Saúde
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Por O Globo

Sentir-se ansioso é uma resposta natural e temporária de alerta do corpo humano a situações estressantes ou inesperadas, que fogem da rotina. É o que acontece, por exemplo, antes de uma prova difícil ou de uma apresentação importante no trabalho.

No entanto, nem sempre esses sintomas são passageiros e em níveis proporcionais àquilo que motiva a preocupação. Nesses casos, pode não ser apenas um desconforto ocasional, mas sim um quadro chamado de transtorno de ansiedade, que demanda acompanhamento médico e tratamento.

O que é o transtorno de ansiedade?

O transtorno de ansiedade é uma doença que faz com que o indivíduo se sinta recorrentemente ansioso, mesmo que não haja estímulos para isso. É o que explica o coordenador do Centro de Estudos do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB - UFRJ), Alexandre Valença.

— Ele se caracteriza como sendo uma ansiedade que traz limitações ao cotidiano da pessoa. Ela pode não conseguir trabalhar ou estudar, tem o sofrimento físico e psíquico mais intenso, e os sintomas não são necessariamente relacionados a um problema específico — diz.

Segundo o último mapeamento global da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o tema, o Brasil é o país com o maior número de habitantes que sofrem de ansiedade patológica: 9,3%. Dados da pesquisa Covitel de 2023 sugerem uma prevalência ainda mais alta: 26,8%, mais de 1 a cada 4 brasileiros.

Quais são os sintomas da ansiedade?

Os sintomas da ansiedade podem variar de pessoa para pessoa, mas geralmente envolvem preocupação excessiva, insônia, aceleramento dos batimentos cardíacos (taquicardia), entre outros.

O importante, no entanto, é perceber a duração, a intensidade e o contexto dos sinais. Isso porque senti-los de forma passageira em momentos de estresse, como antes de uma prova, ou de um evento importante, é comum.

Porém, no caso do transtorno de ansiedade, esses sintomas passam a aparecer sem que haja um motivo, com mais frequência e de forma mais severa. É quando se deve buscar a avaliação de um especialista.

Os sintomas mais frequentes da ansiedade são:

  • Preocupações, tensões ou medos exagerados;
  • Sensação contínua de que um desastre ou algo muito ruim vai acontecer;
  • Preocupações exageradas com saúde, dinheiro, família ou trabalho;
  • Falta de controle sobre pensamentos, imagens ou atitude;
  • Pavor depois de uma situação muito difícil;
  • Insônia;
  • Taquicardia (aceleração dos batimentos cardíacos);
  • Sudorese;
  • Tremores;
  • Ondas de calor ou de frio;
  • Falta de ar.

O que são crises de ansiedade ou ataques de pânico?

Existe também o que os médicos chamam de crises de ansiedade ou ataques de pânico. São episódios em que os sintomas surgem de forma conjunta e em uma intensidade maior do que o esperado, até mesmo para quem já sofre com o transtorno.

Esses momentos podem ser desencadeados por algum gatilho, como um evento de alto estresse, ou aparecer de repente. Na maioria dos casos, duram até 20 minutos, mas também podem chegar a horas.

Em situações extremas de crise, o indivíduo pode acabar procurando uma emergência médica, muitas vezes por acreditar estar passando por um infarto – já que a ansiedade excessiva provoca taquicardia e sensação de falta de ar.

O que leva uma pessoa a ter ansiedade?

Ainda não se sabe quais são as causas exatas que levam uma pessoa a desenvolver o transtorno de ansiedade. Mesmo assim, os especialistas acreditam que alguns fatores podem estar por trás do problema, ou ao menos aumentar o seu risco. São eles:

  • Fatores genéticos, como uma predisposição do próprio corpo;
  • Estressores psicossociais que consigam desencadear transtorno (evento traumático ou uma rotina de ansiedade constante);
  • Hábitos nocivos à saúde (consumo de álcool, tabagismo, uso de outras substâncias psicoativas, sedentarismo, má alimentação e rotina ruim de sono).

