BRASÍLIA — De olho nas eleições, pré-candidatos à Presidência da República já iniciaram uma aproximação com empresários do agronegócio, atividade econômica mais importante do país. Apesar de segmentos relevantes do setor declararem apoio a Jair Bolsonaro, já há gestos de produtores ao ex-presidente Luiz Inácio Lula Silva (PT). O petista sempre teve boa relação com empreendedores do campo.
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Os sinais de aproximação também partem de outros postulantes, como Sergio Moro (Podemos), João Doria (PSDB) e Ciro Gomes (PDT).
Interessados em garantir políticas favoráveis, os empresários procuraram nos últimos meses encaminhar demandas. Uma das principais pautas é a expansão do crédito para alavancar as exportações e o desenvolvimento da cadeia de pequenos e médios produtores.
Desde o ano passado, Bolsonaro vem reforçando os laços com o setor por meio de políticas instituídas por bancos públicos. Em julho, a Caixa Econômica, presidida por Pedro Guimarães, prometeu abrir cem agências exclusivas para o agro. A ideia é focar no crédito para a agricultura familiar e financiar projetos de irrigação, construção de silos e armazéns, além de aquisição de máquinas.
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Já o Banco do Brasil, que no início do governo chegou a ser alvo de estudos para a privatização, também retomou o protagonismo ao estreitar as relações com grandes produtores. Com a anuência de Bolsonaro, o presidente da instituição, Fausto Ribeiro, passou a focar em políticas para o campo.
A carteira do Banco do Brasil para o setor cresceu 21,6% em 2021, para R$ 222,5 bilhões até setembro. No início do mandato de Bolsonaro, o BB chegou a tentar uma diversificação, mas o agro voltou a ser prioridade.
O setor é tão importante para o governo que a Ministra da Agricultura, Tereza Cristina, chegou a ser cotada como vice na chapa de Bolsonaro à reeleição. Ela, porém, deve concorrer ao Senado.
Parlamentares da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) reconhecem que há uma proximidade maior do setor com Bolsonaro, mas não descartam o diálogo com outras forças políticas.
— Nós não podemos deixar de reconhecer os avanços que houveram no passado (no governo Lula e Dilma). Conseguimos ajudar muito o setor. Reestruturamos todo o setor do crédito agrícola. Mas, ao mesmo tempo, sou muito pragmático. Estamos apoiando a política do presidente Bolsonaro — diz o deputado Neri Gueller (PP-MT).
Gueller, que chegou a ser ministro da Agricultura de Dilma Rousseff, em 2014, tem conversado com políticos de diferentes partidos. Assim como outros parlamentares da bancada.
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Na semana passada, Lula iniciou o diálogo com grandes empresários do agro. Em São Paulo, o pré-candidato ouviu as queixas de produtores sobre a relação do Brasil com a China e sinalizou abertura para resolver os problemas enfrentados no campo.
Até o momento, os nomes dos empresários são mantidos em sigilo para evitar qualquer retaliação de ruralistas ou até mesmo do governo federal. Mas fontes relatam que um grande produtor de algodão e integrantes da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) estiveram presentes.
Em nota, a CNA afirmou que “não envia representantes e não realiza encontros paralelos com presidenciáveis e nem com pré-candidatos”. A entidade ressalta ainda que há vários anos realiza um evento público em períodos eleitorais, “para que os candidatos à presidência apresentem suas propostas para o setor”.
Na conversa com Lula, os grandes produtores reclamaram da política externa hostil ao país asiático, maior importador de grãos e proteína animal, e também da política ambiental liderada por Jair Bolsonaro. Entendem que as ações do governo prejudicam o desempenho das exportações.
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Em um possível retorno ao Palácio do Planalto, Lula considera importante ter bom diálogo com representantes da principal atividade econômica do país. Segundo interlocutores, já houve sinalização de aproximação com o ex-governador Mato Grosso e grande produtor de soja Blairo Maggi. Procurado pelo GLOBO, Maggi não retornou.
Na quinta-feira passada, o encontro com produtores ocorreu no escritório do advogado do petista, Cristiano Zanin, que recebeu o pedido dos empresários para a conversa. A recepção também foi feita pelo advogado Fernando Tibúrcio.
— O presidente foi receptivo às queixas do setor, entende que é preciso fazer um esforço para retomar as boas relações com a China, que estão, desnecessariamente, num momento ruim. E essas relações precisam voltar a ser uma relação com outro nível, como sempre ocorreu — diz Tibúrcio.
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Segundo relatos dos presentes, os empresários também falaram sobre a necessidade de incremento na política de crédito. Criticaram os juros altos para financiar a aquisição de máquinas e relataram o alto custo para a importação de fertilizantes.
Lula ouviu elogios à formação de uma chapa com o ex-governador Geraldo Alckmin, que ainda procura um partido para entrar de vez no projeto político.
Desde o ano passado, Lula vem dando sinais públicos de que terá uma boa relação com setor, mesmo diante da participação ativa de empresários do campo na campanha de Bolsonaro.
“Tanto o agronegócio quanto a agricultura familiar são importantes nesse país. Pergunte ao agronegócio se faltou dinheiro para eles no meu governo. Não faltou. A divergência é que alguns queriam comprar arma para matar sem terra e nós queríamos fazer reforma agrária”, escreveu Lula em suas redes sociais, em setembro de 2021.
A possível retomada de invasões promovidas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) é uma das preocupações do setor.
Apesar da clara sinalização de diálogo, petistas que participam da campanha afirmam reservadamente que a candidatura tratará o agro da mesma forma que o mercado financeiro. Sempre haverá conversa, quando houver um pedido. Lula, porém, evitará tomar a iniciativa.
Integrante da FPA e ligado a setores da agricultura familiar, o deputado Zé Silva (Solidariedade-MG) defende que a bancada ruralista se reúna e formalize um documento para que todos os candidatos se comprometam com pautas do setor.
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— Eu sou a favor de fazer essa publicidade, para que todos possamos até cobrar dos candidatos. Ainda não conversei com os candidatos, mas aqui em Minas há produtores de várias cadeias que já estão mandando informações para as campanhas, inclusive envio de sugestões para o Lula — diz Zé Silva.
Durante a semana, em entrevista ao Flow Podcast, Sergio Moro defendeu a interlocução com o setor e o alinhamento de políticas para o setor, inclusive com a defesa do meio ambiente.
— A gente tem visto a economia no Brasil com dificuldades de crescimento, mas a agropecuária crescendo continuamente e até sustentando uma balança comercial positiva para o Brasil em matéria de exportação, então essa atividade tem que ser valorizada e é possível sim você ter uma rica produção agropecuária tanto do pequeno para o grande agricultor com a preservação do meio ambiente, e isso é fundamental na verdade — disse Moro.
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Na primeira semana de janeiro, João Doria também fez um gesto ao setor. Após mobilização de empresários rurais contra uma mudança na cobrança do ICMS, o governo de São Paulo voltou atrás. Barrou a elevação da alíquota para a produção agropecuária.
— O agro foi o setor mais ouvido pelo governador Doria — disse o secretário Gustavo Junqueira (Agricultura) ao tratar do assunto.
Com a mudança de postura, produtores dos setores hortifrutigranjeiro, de carnes e leite pasteurizado foram os mais beneficiados.
Em setembro do ano passado, após criticar alguns setores do campo que incentivam o desmatamento, aliados de Bolsonaro, Ciro Gomes fez questão de registrar que seria preciso defender os produtores responsáveis. “Considero os empreendedores do agronegócios como grandes responsáveis pelo progresso do país”, escreveu nas redes sociais.