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Por — Rio de Janeiro

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GERADO EM: 24/12/2024 - 19:17

Violência e crime no Complexo do Lins

Complexo do Lins, reduto do Comando Vermelho, é central em roubos e invasões. Disparo fatal contra médica da Marinha partiu dali. Ações do CV elevam roubos de veículos em 77%. Lucro com crimes alimenta facção. Barreiras protegem acessos. Plano de invasões a outras favelas tramado no complexo.

O Complexo do Lins é considerado ponto estratégico para a maior facção criminosa do Rio. Foi deste mesmo conjunto de favelas na Zona Norte de onde partiu, no último dia 10, o tiro que matou a médica e capitã de mar e guerra da Marinha Gisele Mendes de Souza e Mello, de 55 anos. Segundo investigações da Polícia Civil, dos territórios explorados pelo Comando Vermelho (CV) nas 12 comunidades do complexo, costumam partir bandos armados para participar de invasões a áreas exploradas por bandos rivais, ou ainda para roubar veículos em pelo menos dez bairros das zonas Oeste e Norte.

Aumento de Roubos

Os assaltos a motoristas e motociclistas costumam acontecer em ruas e avenidas dos bairros de Barra da Tijuca, Recreio, Taquara e Tanque, na Zona Oeste, além de Tijuca, Maracanã, Grajaú, Todos os Santos, Méier e Encantado, na Zona Norte.

As ações criminosas de bandidos vindos do Complexo do Lins contribuíram para elevar em 77% o número de roubos de veículos na capital em outubro de 2024 (na comparação com o mesmo mês do ano passado) e em 39% no acumulado de janeiro a outubro, em relação a igual período de 2023.

A polícia descobriu que parte dos carros roubados pelo bando é clonada (às vezes vendida ou usada em outros assaltos), e o restante é desmanchado para venda ilegal de peças. O lucro obtido com as atividades ilegais ajuda a abastecer a “caixinha” do CV, espécie de fundo de onde os bandidos retiram dinheiro para comprar armas, munição e para fazer pagamentos de ajuda financeira a parentes de presos e a pessoas ligadas aos chefes da facção. Localizado numa região cortada pela Avenida Menezes Cortes (Estrada Grajaú-Jacarepaguá), que liga a Zona Norte à Zona Oeste, o Complexo do Lins tem os acessos protegidos por traficantes armados ou por barricadas.

Profusão de Barricadas

Só nas proximidades do Hospital Naval Marcílio Dias — a médica foi ferida no auditório da unidade de saúde, há pelo menos quatro barreiras montadas por bandidos. De acordo com as investigações, ao lado esquerdo do hospital, na Rua Heráclito Graça, num dos acessos ao Morro da Cachoeirinha, fica uma dessas barricadas. Outras três estariam do lado oposto da unidade, nas ruas Maria Luíza, Sangorá e Eufrásio Borges, que dão acesso à comunidade Nossa Senhora da Guia, mais conhecida como Morro do Gambá. Segundo a polícia, a favela tem o comércio de drogas controlado por homens do bando do traficante Luiz Cláudio Machado, atualmente preso no Complexo Penitenciário de Gericinó.

Foi no Morro do Gambá que, no último dia 10, criminosos reagiram a uma operação da PM disparando vários tiros. Dois deles acertaram um prédio anexo do Hospital Marcílio Dias. Um terceiro atravessou uma janela e atingiu a médica. Ela foi socorrida e passou por uma cirurgia na própria unidade, onde trabalhava como superintendente, mas não resistiu aos ferimentos e morreu.

Planos de invasões

Também do Complexo do Lins, segundo investigações da polícia, bandidos costumam sair em comboios para participar de invasões a territórios explorados por bandos rivais, entre eles a Favela da Muzema, no Itanhangá, Zona Oeste. A comunidade era controlada pela milícia, mas a maior parte do local já é dominada pelo CV. A mesma facção criminosa também teria usado o Morro do Encontro, uma das comunidades que integram o complexo, para planejar uma invasão ao Morro dos Macacos, em Vila Isabel, que tem territórios controlados pela facção criminosa Terceiro Comando Puro (TCP). Neste último caso, um grupo de criminosos teria deixado o local em direção ao Morro São João, no Engenho Novo, de onde saiu um grupo de traficantes, na noite de segunda-feira, dia 9, para tentar tomar a comunidade.

Outros locais do Complexo do Lins apontados em investigações como pontos sensíveis onde costumam existir contenção armada ou barricadas são: Rua Zizi ( no trecho entre os Morros do Amor e Árvore Seca); Rua Luiz Regazzi (Árvore Seca); Maloca (localidade que fica entre as comunidades Barro Preto e Barro Vermelho); Rua Heráclito Graça (acesso ao Morro da Cachoeirinha); Rua Maria Luíza e Sangorá (acesso ao Morro do Gambá); Rua Engenheiro Eufrásio Borges (acesso ao Morro do Gambá).

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