Ruínas e trauma formam o maior campo de refugiados palestinos da Síria após mais de uma década de guerra civil
Criado em 1957, área chegou a abrigar 160 mil palestinos deslocados pela fundação do Estado de Israel; hoje, 8 mil sobrevivem nas ruínas do local
RESUMO
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GERADO EM: 23/12/2024 - 10:58
Ruínas e trauma: campo de refugiados palestinos na Síria
Ruínas e trauma marcam o maior campo de refugiados palestinos na Síria após décadas de guerra civil. Sobreviventes lidam com fome, perseguições e desaparecimentos. Histórias de sofrimento e superação surgem entre os escombros, revelando um cenário de perplexidade e burstiness no Oriente Médio.
As aulas na escola do maior campo de refugiados palestinos da Síria terminaram em 18 de outubro de 2012, a julgar pela data que ainda está escrita a giz no quadro mais de 12 anos depois. Do lado de fora, as crianças que restaram no subúrbio de al-Yarmouk, em Damasco, brincam entre as ruínas deixadas por mais de uma década de guerra civil. Entre as crianças que correm umas atrás das outras, levantando nuvens de poeira, um homem torturado, que foi libertado da prisão este mês, quando insurgentes derrubaram o governo de Bashar al-Assad, manca.
— Desde que saí da prisão até agora, durmo no máximo uma ou duas horas — disse Mahmud Khaled Ajaj, 30 anos, à AFP.
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Desde 1957, al-Yarmouk tem sido um “campo de refugiados” de 2,1 quilômetros quadrados para palestinos deslocados pela fundação do Estado de Israel. Como outros locais semelhantes no Oriente Médio, com o passar das décadas ele se transformou em uma comunidade urbana densa, com blocos de concreto e várias empresas.
De acordo com a agência das Nações Unidas para os refugiados palestinos (UNRWA), o país abrigava cerca de 160.000 refugiados registrados no início do conflito sírio, em 2011. No entanto, a rebelião, os bombardeios e o cerco das forças do governo devastaram a área, com apenas 8.160 pessoas sobrevivendo nas ruínas em setembro.
Com a queda de Assad, alguns poderão reabrir escolas e mesquitas danificadas. E muitos terão histórias terríveis para contar sobre as perseguições que sofreram. É o caso de Mahmoud Khaled Ajaj, ex-combatente do grupo rebelde Exército Livre da Síria que passou sete anos na prisão, a maior parte deles na infame prisão de Sednaya, de onde foi libertado em 8 de dezembro, quando Assad fugiu do país.
Seu rosto pálido contrasta com o de seus vizinhos, bronzeados por ficarem sentados em frente às suas casas em ruínas. E ele caminha desajeitadamente e com a ajuda de um aparelho para as costas, resultado de anos de espancamento. Um médico da prisão aplicou uma injeção nas costas e o deixou parcialmente paralisado. (Ajaj acredita que ele fez isso de propósito). Mas sua pior lembrança é a fome nas celas superlotadas.
— Meus vizinhos e parentes sabem que eu tinha pouca comida, então eles me trazem comida e frutas. Eu não durmo se não tiver comida ao meu lado. Pão, principalmente pão — explica. — Ontem tivemos sobras de pão. Meus pais costumavam guardá-las para alimentar os pássaros. Eu disse a eles: ‘Guardem um pouco para os pássaros e deixem o resto para mim. Mesmo que estejam secos ou velhos, eu os quero para mim’.
Enquanto Ajaj fala com a AFP, duas mulheres palestinas o param para perguntar se ele tem notícias de parentes desaparecidos. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) documentou mais de 35.000 casos de desaparecimento durante o governo de Assad.
Balas no crânio
Toda a comunidade de al-Yarmouk foi inevitavelmente afetada pela guerra civil síria, na qual os refugiados palestinos foram arrastados para os combates de ambos os lados. O cemitério do campo está repleto de crateras de bombas, e as famílias não conseguem encontrar os túmulos de seus mortos em meio à imensa devastação.
Os tiros de morteiro perfuraram as quadras de basquete, agora vazias. Em vários pontos, escavadeiras removem os escombros, ou pessoas em situação de rua vasculham os destroços para encontrar algo que possam reutilizar. Alguns conseguiram um emprego e reconstruíram suas vidas, outros ainda estão lidando com o trauma.
Haitham Hasan al-Nada, um homem de 28 anos, animado e de olhos arregalados, convida o repórter da AFP a tocar em caroços em sua mão e em seu crânio, que ele explica serem balas alojadas. Seu pai, um comerciante local, ajuda ele, sua esposa e dois filhos depois que foi baleado pelas forças de Assad como desertor e deixado para morrer.
Ele diz ter desertado porque, como palestino, não acreditava que tivesse que lutar pelas forças sírias. Mas ele foi pego e baleado várias vezes.
— Eles ligaram para minha mãe depois de me ‘matar’ e, quando ela foi buscar os [meus] restos mortais, disseram: ‘Este é o cadáver do cão, o desertor’. Meu corpo não havia sido limpo e, quando ela me deu um beijo de despedida antes de me enterrar, de repente, pelo poder de Deus, é inacreditável, eu respirei fundo” — diz Nada, que então conseguiu retornar para o devastado campo de refugiados.
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