de Noiva, soube equacionar os vários planos propostos por Nelson Rodrigues, que contrastam entre o imaginário, o sonho e a realidade de forma brilhante, aliada à cenografia de Tomás Santa Rosa, com enorme quantidade de variações de luz - fala-se em 132 diferentes efeitos utilizados na encenação, fato marcante na história do teatro brasileiro da época. Outra novidade introduzida por Zimba foi o extenso processo de ensaios no grupo amador que encenou a peça The Comedians, que consumiu muitos meses. Até aquela peça, o usual no teatro brasileiro era ensaiar um semana e apresentar-se na seguinte, com poucos ensaios e com os atores recebendo apenas as suas falas, método comum no teatro profissional de Procópio Ferreira e de seus contemporâneos.

Antes de chegar ao Brasil, formou-se em letras e cursou a Escola de Arte Dramática do Teatro Municipal de Cracóvia, atuando em mais de vinte papéis entre 1927-1929. Depois desloca-se para Varsóvia onde trabalha como diretor e ator no "Teatr Polski" (Teatro Polaco) e "Teatr Mały" (Teatro Pequeno). Em 1931, já em Łódź atua e dirige algumas peças no Teatro Municipal e no Teatro de Câmara. Em 1933 retorna a Varsóvia, onde trabalha intensamente até o início da Segunda Guerra Mundial. O repertório das peças dirigidas por Ziembinski na Polônia foi majoritariamente de textos de autores poloneses, o inverso do que fará no Brasil, procurando encenar autores de muita importância na dramaturgia universal.

Este fato pode ser acompanhado pelos espetáculos que se seguiram a Vestido de Noiva: em 1943, Pelleas e Melisande de Maeterlinck com a mesma companhia, e Anjo Negro, retornando a Nélson Rodrigues, em 1948, com o Teatro Popular de Arte (TPA), onde Ziembinski retoma o estilo expressionista introduzido em sua primeira peça brasileira. Se este texto de Nelson Rodrigues expõe acidamente a questão do racismo, Ziembinski irá sobrepor efeitos que engrossarão o caldo da polêmica e do escândalo. No mesmo ano e na mesma companhia, dirige e protagoniza Woyzeck, de Georg Büchner.

Antes de se mudar para São Paulo, convidado a participar do Teatro Brasileiro de Comédia, Ziembinski dirige em Recife o simbólico Nossa Cidade, de Thornton Wilder (1949), Pais e Filhos, de Ivan Turgueniev, e Esquina Perigosa, de J. B. Priestley, no Teatro de Amadores de Pernambuco TAP. Outra incursão, agora no Teatro Universitário de Pernambuco (TUP), será Além do Horizonte, de Eugene O'Neill, e Fim de Jornada, de Robert Sheriff.

Em 1950 além de trabalhar no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) de Franco Zampari, fez vários trabalhos com Cacilda Becker e também leciona arte dramática na então Escola de Arte Dramática (EAD), de Alfredo Mesquita, entre 1951 e 1957.

No cinema participa do filme Tico-tico no Fubá, com Anselmo Duarte e Tônia Carrero e A Madona de Cedro. Tendo participado em mais de cem espetáculos em solo brasileiro e trabalhado com importantes atores como Cacilda Becker, Walmor Chagas, Cleyde Yáconis, Nicette Bruno, Paulo Goulart, Fernando Torres, marcou uma geração inteira de artistas, ao mesmo tempo que trouxe a cena uma quantidade importantes de importantes dramaturgos da cena internacional.

Já nos anos setenta será contratado pela Rede Globo onde coordenou diversos núcleos de produção, especialmente o Departamento de Casos Especiais.

Foram 50 anos de teatro, 35 deles no Brasil, dirigindo 94 peças. Também foi pintor e fotógrafo até 1978. Morreu aos 70 anos. Para o crítico Sábato Magaldi Ziembiński foi "um monstro do teatro, figura extraordinária que pairou sobre a beleza do Rio de Janeiro".

Em novembro de 1977, Ziembinski foi internado para a retirada de um tumor intestinal. Um mês antes de falecer, foi internado com problemas renais, mas os médicos lhe deram alta sem operá-lo. Sob cuidados médicos, passou os últimos trinta dias em seu apartamento, na Rua Leocádia no bairro de Copacabana, onde seu organismo sucumbiu a uma crise final de uremia.[4] Seu corpo foi velado no Theatro Municipal do Rio de Janeiro e posteriormente sepultado no Cemitério de São João Batista, Rio de Janeiro.[4] [5]

Trabalhos em Teatro[1]

