Um mergulho nas redes sociais para jogar luz sobre a política na internet.
Informações da coluna
Dois meses após desbloqueio, rede social X segue como palco de desinformação em meio à retomada do debate político
Em meio à retomada do engajamento de brasileiros com o debate político, rede de Musk volta a protagonizar casos de fake news contra autoridades
RESUMO
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GERADO EM: 21/12/2024 - 18:41
Rede Social X: Desinformação Persiste Após Desbloqueio
Dois meses após desbloqueio, rede social X segue palco de desinformação em debate político no Brasil. Episódios recentes envolvem fake news sobre autoridades, como diretor do Banco Central e presidente Lula, gerando perplexidade. Aumento de engajamento político na plataforma, com predominância da direita, gera debate sobre identificação e intensidade das publicações. Ministros e políticos enfrentam dilema de permanecer na rede em meio a casos de desinformação.
Dois meses após voltar a operar no Brasil e cumprir exigências feitas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para suspender seu bloqueio, a rede social X retomou seu espaço no debate político. A plataforma do empresário Elon Musk, porém, continua sendo palco de desinformação no país, motivo da disputa que levou à punição.
Em um dos episódios, a Advocacia-Geral da União (AGU) pediu na quarta-feira para a Polícia Federal (PF) e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) investigarem publicações feitas na rede atribuindo declarações falsas ao diretor do Banco Central (BC) Gabriel Galípolo, futuro presidente do órgão. Na avaliação da AGU, as postagens influenciaram no aumento do preço do dólar.
Na semana passada, a internação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva também motivou a circulação de uma imagem falsa do chefe do Executivo com a cabeça enfaixada, gerada por inteligência artificial, e um pedido para emissão de certidão de óbito, que foi fraudado usando o logotipo do hospital Sírio-Libanês. Procurado, o X não se manifestou.
Dias antes, o youtuber Felipe Neto havia anunciado um processo contra o senador Cleitinho (Republicanos-MG) e o deputado Gustavo Gayer (PL-GO) por publicarem uma suposta captura de tela dele que teria sido forjada, com comparação entre preços nos governos Lula e Bolsonaro. Procurados, os parlamentares não se manifestaram.
Perfis bolsonaristas também têm divulgado dados distorcidos sobre o projeto de lei que regulamenta a inteligência artificial no Brasil, aprovado na terça-feira no Senado, afirmando que o texto iria impor censura nas redes sociais, e a respeito da decisão dos secretários estaduais de Fazenda de aumentar o ICMS para compras internacionais, atribuída erroneamente ao governo federal.
Da direita à esquerda
Situações semelhantes ocorrem no outro lado do espectro político: na semana passada, diversas personalidades de esquerda atribuíram o aumento na taxa Selic exclusivamente ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. A decisão, contudo, foi tomada por unanimidade pelos nove integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom) — quatro deles foram indicados pelo atual governo, incluindo Galípolo. “Campos Neto acaba de aumentar em 1% a taxa Selic”, dizia uma das mensagens difundidas.
Enquanto isso, o debate político na plataforma voltou a crescer nas últimas semanas, após uma queda no primeiro mês depois do retorno. Um estudo feito pela FGV Comunicação Rio aponta que, entre 30 de julho e 30 de agosto, antes da suspensão, a média de publicações sobre temas políticos no Brasil era de 616 mil mensagens por dia. No primeiro mês após a volta, o total foi de 482 mil. Levando em consideração o período de 8 de outubro até 11 de dezembro, a média sobe para 593 mil.
O levantamento atribui essa retomada a publicações sobre a Operação Contragolpe, que investigou uma suposta trama para matar autoridades, a realização no G20 no Brasil e o pacote fiscal no governo. Os temas mobilizaram tanto apoiadores quanto opositores do governo federal.
De acordo com Marco Aurelio Ruediger, diretor da FGV Comunicação, há um predomínio da direita nas publicações, mas a esquerda e o centro não abandonaram a rede por completo. Ele aponta uma identificação maior da direita, principalmente devido ao fato de o empresário Elon Musk ser um apoiador do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump.
— Acho que está muito consolidado hoje, no repertório cultural de quem quer discutir política, que o X é o espaço para fazer essa discussão. Só que a intensidade pelo campo de esquerda e de centro é menor hoje do que era no passado. Perdeu-se a vontade de estar lá, em função da identificação da plataforma como espaço predominantemente da direita — analisa Ruediger.
O pesquisador Pedro Barciela coletou as palavras que mais aparecem nas biografias dos usuários no X. Em setembro, quando a suspensão estava em vigor, apareciam em destaque as palavras “deus”, “patriota”, “família” e “conservador”, indicando um perfil de direita. Agora, aparecem “flamengo”, “vida”, “fan account” (contas em homenagem a celebridades), mostrando um público mais amplo.
Ministros ausentes
Os embates com o STF também influenciaram o comportamento dos próprios ministros na rede. Alexandre de Moraes, relator do caso que resultou no bloqueio, não posta desde janeiro. Flávio Dino abandonou o X após a suspensão e passou a usar o rival Threads. Luís Roberto Barroso, que já foi um usuário frequente, só fez duas postagens desde o retorno. André Mendonça também não faz publicações desde agosto, mas suas postagens sempre foram esporádicas. O único ministro que segue publicando com frequência é Gilmar Mendes.
No governo federal, a situação é diferente: dos 34 ministros com conta no X, apenas um deixou de postar: Marina Silva (Meio Ambiente). O presidente Luiz Inácio Lula da Silva segue publicando, enquanto a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, que no mês passado atacou Elon Musk, abandonou a rede.
Marco Aurelio Ruediger considera que para políticos a decisão de abrir mão do espaço de discussões é mais difícil:
— Para o Judiciário, é uma coisa mais complicada (continuar), porque houve enfrentamento direto com a plataforma. Em termos políticos, se vê de outra forma. Se você se exime do espaço, você perde.
Episódios de desinformação
- Fake news sobre futuro presidente do BC: Publicações na rede X atribuíram declarações falsas sobre o dólar e comparações com uma inexistente moeda dos Brics ao diretor do Banco Central Gabriel Galípolo, futuro presidente do órgão. A Advocacia-Geral da União (AGU) acionou a Polícia Federal.
- Imagem viral de Lula criada por IA do X: A saúde do presidente Lula também mobilizou casos de conteúdos falsos na plataforma de Musk. Uma imagem falsa do chefe do Executivo com a cabeça enfaixada, gerada pelo Grok, sistema de inteligência artificial do X, viralizou quando o petista estava internado.
- Mensagem falsa sobre atuação de Campo Neto: Postagens de usuários de esquerda atribuíram, no período, o aumento na taxa Selic exclusivamente ao atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. A decisão foi tomada por unanimidade pelo Copom, que tem quatro integrantes indicados pelo governo.
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