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Até o início deste mês já havia 6,6 milhões de casos de dengue notificados no Brasil, o quádruplo do total registrado em 2023. As mortes chegavam a 5.922 até o último dia 14, quase o quíntuplo. Para combater a doença, é necessária ação em duas frentes. A primeira, bastante conhecida, embora nem sempre executada de modo eficaz, consiste em erradicar os focos onde prolifera o mosquito Aedes aegypti, transmissor da moléstia. A segunda é a vacinação — e o Brasil acaba de dar um passo fundamental com o desenvolvimento de uma nova vacina pelo Instituto Butantan, de São Paulo.

O Butantan já tem experiência com a produção da Qdenga, vacina desenvolvida pela farmacêutica japonesa Takeda em parceria com os Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos Estados Unidos. A Qdenga foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no ano passado e já faz parte das campanhas do Ministério da Saúde. Mas a vacina própria, batizada Butantan-DV, representa ganhos significativos. Por ser de dose única, ela oferece vantagens logísticas que reduzem os custos de produção e distribuição, característica essencial para impedir uma grande epidemia da doença. Além disso, o país deixa de depender de fornecedores externos. Em março, começou uma campanha de vacinação com a Qdenga, mas a Takeda só conseguiu fornecer 6,6 milhões de doses, por falta de capacidade de produção. Na rede pública, a vacinação se restringiu a jovens de 10 a 14 anos de idade, apenas em municípios com alta incidência da doença.

Para o ano que vem, a Takeda prevê entregar 9 milhões de doses. Isoladamente, elas não são suficientes para deter o avanço da doença. “Não teremos mais ou menos casos, com menos de 10% da população vacinada”, diz o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri. A longo prazo, com uma proporção crescente da população vacinada, é natural haver redução nos casos. Justamente por isso a nova vacina do Butantan será fundamental. O instituto afirma ter capacidade para produzir 100 milhões de doses nos próximos três anos — 1 milhão já em 2025.

Para isso, porém, primeiro é necessário que a Anvisa a aprove e a incorpore ao Programa Nacional de Imunizações. Os resultados dos testes clínicos, publicados na revista médica The New England Journal of Medicine, são auspiciosos. Realizados durante cinco anos e encerrados em junho, reuniram 16.235 participantes, com idades de 2 a 59 anos. Ao longo de dois anos, a Butantan-DV reduziu em 79,6% o risco de contrair a doença. A proteção foi ainda mais elevada (89,2%) naqueles que já haviam contraído dengue. Isso é importante porque esses casos costumam ser mais graves.

Um monitoramento mais longo, depois de 3,7 anos da vacinação, publicado na revista The Lancet Infectious Diseases, mostrou que a proteção ficou em 67,3% na média e em 89% para casos mais graves. A Butantan-DV previne contra quatro tipos de dengue, dois dos quais não foram detectados durante os testes.

A Butantan-DV é uma prova eloquente da importância dos investimentos em pesquisas científicas, sobretudo nas áreas em que o Brasil detém vantagens comparativas. Agora, a Anvisa precisa acelerar a análise para que o brasileiro possa enfim ter acesso a essa proteção.

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