Política Lava-Jato

Juíza nega plágio em sentença do sítio de Lula, mas admite que usou texto de Moro como base

Repetição de palavra 'apartamento' em caso de Atibaia levou defesa do petista a acusar Gabriela Hardt de copiar decisão
A juíza substituta Gabriela Hardt assumirá a 13ª Vara Federal de Curitiba até a escolha de novo titular para a vaga de Moro. Ela interrogará Lula Foto: Reprodução
A juíza substituta Gabriela Hardt assumirá a 13ª Vara Federal de Curitiba até a escolha de novo titular para a vaga de Moro. Ela interrogará Lula Foto: Reprodução

SÃO PAULO — A juíza federal Gabriela Hardt negou que tenha copiado a sentença do juiz Sergio Moro no caso do tríplex do Guarujá ao condenar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a 12 anos e 11 meses de prisão em outro processo, a ação do sítio de Atibaia , em fevereiro deste ano. A defesa do petista citou a repetição da palavra "apartamento" como um indício de que Gabriela teria plagiado o texto.

Após participar de um evento com o hoje ministro da Justiça Moro, Gabriela disse que é comum que os juízes federais aproveitem sentenças de colegas para não ter de começar a redigir uma decisão do zero. Ela confessou que usou a condenação no caso do tríplex, de julho de 2017, como base, o que não configuraria plágio:

— Fiz em cima (da decisão de Moro) e, na revisão, esqueci de tirar aquela palavra (apartamento) — disse Gabriela. — Eu comecei a redigir essa sentença em 7 de janeiro. Fiz sozinha. Então todas as falhas dessa sentença são minhas. Nosso sistema processual, o “e-proc”, tem modelos de documentos para que a gente comece a editar em cima deles. Eu raramente começo uma decisão do zero, porque seria um trabalho desnecessário. Então, para a gente não esquecer as disposições finais, os parâmetros, a gente sempre faz uma sentença em cima da outra — explicou.

Ainda de acordo com Gabriela, apesar da repetição da palavra "apartamento", a fundamentação e os fatos narrados em sua sentença são diferentes. Neste processo, Lula é acusado de receber, como vantagens indevidas de empreiteiras, reformas em um sítio no município de Atibaia, no interior de São Paulo.

A defesa de Lula alega que ele não é dono do sítio, registrado em nome de seus amigos, e que não recebeu favores das empresas em troca de benefícios em contratos com a Petrobras. Os advogados contrataram um estudo para ver se as sentenças de Moro e Gabriela eram iguais.

Ainda na opinião da juíza, usar o texto de Moro como base não influenciou sua convicção sobre a responsabilidade do ex-presidente petista no caso.

Questionada sobre a diferença no entendimento das penas que pesam sobre o ex-presidente Lula no caso do tríplex — em abril, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) reduziu o tempo de prisão para oito anos e dez meses —, Gabriela diz que calcular uma pena não é simples matemática:

— É muito natural que as decisões sejam revistas — diz.

Críticas a mudanças no Coaf

Em entrevista a jornalistas, Gabriela Hardt criticou a transferência do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) da pasta da Justiça para a Economia . Segundo ela, isso é uma "retaliação" contra o presidente Jair Bolsonaro e Moro.

— Me parece que eles [a oposição] estão querendo fazer alguma retaliação, em vez de analisar quais as características técnicas do projeto, como “por que o Coaf está em um ministério e não em outro”. Mas, não. “Nós somos contra o governo, contra o ministro, então vamos fazer a mudança que não fique bem para o governo"— disse.

Durante o evento, ela ainda disse que "se fosse presidente", também indicaria Moro a uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF). O presidente Jair Bolsonaro disse no fim de semana que indicará Moro para a primeira vaga no STF, porque tem um compromisso com ele. Nesta segunda-feira, Moro negou qualquer acordo prévio com o presidente. Contudo, se disse "honrado" com a promessa feita.