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  • A Verdade de Cada Um (1940)
  • À Beira da Estrada (1941)
  • Orfeu (1942)
  • As Preciosas Ridículas (1942)
  • Fim de Jornada (1943)
  • Pelleas e Melisanda (1943)
  • Vestido de Noiva (1943, 1945, 1947)
  • A Família Barrett (1945)
  • Era uma Vez um Preso (1946-1947)
  • Desejo (1946)
  • A Rainha Morta (1946)
  • Terras do Sem Fim (1947)
  • Não Sou Eu (1947)
  • Vestir os Nus (1948)
  • Anjo Negro (1948)
  • Medeia (1948)
  • Uma Rua chamada Pecado (1948)
  • Lua de Sangue (1948)
  • Os Homens (1948)
  • Revolta em Recife (1948)
  • Estrada do Tabaco (1949)
  • Nossa Cidade (1949)
  • Pais e Filhos (1949)
  • Além do Horizonte (1949)
  • Esquina Perigosa (1949)
  • Fim de Jornada (1949)
  • Em Viagem (1949)
  • Fausto (1949)
  • Assim Falou Freud (1950)
  • Dorotéia (1950)
  • Amanhã, Se Não Chover (1950)
  • Adolescência (1950)
  • Helena Fechou a Porta (1950)
  • O Cavalheiro da Lua (1950)
  • A Endemoniada (1950)
  • O Homem de Flor na Boca (1950)
  • O Banquete (1950)
  • Lembranças de Berta (1950)
  • Do Mundo Nada Se Leva (1950)
  • Pega-fogo (1950)
  • Rachel (1950)
  • Paiol Velho (1951)
  • Convite ao Baile (1951)
  • O Grilo da Lareira (1951)
  • Arsênico e Alfazema (1951)
  • Ralé (1951)
  • Harvey (1951)
  • Antígona (1951)
  • Vá com Deus (1952)
  • Divórcio para Três (1953)
  • Na Terra como no Céu (1953)
  • Se Eu Quisesse (1953)
  • Desejo (1953)
  • Mortos sem Sepultura (1954)
  • Um Dia Feliz (1954)
  • Um Pedido de Casamento (1954)
  • ...E o Noroeste Soprou (1954)
  • Negócios de Estado (1954)
  • Cândida (1954)
  • Volpone (1955)
  • Maria Stuart (1955-1959)
  • Os Filhos de Eduardo (1955)
  • Divórcio para Três (1956)
  • Manouche (1956)
  • Gata em Teto de Zinco Quente (1956)
  • As Provas de Amor (1957)
  • A Rainha e os Rebeldes (1957)
  • Leonor de Mendonça (1957)
  • Adorável Júlia (1957)
  • O santo e a porca (1958, 1960)
  • Jornada de um longo dia para dentro da noite (1958)
  • O Protocolo (1958)
  • Pega Fogo (1958)
  • Santa Martha Fabril S / A (1958-1959)
  • Os Perigos da Pureza (1959)
  • Gente como a Gente (1959)
  • Desejo (1959)
  • As Três Irmãs (1960)
  • Carrossel do Casamento (1960)
  • Exercício para Cinco Dedos (1960)
  • Sangue no Domingo (1960)
  • Boca de Ouro (1960, 1963)
  • Don João Tenório (1960)
  • Os Espectros (1961)
  • Círculo Vicioso (1961)
  • Zefa entre os Homens (1962)
  • Paixão da Terra (1962)
  • César e Cleópatra (1963)
  • Vereda da Salvação (1964)
  • Descalços no Parque (1964)
  • A Perda Irreparável (1965)
  • Toda Nudez Será Castigada (1965, 1967)
  • Os Físicos (1966)
  • Orquídeas Para Cláudia (1966)
  • O Santo Inquérito (1966)
  • A Volta do Lar (1967-1968)
  • A Mulher sem Pecado (1969)
  • O Marido de Conceição Saldanha (1969)
  • Os Gigantes da Montanha (1969)
  • A Celestina (1969)
  • Henrique IV (1970)
  • Vivendo em Cima da Árvore (1971)
  • Dom Casmurro (1972)
  • Check-up (1976)
  • Vestido de Noiva (1976)
  • Quarteto (1976)
Ano Título Personagem
1928 Huragan
1931 Uwiedziona Jornalista
1934 Córka generala Pankratowa Revolucionário
1938 Profesor Wilczur Médico
Granica Awaczewicz
1939 Wlóczegi Mecenas
1943 Samba em Berlim Diretor do teatro
1944 O Brasileiro João de Souza Otto von Bock
1945 Não Adianta Chorar
1949 Terra Violenta
1952 Tico-tico no Fubá Dono do Circo
Veneno Delegado
Apassionata Walter Hauser
1954 É Proibido Beijar Steve
1965 Crônica da Cidade Amada
1968 A Madona de Cedro Dr. Vilanova
Edu, Coração de Ouro Homem apressado[6]
1969 Brasil Ano 2000 General
1970 É Simonal Mestieroff
1973 O Descarte Victório Lipp
1975 O Caçador de Fantasma Fantasma
1976 O Homem de Papel Rivoni[7]
1977 O Velho Gregório Gregório

Na Televisão

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Ano Título Personagem Notas
1959 Grande Teatro Tupi Episódio: "O Chapéu Cheio de Chuva"
1966 Eu Compro Esta Mulher Dom Rodrigo
O Rei dos Ciganos Steiner
1967 A Rainha Louca Zacarias
1968 Ricardinho: Sou Criança, Quero Viver
1969 João Juca Jr. Bóris
1971 Bandeira 2 Irmão Ludovico
1972 O Bofe Stanislawa Grotowiska
1973 Cavalo de Aço Max
O Semideus Padre Miodek
1974 O Rebu Conrad Mahler
1975 O Grito Professor de filosofia

Referências

  1. a b «ZIEMBINSKI. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira». enciclopedia.itaucultural.org.br. Consultado em 3 de fevereiro de 2023 
  2. «Zbigniew Ziembiński | Życie i twórczość | Artysta». Culture.pl (em polaco). Consultado em 20 de maio de 2024 
  3. polskiego, Encyklopedia teatru. «Zbigniew Ziembiński». Encyklopedia teatru polskiego (em polaco). Consultado em 20 de maio de 2024 
  4. a b Veja, edição 529, de 25 de outubro de 1978
  5. «Ziembinski morreu na tarde de ontem». Rio de Janeiro: jornal Luta Democrática, disponível na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. 25 de outubro de 1978. p. 8. Consultado em 24 de julho de 2021 
  6. Cinemateca Brasileira, Edu, Coração de Ouro [em linha]
  7. «O Homem de Papel». Cinemateca Brasileira. Consultado em 14 de julho de 2022 

Ligações externas

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