'Ainda estou aqui' traz Fernanda Torres com 'interpretação minuciosa, sem concessões ao exagero'
Bonequinho aplaude o longa de Walter Salles baseado em história real de viúva de Rubens Paiva, morto pela ditadura militar
RESUMO
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GERADO EM: 06/11/2024 - 17:07
"Jornada de Eunice: Filme de Salles e Torres"
"Ainda estou aqui": Filme de Walter Salles com Fernanda Torres destaca a jornada de Eunice após marido desaparecer na ditadura. Roteiro discreto e atuações premiadas marcam a produção. Expectativas de indicação ao Oscar. Trama se destaca pela sobriedade, sem exageros emocionais, e merece reconhecimento.
Na primeira parte de “Ainda estou aqui”, de Walter Salles, o público acompanha o cotidiano da família do casal formado por Eunice (Fernanda Torres) e Rubens Paiva (Selton Mello): o dia a dia na praia, os amigos que transitam pela sala animando o ambiente, a adoção de um cachorro, a ansiedade diante de um dente prestes a cair.
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A tensão, porém, está no ar. O Brasil atravessa o auge da ditadura e a brutalidade do regime invade a casa no instante em que agentes da repressão levam Rubens Paiva. Ele desaparece. Em meio à falta de informações, o processo de luto se torna ainda mais sofrido. Numa passagem marcante, dois dos cinco filhos de Eunice e Rubens perguntam um ao outro em que momento perceberam que o pai não voltaria nunca mais.
Rubens, contudo, não é o protagonista dessa história, e sim Eunice, que se vê obrigada a criar os filhos sem a presença do marido. Não são poucas as produções cinematográficas centradas em mulheres que, confrontadas com experiências traumáticas, conseguem dar continuidade às suas trajetórias e se revelam verdadeiras heroínas. Mas “Ainda estou aqui” se destaca pela determinação de Walter Salles em mostrar a dolorosa jornada de Eunice de maneira sóbria, sem qualquer excesso emocional. Justamente por isso, o filme se impõe como uma tragédia em tom menor.
A opção pelo registro discreto também fica evidenciada no roteiro —concebido a partir do livro de Marcelo Rubens Paiva, filho de Eunice e Rubens — e nas atuações. Premiado no Festival de Veneza, o roteiro de Murilo Hauser e Heitor Lorega, que se estende por diferentes fases da vida brasileira (1970, 1996 e 2014), valoriza a tenacidade de Eunice. No elenco, Fernanda Torres, com uma voz sufocada que não resulta totalmente orgânica, tem interpretação minuciosa, sem concessões ao exagero. Pri Helena imprime contundência no papel da empregada Maria José. E Fernanda Montenegro apresenta um admirável trabalho de contenção.
Há expectativas em relação às indicações do filme ao Oscar. A torcida, claro, é oportuna. Mas, independentemente, “Ainda estou aqui” merece aplausos.
Bonequinho aplaude.