Alexandra Forbes
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Alexandra Forbes

Colunista

Por — Bordeaux, França


RESUMO

Sem tempo? Ferramenta de IA resume para você

GERADO EM: 20/09/2024 - 04:30

Contrastes na Colheita: Natureza, Vinhos e Ação Responsável

Em Bordeaux, durante a colheita de uvas, a pressa dos produtores para colher antes da chuva contrasta com o sofrimento no Brasil devido a queimadas e inundações. O texto destaca a relação entre a natureza e a vida, evidenciando a importância da ação humana responsável. A chegada de uma amiga gaúcha traz à tona vinhos brasileiros, incluindo um cabernet franc elogiado. A incerteza do clima e a urgência na colheita permeiam a narrativa, ressaltando a conexão entre a atividade agrícola e a imprevisibilidade do tempo.

Voltei para casa, em Bordeaux, em plena época de colheita das uvas brancas (amadurecem antes das tintas). Madrugada adentro ouço o ronco das máquinas colheitadeiras trabalhando febrilmente numa corrida contra o tempo e a chegada da chuva, prevista para este sábado (21). Enquanto isso, a seca e a inconsequência humana castigam o Brasil. Florestas, plantações e bichos queimam pouco tempo depois das trágicas inundações no Rio Grande do Sul. O ditado “a diferença entre o remédio e o veneno é a dose”, do doutor suíço renascentista Paracelso, vale tanto para elementos químicos quanto para a natureza. É sol, é madeira de vento, é chuva chovendo, é ave no céu, é ave no chão, é vida, é morte...

No conforto de suas casas, a gente da cidade sente muito menos o impacto do clima cada vez mais inclemente e imprevisível. O ar poluído pelo fumacê das queimadas assusta; marginais alagadas, idem — mas nada que se compare ao sofrimento de quem vive no campo e do campo.

Num belo cair de tarde outonal, pela estradinha de casa ladeada de parreiras carregadas de merlot, chegou a minha amiga gaúcha Lucia Porto, embaixatriz do vinho brasileiro. Trazia 12 garrafas de produtores do Rio Grande do Sul, da Campanha ao Vale dos Vinhedos. Dentre as que abrimos a favorita foi o Matheus, um cabernet franc aveludado sem o verdor comum a essa casta, com aromas de blackberry e cacau.

Justo o tinto de Eduardo Gastaldo, o herói que entrevistei quando se dedicava a resgatar, em bote motorizado, pessoas ilhadas pelas enchentes e que vinifica em plena Porto Alegre.

Levei Lucia para visitar a linda Saint Émilion e a ver ali ao lado a colheita e a triagem das uvas no Château Cheval Blanc (dirigida por meu marido). Era palpável, nas conversas, o medo do temporal iminente. “As uvas não conseguem absorver mais água, é hora de colher a todo vapor, hoje, amanhã, tudo o que pudermos”, disse o diretor-geral, Pierre-Olivier Clouet. Outro, há décadas na lida da vinha, jurou que a tromba d’água cairá hoje mesmo, trazendo prejuízos mas também... vida.

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