Quais são os 7 tipos de ansiedade?

O Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-5) classifica o transtorno de ansiedade em diferentes tipos. Porém, eles podem se sobrepor, uma vez que a ansiedade é diferente entre cada indivíduo. São eles:

  • Transtorno de Pânico: quando os ataques de pânico são recorrentes;
  • Agorafobia: ansiedade relacionada a situações ou lugares onde a pessoa teme não conseguir escapar ou receber ajuda, como shows e grandes eventos;
  • Fobias Específicas: medo intenso e irracional de objetos, situações ou atividades específicas, como de aranhas (aracnofobia) ou raios (astrafobia);
  • Transtorno de Ansiedade Social ou fobia social: ansiedade associada a situações sociais, como eventos, interações com desconhecidos, falar em público;
  • Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG): uma das formas mais comuns, associada à ansiedade recorrente sem estar relacionada a um fator específico;
  • Transtorno de Ansiedade de Separação: ansiedade em relação ao distanciamento, muito comum em crianças durante casos de divórcio dos pais.

Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT)

De acordo com o Ministério da Saúde, o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), associado a obsessões que levam a comportamentos compulsivos repetitivos, e o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), que leva o indivíduo a um estado de hipervigilância por reviver traumas passados, estão categorizados dentro de outros capítulos do DSM-5.

Porém, como também apresentam sintomas de ansiedade, e compartilham de parte do tratamento, são muitas vezes referidos outros tipos de ansiedade patológica.

Qual é o tratamento para a ansiedade?

O tratamento da ansiedade varia de pessoa para pessoa e vai ser definido pelo especialista ao realizar o diagnóstico. Ele pode envolver estratégias farmacológicas, como:

  • Uso de medicamentos ansiolíticos ou antidepressivos;
  • Sessões de psicoterapia, mediadas por psicólogos, psiquiatras, ou por ambos.

— Em casos leves, muitas vezes só a psicoterapia resolve. Para casos moderados a graves, em geral a pessoa vai precisar de uma medicação prescrita pelo médico psiquiatra — diz o coordenador do IPUB-UFRJ. Nem sempre a perspectiva será de cura, mas o paciente conseguirá ter um controle melhor dos sintomas do transtorno.

Alguns hábitos também podem auxiliar a aliviar as queixas e a prevenir a sua piora:

  • Exercícios físicos: especialmente os aeróbicos, como caminhadas, corridas e natação;
  • Adoção de outras práticas saudáveis: como uma alimentação balanceada e uma boa rotina de sono.

Como prevenir a ansiedade?

Como não há uma causa exata para a ansiedade patológica, não existe uma estratégia 100% eficaz que previna o seu surgimento. Porém, os especialistas destacam que um estilo de vida saudável pode ajudar, ao menos para uma parcela dos pacientes, a proteger contra os distúrbios de saúde mental.

Algumas práticas também podem ser benéficas para o bem-estar psíquico, como:

  • Atividades que proporcionem sensações de relaxamento e satisfação;
  • Cultivo de vínculos afetivos;
  • Adoção de estratégias para manejar o estresse, como a meditação, o ioga, entre outras.

Médico psiquiatra e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense (UFF), Jairo Werner orienta ainda evitar o consumo de álcool, especialmente em excesso, o cigarro ou outras substâncias psicoativas.

— Outros fatores importantes que podem levar à ansiedade e devem ser evitados são a competitividade exagerada, relacionamentos tóxicos, intolerância a qualquer situação tensa ou desagradável, ociosidade e excesso de telas — acrescenta.

Fontes: Organização Mundial da Saúde (OMS); Ministério da Saúde; coordenador do Centro de Estudos do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB - UFRJ), Alexandre Valença; pós-doutora em psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e fundadora da startup de saúde mental Bee Touch, Ana Peuker; médico psiquiatra e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense (UFF), Jairo Werner.

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