Um quarto dos homens acima de 50 nunca ouviu falar de hiperplasia benigna de próstata
Problema que afeta metade da população masculina brasileira nessa faixa etária é pouco conhecido e costuma ser confundido com câncer, mostra pesquisa de opinião
RESUMO
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GERADO EM: 06/08/2024 - 14:49
Desinformação sobre hiperplasia de próstata ameaça homens acima de 50 anos
Uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Urologia revela que 1/4 dos homens acima de 50 anos desconhecem a hiperplasia benigna de próstata, confundindo-a com câncer. Muitos não buscam ajuda médica devido a desinformação e receio de tratamentos invasivos. A conscientização sobre a condição e a importância do acompanhamento médico são cruciais para prevenir complicações graves.
A hiperplasia prostática benigna (HPB), um aumento da próstata não relacionado a câncer, ocorre em cerca de metade dos homens após os 50 anos, e na maioria dos casos provoca dificuldade de urinar. Apesar da alta prevalência, uma pesquisa de opinião encomendada pelas seccionais de Rio e São Paulo da Sociedade Brasileira de Urologia e pelo laboratório Apsen mostra que uma boa parcela da população masculina tem informação errada sobre o problema, ou nem sabe que ele existe.
Conduzido pelo instituto Ipsos, o levantamento entrevistou 500 homens de faixas de renda A, B e C no país e constatou que 26% deles nunca ouviram falar em HPB. Outros 60% acreditam que a condição pode evoluir para um tumor, o que é um medo exagerado. Então, enquanto uma parte do público masculino tem temor injustificado da hiperplasia, uma outra crê que ela é uma condição normal do envelhecimento e inofensiva, algo que também está errado.
Segundo o urologista Mauro Muniz, diretor da seccional da SBU no Rio de Janeiro, a motivação para a entidade encomendar a pesquisa foi uma percepção por parte dos clínicos de que os pacientes na faixa etária de risco estavam mesmo mal informados. Para planejar ações de conscientização, a entidade quis estimar o tamanho da lacuna de desconhecimento na população.
— Alguns homens levantam da cama para urinar cinco ou seis vezes durante a madrugada e acham que isso é normal, porque seria uma coisa natural do envelhecimento. Só que não é — diz o especialista. — A HPB não é um câncer de próstata, como muitos homens acham, mas ela precisa de acompanhamento médico.
Muniz afirma que o termo "benigno" dado à doença (jargão técnico para indicar que é um aumento não-tumoral do órgão) contribui para os leigos subestimarem os riscos da HPB.
— Nós estamos em campanha e chamando a atenção dos homens para que eles procurem atendimento médico, para acompanhar a hiperplasia, porque isso pode ter consequência severas. Em alguns casos ela pode levar à insuficiência renal, e nos piores casos à perda de um rim — afirma.
A pesquisa do Ipsos também levantou alguns dados mais genéricos sobre saúde masculina, e constatou que parte do desconhecimento vem da tradicional dificuldade de construir uma cultura de cuidado médico entre homens. Um terço dos entrevistados na faixa acima dos 50 anos disse que não chega a ir ao médico anualmente.
A hiperplasia é diagnosticada principalmente pelos sintomas de dificuldade de urinar e de esvaziar a bexiga, além de exames físicos como o toque retal, o mesmo que é feito para avaliar a presença de tumores de próstata. O exame de PSA, para verificar o nível de concentração dessa enzima presente no sêmen, também pode ajudar num prognóstico mais preciso.
A pesquisa encomendada pela SBU também constatou que um dos fatores que afastam os homens do check-up anual é uma atitude de negação. É comum o medo de descobrir câncer e ter que passar por uma cirurgia de remoção da próstata, com risco de ficar com disfunção erétil.
A remoção total do órgão, de fato, pode levar à impotência sexual em metade dos casos, diz Muniz. A indicação cirúrgica para HPB, porém, é de remoção parcial, e só afeta capacidade de ereção em um a cada dez casos.
O medo de enfrentar problemas com a próstata, diz o urologista, se deve em parte até ao desconhecimento dos homens sobre o papel do órgão, que é a produção de parte do líquido seminal e de ajudar na contração muscular para a ejaculação.
Muniz afirma que o problema do desconhecimento sobre a HPB, porém, não é só no público leigo, e que os clínicos gerais em geral não estão recebendo treinamento para identificar o problema no atendimento primário. Em geral os casos são diagnosticados pelos urologistas.
— Quem está sendo examinado para HPB é só quem tem uma queixa específica, e muitos pacientes se habituam a essa queixa, achando que é normal levantar seis vezes para urinar a noite. Mas a demora em identificar e reconhecer o problema pode trazer complicações — diz.