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Por , Anna Bustamante* — Rio de Janeiro

RESUMO

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GERADO EM: 16/12/2024 - 22:39

Crise na Saúde do Rio: 427 mil na fila

Rio enfrenta grave crise na saúde com 427 mil pessoas na fila por consultas, cirurgias e exames. Mortes e longas esperas expõem falhas no sistema. Aumento na oferta de procedimentos ainda insuficiente. Rede pública demite profissionais após casos de negligência. Medidas em andamento para melhorar acesso e reduzir filas, especialmente na oncologia.

A morte de José Augusto Mota da Silva, de 32 anos, à espera de atendimento na UPA da Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio, expôs falhas graves no serviço público de saúde. E o problema não se limita às emergências: pacientes em todo o Rio enfrentam dificuldades para garantir o direito constitucional a uma simples consulta. Apesar do aumento na oferta de procedimentos médicos nas redes municipal, estadual e federal este ano, dados compilados pelo GLOBO mostram que a quantidade de vagas ainda está muito abaixo do necessário. O tempo médio para ser visto por um oftalmologista, em caso de ceratocone, chega a 367 dias. E um paciente espera desde agosto de 2018 para ser atendido por um cirurgião vascular.

Na organização do Sistema Único de Saúde (SUS), procedimentos, consultas e exames simples são responsabilidade dos municípios. Na cidade do Rio, a fila para esses atendimentos é organizada pelo Sistema de Regulação (Sisreg), na qual havia 427 mil pessoas em outubro. Os casos mais complexos, a exemplo de cirurgias oncológicas, vão para outra lista, a do Sistema Estadual de Regulação (SER), de responsabilidade da Secretaria estadual de Saúde (SES), e que ontem tinha 255 mil pacientes na espera.

Morte na hora do exame

As plataformas de regulação priorizam atendimentos urgentes, mas em alguns casos a doença não espera. Há 20 anos, Manoel Fernandes, de 76 anos, era acompanhado por equipes do Hospital Universitário Clementino Fraga, onde tratava de um aneurisma. No ano passado, ele não conseguiu realizar um exame de angiotomografia porque a unidade alegava não ter os insumos necessários. Ele aguardou na fila por um ano até conseguir uma vaga em 16 de maio, mas não conseguiu fazer o exame.

— Ele já estava lá dentro de roupa hospitalar aguardando a vez para fazer o exame. Quando o levei para ir ao banheiro, ele desmaiou e, após várias tentativas, não voltou mais — contou Leonia Batista, filha de Manoel.

Em nota, o Clementino Fraga afirmou que a remarcação do exame foi por escassez de meios de contraste, de forma global durante a pandemia de Covid-19, e que precisou contingenciar os exames para ter a qualidade do atendimento emergencial e dos pacientes internados.

Na rede estadual, a busca por exames de imagem é um dos itens que mais tiveram crescimento. A fila para fazer uma ultrassonografia de abdômen disparou 750% entre junho e dezembro deste ano. No mesmo período, os pedidos para ressonância magnética de pelve feminina cresceram 86%. Para esse exame, em novembro, foram 648 novas solicitações, mas a rede só conseguiu oferecer 93 vagas.

Um relatório quadrimestral apresentado pela Secretaria municipal de Saúde do Rio mostra que até agosto as unidades da prefeitura e estaduais aumentaram a produção hospitalar na capital nos primeiros oito meses do ano em relação ao mesmo período do ano passado. A rede federal apresentou praticamente os mesmos números de 2023.

Rio tem 427 mil pessoas na fila por uma consulta, cirurgia ou exame — Foto: Agência O Globo
Rio tem 427 mil pessoas na fila por uma consulta, cirurgia ou exame — Foto: Agência O Globo

Na capital, os números do Sisreg mostram que o principal gargalo é o de consultas. O tempo médio para esse atendimento ambulatorial aumentou de 86 dias (em dezembro de 2023) para quase quatro meses (em agosto deste ano), enquanto o de cirurgias e o de exames caíram. Apesar da oferta de 52 mil novas vagas após a abertura do Centro Carioca do Olho, por exemplo, a fila para uma consulta foi a que mais cresceu em números absolutos: outubro fechou com 45.966, 18 mil a mais que no mesmo mês do ano passado.

A de ortopedia ganhou mais 14 mil pacientes. A prefeitura credita esse aumento específico a uma maior busca na atenção básica e ao crescimento de acidentes de motos: em novembro, o número de atendidos já era 15% maior que em todo o ano passado.

O secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, explica que essa pressão tem causas diversas e que a prefeitura planeja a construção de dois Super Centros de Saúde, além de dobrar o número de atendimentos nos hospitais federais do Andaraí e Cardoso Fontes, que foram municipalizados:

— Aumentamos o cadastro da atenção primária para 91% dos cariocas, a maior da história, e isso dá acesso à saúde a quem não tinha. Também há um aumento da expectativa de vida do carioca, da qualidade do serviço prestado e a migração para o SUS de quem usava planos de saúde.

Oncologia é desafio

Já de acordo com dados do SER, a oncologia é um dos principais desafios. Ontem, 815 pessoas aguardavam há mais de dois meses uma primeira consulta na especialidade — o paciente mais antigo esperava desde janeiro.

— O paciente oncológico precisa ser atendido com muita rapidez. É o que faz a diferença entre morrer e viver. Por isso, com essa reestruturação, temos o objetivo de aumentar a oferta de vagas em todos as unidades federais e ter números diferentes no ano que vem — diz Teresa Navarro Vannucci, diretora do Departamento de Gestão Hospitalar, do Ministério da Saúde.

