Delatado por tenente-coronel, Braga Netto foi preso no El Cid, erguido em 1964, ano do golpe; veja fotos
Operação da PF no sábado em Copacabana foi tão discreta que vizinhos do ex-ministro da Defesa só souberam do caso pela imprensa
RESUMO
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GERADO EM: 15/12/2024 - 14:37
Ex-ministro da Defesa preso em prédio histórico em Copacabana
General Braga Netto, ex-ministro da Defesa, foi preso em prédio construído em 1964, ano do golpe militar. Operação discreta da PF em Copacabana surpreende vizinhos. Investigação aponta suspeita de crimes contra democracia. Moradores souberam da prisão apenas pela imprensa.
A prisão pela Polícia Federal do general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e ex-candidato à vice-presidente da República na chapa de Jair Bolsonaro (PL), é cercada por curiosidades. Algumas se referem ao prédio onde Braga Netto mora em Copacabana, na Zona Sul do Rio. De acordo com sites de corretoras imobiliárias, o edifício da Rua Figueiredo Magalhães 353 foi construído em 1964. Esse foi o ano do golpe militar que derrubou o então presidente João Goulart.
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O Brasil só voltaria a ter um civil na presidência da República e, mesmo assim, por eleição indireta, em 1985, para substituir o general João Baptista de Oliveira Figueiredo. Tancredo Neves havia sido eleito pelo Congresso Nacional, derrotando o candidato governista Paulo Maluf. Tancredo morreu antes de tomar posse e por isso seu vice, José Sarney, assumiu.
O ex-presidente Jair Bolsonaro e Braga Netto estão entre os 37 indiciados em uma investigação da Polícia Federal fechada em novembro, em que são apontados como suspeitos de crimes como abolição violenta do estado democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.
A operação de sábado, autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), ocorreu diante da suspeita de que o general tentou interferir no inquérito. Ele é suspeito de tentar obter dados da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. O edifício onde Braga Netto mora se chama El Cid, termo de origem árabe que significa "O senhor". Curiosamente, o El Cid original também foi um militar.
Conheça edifício onde o general Walter Braga Netto foi detido na Zona Sul do Rio
Rodrigo Díaz de Vivar (Burgos, Espanha, 1043 - Valência, 10 de julho de 1099), o El Cid da História, era um militar que travou batalhas em busca da reunificação da Espanha.
Um site de imobiliárias informa que um apartamento no prédio está disponível. Segundo a corretora, o imóvel está mobiliado, tem 280 metros quadrados e está à venda por R$ 1,725 milhão ou para alugar por R$ 3.672 mensais. O condomínio custa R$ 3,5mil mensais.
'Souberam pelo noticiário'
A ação da PF foi tão silenciosa que nem mesmo os próprios moradores do prédio em que o general mora notaram a movimentação. Um porteiro, que preferiu não ser identificado, relatou que soube da prisão de Braga Netto pela imprensa. O funcionário destaca que o assunto tem sido comentado pelos corredores do edifício.
— Eu não estava aqui na hora, mas o outro rapaz disse que tomou um susto quando o viu saindo preso. Os moradores estão comentando também que souberam pelo noticiário — conta.
Uma moradora relatou ao GLOBO que a notícia pegou todos de surpresa. A mulher aponta que não mora no mesmo andar do general, mas acredita que teria escutado se a polícia tivesse chegado de maneira abrupta.
— Eu estava dormindo quando ele foi preso. Acordei, vi a notícia na internet e fiquei bastante surpresa. É uma pessoa que a gente conhece, né? Então é estranho pensar que ele saiu daqui preso — diz.
Assim como ela, outro morador alegou que soube do ocorrido muitas horas depois:
— Fim de semana não costumo ficar acompanhando muito o noticiário, aí acordei, fiz as minhas coisas, e lá por volta das 12h fui ficar sabendo da prisão.
Já Valmar Moura, de 53 anos, que trabalha em uma banca de jornal em frente ao local, relata que descobriu sobre a prisão de Braga Netto durante uma conversa com um comerciante da região.
— Cheguei, fui falar com o pessoal que também trabalha por aqui, e eles me perguntaram se eu estava sabendo que ele foi preso. No geral, a movimentação tá normal, isso não causou nenhum alvoroço — explica.
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