Miliciano do Bonde do Zinho é preso enquanto fumava dentro um quarto exclusivo em UPA na Zona Oeste do Rio
Felipe Ferreira Carolino, o Zulu, foi solto em maio e, em seguida, retomou o posto de liderança na organização criminosa; ele também estava armado no momento em que foi encontrado pelos policiais
RESUMO
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GERADO EM: 11/12/2024 - 15:41
Miliciano líder do Bonde do Zinho é preso em UPA de Paciência durante investigação policial
O miliciano Felipe Ferreira Carolino, conhecido como Zulu, foi preso na Upa de Paciência, na Zona Oeste do Rio, fumando e armado. Ele estava em quarto exclusivo, recebendo tratamento diferenciado. A prisão ocorreu durante investigação da Draco sobre favorecimento a milicianos em unidades de saúde públicas. Outros criminosos fugiram ao chegarem os policiais, evitando confrontos. Zulu é líder do Bonde do Zinho e estava envolvido em crimes graves, sendo alvo de investigações da polícia.
O miliciano Felipe Ferreira Carolino, conhecido como Zulu, foi preso nesta quarta-feira na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Paciência, na Zona Oeste do Rio, de administração municipal. Integrante do Bonde do Zinho, o criminoso estava preso desde 2019, mas conseguiu liberdade no último mês de maio, quando, imediatamente, reassumiu seu papel de liderança no grupo paramilitar que atua na comunidade do Rodo, em Santa Cruz, também na Zona Oeste, segundo informações da Polícia Civil. Procurada, a Secretaria municipal de Saúde informa que a coordenação da unidade de saúde "não tinha conhecimento sobre sua condição criminal" até a chegada dos policiais até lá.
Miliciano do Bonde do Zinho é preso em UPA na Zona Oeste
Na UPA, Zulu foi encontrado pelos policiais da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) em um quarto reservado só para ele, recebendo uma espécie de tratamento diferenciado, segundo a investigação. Além de estar sozinho no cômodo da unidade de saúde, o miliciano fumava um cigarro tranquilamente, além de ter uma pistola em sua posse, encontrada pelos policiais ao revistá-lo.
De acordo com o município, a unidade de saúde "não tem autoridade legal para revistar os bens pessoais de um paciente" e, reforça a pasta da Saúde, a "identificação da condição criminal de uma pessoa é atribuição da Polícia". Zulu estava em leito de isolamento e "foi repreendido pela equipe de saúde por desrespeitar a norma que proíbe fumar em ambientes hospitalares", explica a prefeitura.
Segundo informações da polícia, no local, o criminoso estava bem à vontade, sendo bem tratado, além de tratar bem os presentes. Zulu foi preso em flagrante por constituição de milícia privada e porte ilegal de arma de fogo. O miliciano também era alvo de inquéritos da Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA), que investigam crimes como desaparecimentos e homicídios ligados à milícia.
Com a chegada dos policiais civis à unidade de saúde, outros criminosos que faziam a segurança do miliciano fugiram, o que evitou confrontos. Segundo a polícia, as investigações da Draco continuam para identificar outros envolvidos no esquema de favorecimento a milicianos em unidades de saúde públicas.
Em nota, a Secretaria municipal de Saúde explicou que Zulu deu entrada na UPA na última segunda-feira, por motivos clínicos, "em causas externas ou suspeitas que configurassem necessidade legal de comunicação à autoridade policial", mas não informou exatamente com o que o miliciano foi diagnosticado. Após passar pela classificação de risco e avaliação médica, o paciente foi internado.
"É importante destacar que o paciente ingressou na unidade por meios normais, como qualquer outro cidadão, passou por todo o fluxo padrão de atendimento, incluindo triagem, avaliação médica, exames e internação", diz o posicionamento, que reforça que a coordenação da unidade de saúde está à disposição da polícia para quaisquer questionamentos. A pasta não respondeu sobre a presença de seguranças do miliciano no local.
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Baixas no Bonde do Zinho
A milícia de Luis Antônio da Silva Braga, o Zinho, é a maior do estado, mas sofreu um baque no fim de 2023, quando seu chefe se entregou à polícia e foi preso, na véspera de Natal. Zinho havia assumido à frente do grupo paramilitar após a morte de seus irmãos, Wellington da Silva Braga, o Ecko, e Carlos da Silva Braga, o Carlinhos Três Pontes, nos anos de 2021 e 2017, respectivamente.
Antes de se entregar, Zinho viu ainda seu sobrinho, Matheus da Silva Rezende, o Faustão, apontado como então número dois do grupo, ser morto durante uma operação da Polícia Civil em Santa Cruz, ocorrência que provocou uma represália com 35 ônibus incendiados pela Zona Oeste, em outubro do ano passado.
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Dias após ser preso, o chefe da milícia ainda teve um de seus homens de confiança morto em Paciência: em 29 de dezembro do ano passado, Antônio Carlos dos Santos Pinto, o Pit, apontado como braço direito de Zinho, sofreu uma emboscada e foi morto a tiros. Na ocasião, o filho de Pit, que tinha 9 anos e estava no carro com o pai, também foi baleado e morreu no dia seguinte, no hospital. Já no último mês de junho, o miliciano Rui Paulo Gonçalves Estevão, o Pipito — apontado como sucessor de Zinho — também foi morto, na favela do Rodo, após trocar tiros com policiais da Draco.
Com Zinho preso e Pipito morto, quem assumiu a frente da maior milícia do Rio foi Paulo David Guimarães Ferraz da Silva, o Naval, apontado pela polícia como o principal braço armado do grupo, à frente de comunidades como Barbante, Vilar Carioca, Antares e Rola. Em outubro, o segurança de Naval, o miliciano Marcos Vinicius Telles de Melo, conhecido como VN, foi preso em Inhoaíba.
Naquele mesmo mês e bairro, outros quatro integrantes do grupo paramilitar — Patrick Gomes de Carvalho, Felipe de Oliveira Magalhães, Natan de Lucas Lima Ferreira e Fabiano Alves da Silva — também foram presos, após denúncia de que estariam armados numa casa de festas.
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UPA recém-reformada
Após passar por reforma, a UPA de Paciência foi reinaugurada em março do ano passado. Na ocasião, além da troca do piso e revitalização da fachada, novos aparelhos de ar condicionado foram instalados. Para aumentar o conforto, anunciou a Secretaria municipal de Saúde à época, mobiliário e equipamentos novos foram comprados. Ao todo, 250 profissionais trabalhavam na unidade, segundo divulgado na época, revezando-se nos plantões.
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