Quando conheci Washington Olivetto, eu ainda era foca de redação. A visita à W/Brasil tinha sido orquestrada pelo meu pai, que ainda tinha esperança de que eu desistisse de ser repórter. Naquele dia, estavam recebendo na agência Dietrich Mateschitz, o austríaco que transformou um energético medicinal tailandês no Red Bull, uma das bebidas gaseificadas mais populares do mundo. Resultado: saí de lá sem qualquer proposta de estágio mas com uma baita entrevista exclusiva e um amigo novo, publicitário da pesada.
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O que nos aproximou foi a paixão comum por boa comida e bons vinhos. Tenho um orgulho danado de ele ter sido um dos meus mais fiéis e longevos leitores. Curioso incansável, gostava de me ouvir contar fofocas do mundo gastronômico e minhas aventuras por mesas pluriestreladas da Europa e das Américas (ele preferia meus resumos a passar horas provando menus degustação). E eu adorava aprender com ele as histórias por trás de clássicos como o Bar Luiz e o Salete, no Rio. Ou o armênio Arais, no Brás, onde certa vez almoçamos. Ele me ensinou, abrindo uma garrafa de Bad Boy, o que era vinho de garagem — quando eu ainda engatinhava no assunto. E tanto, tanto mais…
Nossas conversas eram marcadas pelas gargalhadas. Eu o chamava de “máquina de frases”, porque ele me lembrava uma metralhadora de bolas de tênis da minha infância, que meu pai comprou para meu irmão e eu melhorarmos a performance nas quadras. Elas saíam na maior naturalidade, prontinhas — algumas poderiam até servir de slogans de campanhas premiadas.
“O Red Bull salvou o uísque”; “Londres é a melhor Nova York do mundo”; “sou esplêndido cozinheiro teórico, medíocre na prática” ; “muitos imaginam que uma coisa é nova só porque não sabem que já foi feita”. Achei-as em meu baú digital contendo anos de e-mails, whatsapps e entrevistas. A genialidade, a sagacidade e a lealdade de Washington eram tão grandes quanto o seu ego. Vai-se um ícone brasileiro, amigo e mestre. Ficam os ensinamentos e as memórias felizes.