A SES informou que “está em constante contato com os hospitais para tentar ampliar a oferta e reduzir as faltas, já que mais de 40% dos pacientes não comparecem às marcações, o que aumenta a espera dos demais”. Sobre o atendimento oncológico, afirmou que “existe grande dependência da rede federal, que vem reduzindo a oferta de consultas especializadas, a cada ano”. Mas que vem contratando leitos em unidades particulares, além de estar construindo o Hospital Oncológico de Nova Friburgo e o Instituto Estadual do Câncer da Baixada Fluminense.

*Estagiária sob supervisão de Claudia Meneses.

Veja a íntegra dos posicionamentos:

Secretaria estadual de Saúde

A Secretaria de Estado de Saúde esclarece que o Complexo Estadual de Regulação (CER) é responsável pelo encaminhamento dos pacientes, segundo as solicitações das unidades de origem, como hospitais e unidades básicas de saúde. No entanto, o CER depende da quantidade de vagas oferecidas por cada uma das unidades especializadas que integram o sistema.

O CER está em constante contato com os hospitais para tentar ampliar a oferta e reduzir as faltas, já que mais de 40% dos pacientes não comparecem às marcações, o que aumenta a espera dos demais. Ainda assim, o CER conseguiu avanços importantes em várias especialidades. A espera por cateterismo, por exemplo, hoje é de apenas quatro dias. Já a de braquiterapia, caiu de 120 para 25 dias, enquanto o número de pacientes para cirurgias de joelhos caiu pela metade.

Cabe ressaltar que exames de imagem são de atribuição municipal e que mantém as unidades - Rio imagem Centro, Rio Imagem Baixada e Hospital Zilda Arns - como apoio aos municípios e para melhorar o atendimento à população.

Já em relação a patologias de coluna, há uma grande demanda de entrada que não se confirma na consulta de triagem. Cerca de 78% dos pacientes avaliados não têm indicação de cirurgia ou apresentam contraindicação à mesma, com alto risco de óbito.

Quanto à cirurgia bariátrica, a SES-RJ mantém o chamamento público, e, no ano de 2024, o Complexo Estadual de Regulação (CER) agendou 4.290 consultas de avaliação inicial para cirurgia bariátrica.

Em relação às cirurgias de joelho, a SES-RJ fez chamamento público e conseguiu realizar 2.855 cirurgias extras. Na rede estadual foram regulados mais de 6.100 pacientes para ambulatório de primeira vez em cirurgia de joelho e quase 7 mil pacientes para triagem de joelho. Já a Rede Federal recebeu quase 5 mil pacientes para triagem e aproximadamente 2.800 pacientes para a consulta de primeira vez.

Quanto à oncologia, existe grande dependência da rede federal, que vem reduzindo a oferta de consultas especializadas, a cada ano. Movimento que se intensifica nos meses de novembro e dezembro.

Para reduzir as filas de oncologia, a SES-RJ vem promovendo a contratação de leitos em unidades particulares e em hospitais como o Mário Kroeff e o São José, em Teresópolis. Além disso, o Governo está finalizando a construção do Hospital Oncológico de Nova Friburgo, que está com 90% da obra física concluída, e está construindo o Instituto Estadual do Câncer da Baixada Fluminense.

Secretaria municipal de Saúde:

"Em 2024, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) ofereceu 3 milhões de vagas para procedimentos de todas as especialidades no SISREG, entre consultas, exames e cirurgias. São 500 mil vagas a mais do que as abertas no ano anterior, e uma oferta quase quatro vezes maior do que a de 2020, quando foram disponibilizadas apenas 799 mil vagas. Em toda a atual gestão, desde 2021, foram 8,294 milhões de vagas disponibilizadas no SISREG.

Graças a essa ampliação de oferta promovida pela Secretaria Municipal de Saúde, o tempo de espera no SISREG caiu de 160 dias ao fim de 2020 para 75 dias atualmente. Todas as pessoas que aguardavam na fila em 31 de dezembro de 2020 foram atendidas na atual gestão, assim como todas as que entraram no sistema até 2022.

Entretanto, também se observa um aumento expressivo da demanda por consultas e procedimentos, em razão de alguns fatores: a expectativa de vida do carioca aumentou; muitas pessoas perderam seus planos de saúde e migraram para a saúde pública; e também há uma percepção de maior qualidade do serviço, com a criação do Super Centro Carioca de Saúde, o que influencia na maior procura por esses serviços. Além disso, temos um número recorde de 91,79% de pessoas cadastradas na Saúde da Família, chegando à cobertura de 80% e garantindo o acesso das pessoas ao sistema de saúde."

Hospital Clementino Fraga:

"O Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF-UFRJ/Ebserh) ressalta que, recentemente, a unidade passou para a gestão da Ebserh - Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares -, empresa pública que promoveu diversas melhorias na reativação de 20 leitos de enfermaria e sete UTI, contratação de mais de 500 pessoas, na abertura de serviços. O HUCFF-UFRJ/ Ebserh reforça que muitos avanços foram feitos visando melhorar o atendimento à população. Os trabalhos seguirão com a finalidade de entregar serviços cada vez melhores.

O Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ) é uma Unidade de alta e média complexidade. Por esse motivo, o principal critério para o agendamento é a sua complexidade. Todo paciente com previsão de exames é, antes de tudo, um paciente ambulatorial que segue com seu atendimento/tratamento na Unidade.

A remarcação do exame do citado paciente à época de 2004, se deu pelo fato de que havia escassez de meios de contraste, de forma global, devido a interrupção nas cadeias de produção e distribuição do insumo causada pela pandemia da Covid-19 e outros fatores, divulgados amplamente pelas Sociedades Médicas e Governo Federal.

Diante disso, o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ) optou por contingenciar os exames, com a finalidade de manter a qualidade do atendimento emergencial e dos pacientes internados, que necessitavam de exames radiológicos com contraste."

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