Rio ganha seu 'Vale do Silício' na Zona Portuária; entenda
Projeto Maravalley, com primeira turma de graduação do Impa, será inaugurado nesta terça-feira
A Zona Portuária do Rio ganha hoje um espaço de dez mil metros quadrados que vai abrigar novas empresas de alta tecnologia — startups. Iniciativa da prefeitura, o projeto Porto Maravalley — uma comparação ambiciosa com o Silicon Valley (Vale do Silício), que reúne empresas desse setor na Califórnia, nos Estados Unidos — terá ainda uma unidade do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa). Cem alunos vão integrar a primeira turma de graduação da entidade.
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O secretário municipal de Desenvolvimento Urbano e Econômico, Chicão Bulhões, diz que o objetivo do projeto é gerar condições para que o Rio seja reconhecido no futuro como a capital da inovação e tecnologia da América Latina.
— Nós estamos implantando no Rio um projeto que tem dado certo em vários pontos do mundo. Um mesmo ambiente vai reunir investidores interessados no desenvolvimento de novas tecnologias e uma universidade para a formação dessas empresas.
Chicão explica que a localização foi escolhida por estar em um processo de reurbanização, dentro do projeto Porto Maravilha, que busca atrair mais empresas e moradores para a região. Uma das inspirações é um polo de alta tecnologia de Nova York, implantado em um antigo estaleiro do distrito do Brooklyn. A área, que também estava degradada com o fechamento da instalação industrial nos anos 1960, se converteu em um polo com cerca de 500 empresas instaladas hoje.
— Outra medida para atrair empresas de alta tecnologia no Porto são incentivos fiscais. Nessas áreas, a alíquota de ISS é de apenas 2%, contra 5% no restante da cidade — acrescentou o secretário.
Apoio do governo federal
Ontem à tarde, operários ainda trabalhavam nos acabamentos do Porto Maravalley. Hoje, o presidente Lula e o prefeito Eduardo Paes inauguram o Impa Tech. O governo federal é parceiro no projeto porque vai destinar R$ 55,9 milhões em quatro anos para a faculdade de graduação do instituto. A verba federal será usada para pagar os professores, além de bolsa mensal de R$ 500, auxílio alimentação de R$ 1,3 mil e hospedagem no Rio de R$ 3 mil para os alunos.
Inicialmente, os estudantes vão morar em um hotel em frente à faculdade. A solução é provisória, até que fiquem prontas unidades em um condomínio próximo. Os apartamentos são da Companhia Carioca de Parcerias e Investimentos (CCPar), da prefeitura.
— Esse programa tem potencial para ajudar na revitalização não apenas da região do Porto Maravilha como na do Reviver Centro. Muita gente que se instalar lá vai querer morar perto do trabalho e pode ser que se estabeleçam no Centro — avalia Marcelo Haddad, presidente da Aliança Centro, que reúne proprietários de imóveis da região.
O presidente da CCPar, Gustavo Guerrante, detalhou que o espaço do Maravalley será administrado por meio de concessão. A gestão, por 20 anos, ficará a cargo da empresa Rio Energy Bay, que terá que fazer a intermediação entre empresas que já estão no mercado e as startups que poderão se estabelecer em escritórios montados no galpão. As obras no espaço começaram em novembro de 2022 e foram custeadas pela prefeitura do Rio. O gasto foi de cerca de R$ 40 milhões.
O município bancou, por exemplo, a recuperação da estrutura e adaptações internas, dividindo o espaço para os escritórios das empresas, além de salas de aula e biblioteca da faculdade.
Em uma primeira etapa, a prioridade será focar na atração de empresas que desenvolvam soluções para as áreas de sustentabilidade, energia e saúde. Guerrante explica que, entre potenciais clientes, estariam, por exemplo, empresas da indústria de óleo e gás, que atuam na extração de petróleo na Bacia de Campos.
— O desenvolvimento dessas parcerias obedecerá a um período de maturação. Por isso, a concessionária terá uma carência de dois anos. A partir de então pagará à prefeitura um aluguel mensal de R$ 50 mil, mais uma participação no faturamento bruto — explicou Guerrante.
Alunos de todo o país
O espaço reservado às startups, que vão ocupar a metade do galpão, deve ser aberto só na próxima semana. Já a primeira turma do Impa Tech, com cem alunos, terá aulas amanhã. Os estudantes vêm de 22 estados e do Distrito Federal. Eles foram selecionados entre alunos da rede pública que conquistaram medalhas nas últimas edições da Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM).
— Em quatro anos, a meta é chegarmos a 400 alunos. Eles terão uma formação básica com duração de dois anos, já convivendo em um espaço que oferecerá oportunidades de emprego para uma mão de obra especializada. Terminada essa primeira fase, os alunos optarão por se especializar nos dois anos seguintes em uma de quatro áreas: Matemática, Ciência da Computação, Ciência de Dados ou Física — explicou o diretor-geral do Impa, Marcelo Miranda Viana da Silva.
Além de recursos federais, o instituto, que é uma Organização Social (OS) sem fins lucrativos, também está fechando parcerias com investidores privados. Empresas estão arcando, por exemplo, com a instalação de equipamentos nos laboratórios. Já os primeiros laptops que serão usados pelos alunos foram comprados pela prefeitura.
Um dos calouros é o carioca Pedro Rodrigues Alberti, de 18 anos, morador do Rio Comprido, na Zona Norte. Ao todo, Pedro ganhou oito medalhas em competições envolvendo conhecimentos de matemática e astronomia, sendo que quatro da OBM. Filho de um analista de sistemas e de uma fisioterapeuta, o jovem estudou a vida toda na Fundação Osório, entidade pública ligada ao Exército. Para se dedicar mais aos estudos, ele conta que optou pela hospedagem oferecida pelo Impa.
— Sou muito bom em raciocínio lógico, embora a memória não seja muito boa. Será uma experiência instigante fazer parte da primeira turma. Ainda estou em dúvida se vou me especializar em Matemática ou Ciência de Dados. Se tivesse que escolher hoje, seria a segunda opção — disse Pedro.
A expectativa de ter um bom desempenho no curso também é grande no caso de Alex Veras Vieira, de 19 anos. Ele conta que passou os últimos dias se despedindo de parentes e amigos da cidade de Cocal dos Alves, no Piauí. Localizado a 281 quilômetros da capital Teresina, o município tem 6.386 moradores e é conhecido pelo apelido de Capital da Matemática. O motivo é justamente o bom desempenho dos estudantes nas edições da OBM. Em 18 anos, das 125 medalhas de ouro conquistadas pelo Piauí, 55 foram de alunos da cidade.
— O curso deverá exigir bastante da gente. Serão quatro anos de muito estudo e pouco tempo para o lazer — prevê o rapaz.
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