Como a facção Povo de Israel consegue novos membros e expande seus tentáculos
Grupo criminoso reúne 18 mil detentos em 13 unidades do estado e é 'especializado' no golpe do falso sequestro
RESUMO
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GERADO EM: 22/10/2024 - 17:28
Crescimento da facção criminosa Povo de Israel preocupa autoridades e gera investigações intensas.
Facção criminosa Povo de Israel cresce com golpes de falso sequestro e extorsão, atraindo novos membros e expandindo influência. Atuação nos presídios gera lucro de R$67 milhões, dividido entre diferentes papéis. Grupo coopta integrantes expulsos de outras facções. Polícia intensifica combate às atividades ilícitas da facção. Explosão de golpes no Rio tem ligação com suas ações. Seap reforça medidas contra atividades ilegais do grupo.
Com uma legião de 18 mil detentos, a facção Povo de Israel (PVI) nasceu com o objetivo de proteger os presos "neutros" da atuação de facções no sistema penitenciário fluminense. No início dos anos 2000, a organização pleiteava a criação de uma unidade prisional de alocação exclusiva para separar o grupo de membros do Comando Vermelho e do Terceiro Comando. Com o tempo, o PVI aperfeiçoou sua atuação em golpes de falso sequestro e usou o lucro para cooptar novos integrantes. Além de convocar bandidos expulsos de outras facções criminosas, eles também oferecem "acolhimento" nos presídios para atrair novos aliados. Na manhã desta terça-feira, uma operação da Polícia Civil e da polícia penal tem como alvo a facção.
Estabelecida nas chamadas unidades "neutras", sem domínio de facção com influência fora do presídio, a PVI tem uma "caixinha" conjunta, para onde vai parte do dinheiro recebido em golpes de extorsão. Com os recursos, são comprados itens de consumo pessoal para o preso que acabou de entrar em uma unidade, que vão desde itens pessoais de limpeza até colchões. Após estabelecer um vínculo de confiança e formar aliança, os presos são cooptados para trabalhar como "ladrões", realizando as abordagens criminosas por telefones cedidos pela própria facção. Pela empreitada, o grupo paga 30% do valor arrecadado.
Para expandir sua atuação, a organização criminosa também coopta os membros expulsos de outras facções. Foi assim com Anderson Gonçalves dos Santos, o Lord, que teve que deixar o Comando Vermelho (CV) após ser apontado como mandante do ataque ao ônibus da linha 350, em novembro de 2005.
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No incêndio ao coletivo, cinco pessoas morreram, entre elas um bebê. Com a repercussão do caso, Lord teria perdido a influência no Morro da Fé, na Penha, e sofrido ameaças do CV. Isolado e sob ameaças, ele foi acolhido pelo grupo Povo de Israel e agora é apontado como membro da cúpula do PVI, que atua no Presídio Nelson Hungria, no Complexo Penitenciário de Gericinó, na Zona Oeste da cidade.
Entenda como funciona a facção
Além do falso sequestro, o grupo também faz ameaças a comerciantes e moradores em áreas dominadas por outras facções. As vítimas são forçadas a transferir dinheiro para contas de terceiros, que repassam os valores conforme ordens da chefia do grupo. Segundo a polícia, o lucro dos golpes é dividido em quatro partes: 30% para o “empresário”, responsável pelo celular; 30% para o “ladrão”, executor do golpe; 30% para o “laranja”, que recebe o dinheiro; e o restante vai para o caixa comum do PVI.
Esse grupo tem contribuído para a explosão de golpes no Rio. Nos primeiros nove meses deste ano, foram 109.887 ocorrências de estelionato no estado, o equivalente a um caso a cada 3,5 minutos, em média. O número é o maior desde 2003, início da série histórica, segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP). Já o número de registros de extorsão se manteve estável entre 2023 e 2024. Nos nove primeiros meses deste ano, foram 2.367 ocorrências do crime no estado, contra 2.368 no mesmo período do ano passado.
Em nota, a Seap destacou que as ações para combater as atividades ilícitas promovidas pelo grupo foram intensificadas. Eles estariam atuando nas unidades de presos de perfil tido como neutro.
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“A secretaria acrescenta que, entre os servidores citados, dois deles já respondem a processos administrativos disciplinares (PAD) e um deles se encontra preso. Sobre o episódio envolvendo uma tentativa de ingressar no presídio Nelson Hungria com celulares em uma quentinha, foi verificado que a ação partiu exclusivamente dos servidores envolvidos, tendo sido descartada a participação da empresa fornecedora de alimentação para a unidade prisional”, explica a Seap.
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