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Energia de alto custo para o consumidor
Emendas na Câmara dos Deputados transformaram projeto de energia eólica num Frankenstein para quem paga luz
RESUMO
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GERADO EM: 23/12/2024 - 17:33
Aumento na Conta de Luz Preocupa Brasileiros
Energia cara preocupa brasileiros com aumento de 9% na conta de luz. Emendas na Câmara transformam projeto eólico em Frankenstein, prejudicando consumidores. Custos altos afetam orçamento, aumentam preços de produtos e beneficiam poucos. Necessidade de debater medidas que impactam população e setor industrial para transição energética justa e eficiente.
"O Brasil corre riscos às terças, quartas e quintas, quando o Congresso se reúne.’ A célebre frase do economista Delfim Netto nunca fez tanto sentido como agora. No fim de 2024, os representantes dos brasileiros aprovaram um projeto cheio de penduricalhos que aumenta a tarifa de luz em 9%, um acréscimo de R$ 21 bilhões por ano na conta de um povo que tem na energia um dos maiores custos de seu orçamento — hoje, 25% da renda dos brasileiros vai para a energia.
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Essa é uma conta que não para de subir e que a população paga duas vezes: na conta que chega todo fim de mês em suas casas e noutra nos produtos que consomem. Sempre que o custo da energia aumenta, os itens produzidos também. O pão carrega 27% de seu custo em energia. A carne, 33,3%, mesmo peso que o leite. O caderno, ainda mais: 36% de seu custo é energia.
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No discurso, todos admitem que o custo tem ficado impagável e que a situação está perto do limite. Na prática, todas as ações vão no sentido contrário. Para quem trabalha no Congresso, acompanhando o processo legislativo, toda semana é de expectativa de novos projetos que trarão mais custos aos consumidores de energia.
Foi o que aconteceu na semana passada. O Projeto de Lei que definia o marco das eólicas offshore (geração de energia dos ventos no mar) perdeu o foco principal e foi alvo de uma série de interesses. Recebeu na Câmara emendas que o transformaram num Frankenstein assustador para quem paga conta de luz. Para os mais ricos, o aumento de 9% pode não representar muita coisa, mas imagine para um cidadão do Pará, que paga hoje a maior conta de energia do país, em média, R$ 216 todo mês. Ele terá de desembolsar R$ 236 com a aprovação do projeto. Um acréscimo de R$ 20 na conta.
Se os itens colocados no projeto fossem fundamentais para o país ter energia segura, limpa e barata, os parlamentares poderiam ter argumentos. Mas não. O projeto obriga todos a usar energia de térmicas caras, poluentes e desnecessárias ao sistema e, pasmem, prorroga subsídios ao carvão em pleno 2024. Sem falar na geração distribuída, que mais uma vez recebeu subsídios. É o consumidor pobre pagando pelo painel solar da casa do rico.
Assim vamos assumindo nossa eterna capacidade de legislar para poucos, de não debater com quem paga a conta — o consumidor — medidas que afetam toda a população e trazem mais custos para a produção industrial. As ineficiências do setor de energia no Brasil já cobram um custo alto ao país e cobrarão ainda mais no futuro, quando perdermos a oportunidade de liderar a transição energética — fazendo a transição da nossa sociedade para uma sociedade mais justa por meio da energia limpa, barata e segura.
*Fernando Teixeirense é diretor de Relações Institucionais e Comunicação da Abrace Energia, associação brasileira que representa os grandes consumidores de energia