Musk expande ativismo político para a Europa com apoio à extrema direita após sucesso como cabo eleitoral de Trump
Homem mais rico do mundo vem atacando figuras políticas progressistas e declarando apoio a siglas e figuras radicais no 'Velho Continente'
Por O Globo, com agências internacionais — Londres e Berlim
RESUMO
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GERADO EM: 04/01/2025 - 18:26
Elon Musk: Influência Política na Europa
Elon Musk expande ativismo político na Europa, apoiando partidos de extrema direita e atacando líderes progressistas. Sua influência questiona interesses e impacto eleitoral longe dos EUA. Críticas na Alemanha e Reino Unido geram controvérsias. Analistas apontam ligação entre política e interesses econômicos de Musk. Ação do bilionário pode mobilizar extrema direita no continente.
Após a estreia bem-sucedida como cabo eleitoral, ao exercer papel fundamental na eleição de Donald Trump nos EUA, o bilionário sul-africano Elon Musk começou a expandir seu ativismo político em direção à Europa. Em uma série de manifestações públicas nas últimas semanas, o homem mais rico do mundo atacou líderes considerados progressistas no "Velho Continente" e aproximou-se e declarou apoio a políticos e partidos de extrema direita, levantando questionamentos sobre seus interesses e sua capacidade de influenciar nos rumos eleitorais longe de sua base na América do Norte.
Embora os contatos de Musk na região vão da Itália à Hungria, os alvos mais recentes de comentários do bilionário foram Alemanha e Reino Unido, duas das maiores potências do continente. A abordagem nos dois cenários foi semelhante: críticas aos políticos no poder, ligados a partidos de centro esquerda, e endosso a figuras e pautas ligadas a legendas extremistas.
Em Berlim, que antecipou as eleições legislativas para fevereiro após o chanceler Olaf Scholz sofrer um voto de desconfiança que provocou a dissolução do Parlamento, Musk iniciou uma campanha ativa de apoio ao partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que promove uma agenda nacionalista muitas vezes apontada como discriminatória e racista.
Além da dinâmica que se consagrou durante a eleição americana, com o ativismo on-line do magnata na sua rede social X, Musk também fez seus avanços por meio da imprensa tradicional, com um artigo de opinião recentemente publicado no Welt am Sonntag, edição dominical do Die Welt. Na coluna, argumenta que o AfD é "o último raio de esperança" para a Alemanha, país que diz estar "à beira do colapso econômico e cultural". Também rebateu as acusações de que a sigla seria de extrema direita.
Scholz rebateu o que chamou de "declarações erráticas" de Musk, em uma entrevista publicada neste sábado pela revista Stern. O chanceler alemão afirmou que o apoio do bilionário a um partido "que defende a aproximação com a Rússia de Putin e quer o enfraquecimento dos laços transatlânticos", é "muito mais problemático" do que os comentários feitos contra ele e o presidente do país. O social-democrata também disse que não pretendia "obter favores" do megaempresário, que disse ter conhecido pessoalmente em março de 2022, durante uma inauguração da fábrica da Tesla em Brandemburgo.
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— A AfD estava protestando contra o estabelecimento [de Musk, naquela oportunidade] — disse Scholz durante a entrevista.
Musk, que já confirmou participação em uma conversa virtual no X com a líder do partido, Alice Weidel, em 9 de janeiro, também usou as redes para atacar as lideranças do país. No início de novembro, referiu-se a Scholz como "louco". Posteriormente, chamou-lhe de "imbecil incompetente", em dezembro. O presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, não escapou das críticas do bilionário, sendo chamado de "tirano".
Saindo da Europa continental para o outro lado do Canal da Mancha, o roteiro de insultos e apoio a siglas radicais também está sendo seguido. Keir Starmer, o primeiro-ministro britânico do Partido Trabalhista, que assumiu o cargo no ano passado, entrou na mira do CEO da SpaceX, que afirmou em um tuíte na última sexta-feira que ele deveria deixar o cargo e enfrentar acusações na justiça. Ele também pediu a libertação do ativista britânico de extrema direita Tommy Robinson, condenado a 18 meses de prisão por desobedecer uma decisão judicial que o impedia de retomar declarações difamatórias contra um refugiado sírio.
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Em solo britânico, Musk parece buscar uma aproximação com o partido anti-imigração Reform UK, que conquistou um número inédito de cadeiras no Parlamento nas eleições legislativas do ano passado. O líder da legenda, Nigel Farage, reuniu-se com o empresário recentemente. A influência do bilionário no país anglo-saxônico começa a ter um peso reconhecido.
"Musk já não é apenas um comentarista muito crítico da vida política britânica, mas um ator destacado", escreveu na sexta-feira o colunista Patrick Maguire, no Times.
Política e negócios
O envolvimento crescente de Musk com a política partidária está intimamente ligada a seus interesses econômicos, segundo analistas da política internacional.
— [Musk e Trump acreditam que] a democracia, o debate, o desacordo e os sistemas de bem-estar social estão no caminho dos negócios — disse Ilan Kapoor, professor da Universidade de York em Toronto, conhecido por suas pesquisas críticas sobre o neoliberalismo. — Por isso, eles veem com bons olhos formas de governo mais autoritárias, que acreditam poder funcionar de maneira mais eficiente, eliminando a oposição política e reduzindo o papel do governo.
A lista de cortejados e cortejadores em torno de Musk incluem figuras políticas do perfil citado por Kapoor, como o líder da Hungria, Viktor Orbán, com quem o empresário se reuniu durante uma visita à Trump, na Flórida, e Giorgia Meloni, premier da Itália, que já declarou considerá-lo um "gênio".
A contradição, na avaliação do professor, é que para concretizar a agenda de "lei e ordem" defendida por esses atores, faz-se necessária "muita intervenção estatal".
Em um artigo publicado no dia 17 de dezembro, dois pesquisadores do Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR), José Ignacio Torreblanca e Giorgios Verdi, afirmaram que Elon Musk poderia usar sua plataforma X para "mobilizar cidadãos e partidos de extrema direita" a prejudicar os líderes europeus. (Com AFP)
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