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Editorial
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Prefeituras precisam acelerar a adoção de ônibus elétricos
São Paulo tem maior frota do Brasil e plano para substituir veículos a diesel, mas vereadores impuseram retrocesso
Cena comum nas grandes cidades brasileiras, ônibus lançando fumaça na atmosfera enquanto o mundo tenta reduzir as emissões de gases de efeito estufa são anacrônicos e contribuem para agravar as mudanças no clima. As prefeituras brasileiras deveriam acelerar a substituição de suas frotas, hoje a diesel, por veículos elétricos, como já fazem cidades na China ou na União Europeia. Não é tarefa simples, mas é essencial.
Ônibus elétricos não chegam a ser novidade no Brasil. Décadas atrás, São Paulo e Rio conviveram com trólebus. O domínio do motor a combustão forçou a troca (em São Paulo, alguns resistem até hoje). Na versão moderna, os ônibus elétricos são mais silenciosos, mais confortáveis e menos poluentes.
- Editorial: Intervenção no setor elétrico é oportunismo
É louvável que algumas cidades já tenham planos para substituir suas frotas, ainda que no longo prazo. No fim de novembro, a Prefeitura de São Paulo assinou com o BNDES um empréstimo de R$ 2,5 bilhões para comprar mais 1.300 ônibus elétricos. A ideia é que as empresas fiquem responsáveis por instalar a infraestrutura de carregamento. Hoje a capital paulista já tem 489 veículos desse tipo, a maior frota elétrica do Brasil. Pela legislação atual, desde 2022, as empresas de transporte paulistanas estão proibidas de comprar modelos a diesel.
Em descompasso com as metas, a Câmara de Vereadores de São Paulo aprovou em 18 de dezembro Projeto de Lei que adia de 2038 a 2054 o prazo para a cidade zerar as emissões de gás carbônico. A medida terá impacto no cronograma de renovação da frota, pois, lamentavelmente, permite que as empresas voltem a comprar veículos a diesel, sob a justificativa de dificuldades para expansão da frota de elétricos e de falta de infraestrutura nas garagens.
No Rio, segunda maior cidade do país, a Câmara de Vereadores derrubou veto do Executivo e aprovou em março deste ano uma lei determinando a substituição gradual da frota de ônibus da cidade por veículos elétricos. A iniciativa deverá começar pela Zona Sul e, até 2040, terá de contemplar todos os bairros. Há também um projeto para ampliar as linhas do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), espécie de bonde 100% elétrico que hoje circula na região central. Seria oportuno apresentar um plano com prazos e metas para aposentar gradualmente os veículos a diesel.
O Brasil todo conta hoje com apenas 686 ônibus elétricos, segundo a plataforma E-Bus Radar. Isso representa apenas 0,6% dos 107 mil coletivos do país. Além de São Paulo, capitais como Salvador, Curitiba, Florianópolis, Belém, Brasília, Goiânia e Porto Alegre já começam a incorporar elétricos às suas frotas. Mas é preciso andar em ritmo mais rápido.
Cedo ou tarde, ônibus elétricos deverão predominar nas ruas. Barreiras que hoje travam a expansão — como preço (cerca de 3,5 vezes maior) ou infraestrutura para carregamento — serão superadas com o avanço tecnológico, como tem ocorrido com os carros. No futuro de cidades fustigadas pelos efeitos das mudanças climáticas, não pode haver espaço para o atraso.