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Por O Globo e agências internacionais — Phoenix, EUA, e Cidade do Panamá

RESUMO

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GERADO EM: 22/12/2024 - 18:59

Trump critica taxas do Canal do Panamá e cogita encontro com Putin para discutir Ucrânia

Em evento conservador, Trump sugere retomar controle do Canal do Panamá, criticando taxas e alegando 'roubo'. Ele também cogita encontro com Putin para discutir guerra na Ucrânia. Autoridades panamenhas rejeitam acusações.

O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, sugeriu neste domingo que o governo americano retome o controle do Canal do Panamá para acabar com que chama de “roubo” cometido pelas autoridades locais contra seus navios. No mesmo evento, ele deixou no ar a possibilidade de um encontro com o líder russo, Vladimir Putin, para falar da guerra na Ucrânia, que está perto de completar três anos.

Em um discurso repleto de promessas e ataques em evento da organização conservadora Turning Point USA, o presidente chamou o Canal do Panamá de “um bem nacional vital”, declarando ainda que o controle da passagem entre os oceanos Atlântico e Pacífico deveria voltar aos americanos caso os princípios “morais e legais” de se uso sejam violados.

— Nossa Marinha e comércio foram tratados de uma forma muito injusta e imprudente. As taxas cobradas pelo Panamá são ridículas, altamente injustas, especialmente sabendo da generosidade extraordinária que foi concedida ao Panamá — afirmou Trump. — Esse roubo completo do nosso país vai parar imediatamente.

A fala em Phoenix sucedeu uma série de publicações de Trump em sua rede social, o Truth Social, no sábado, apontando a importância do Canal para os americanos, e atacando as autoridades panamenhas pelo que vê como uma espécie de “falta de gratidão” aos EUA.

“Considerado uma das Maravilhas do Mundo Moderno, o Canal do Panamá foi inaugurado há 110 anos e foi construído a um custo ENORME para os Estados Unidos em vidas e tesouros: 38.000 homens americanos morreram de mosquitos infectados nas selvas durante a construção. Teddy Roosevelt era o Presidente dos Estados Unidos na época de sua construção e entendia a força do Poder Naval e do Comércio”, escreveu o presidente eleito.

Em 1903, os EUA receberam o controle da área onde seria construído o Canal do Panamá, cujas obras foram finalizadas em 1914, com poderes de usar a força para garantir a neutralidade da passagem usada hoje por cerca de 14 mil navios anualmente. Em 1977, o então presidente americano, Jimmy Carter, firmou um acordo com o ditador Omar Torrijos, que comandava o Panamá na época, devolvendo o controle do canal ao país, mas mantendo o direito de atuar para defender sua neutralidade. Os panamenhos retomaram a soberania sobre o canal em 1999, em uma decisão criticada por Trump no sábado.

“Quando o presidente Jimmy Carter tolamente o deu, por um dólar, durante seu mandato, era somente para o Panamá administrar, não a China, ou qualquer outra pessoa. Da mesma forma, não foi dado ao Panamá cobrar dos Estados Unidos, sua Marinha e corporações, fazendo negócios dentro do nosso país, preços e taxas de passagem exorbitantes”, escreveu o presidente eleito.

Analistas veem na fala de Trump uma preocupação com o avanço de empresas chinesas na região do canal. Dois portos, localizados nas duas extremidades da passagem, são administrados por empresas de Hong Kong, mas não há gestos visíveis vindos de Pequim de que o país estaria disposto a ampliar sua presença ali. O presidente do Panamá, José Raúl Mulino, eleito em maio, já disse ter como prioridade de governo a aproximação com os EUA, mas afirmou neste domingo que “a soberania e a independência do nosso país não são negociáveis".

— O Panamá respeita outras nações e exige respeito. Com o novo governo dos Estados Unidos, aspiro preservar e manter um relacionamento bom e respeitoso — disse Mulino, em um pronunciamento divulgado em suas redes sociais. — Questões de segurança como migração ilegal, tráfico de drogas e crime organizado devem ser prioridade em nossa agenda bilateral, pois são uma ameaça real que deve nos preocupar.

Mulino ainda afirmou que "o canal não está sob controle direto ou indireto da China, da Comunidade Europeia, dos Estados Unidos ou de qualquer outra potência", e que "como panamenho, rejeito veementemente qualquer declaração que distorça essa realidade".

Promessa de diálogo

O Panamá não foi o único tema da longa fala de Trump em Phoenix. O presidente eleito afirmou ainda que pode se reunir com Vladimir Putin para discutir a guerra na Ucrânia em breve, mas sem dar datas ou detalhes sobre o que estaria sobre a mesa.

— Uma das coisas que quero fazer, e rapidamente, e o presidente Putin disse que quer se encontrar comigo o mais rápido possível, então temos que esperar por isso, mas temos que acabar com essa guerra — afirmou, antes de culpar o atual líder americano, Joe Biden, pela guerra, e de afirmar que ela não aconteceria se ele estivesse no poder.

Ao longo da campanha à Presidência, Trump repetiu à exaustão que poderia encerrar o conflito “em 24 horas”, mas sem dizer como. Em Kiev, muitos temem que a chegada do republicano ao poder leve uma guinada na posição americana sobre a guerra, com o fim dos pacotes de ajuda militar e a pressão para que os ucranianos aceitem um plano de paz potencialmente favorável aos russos, e que inclua a cessão de territórios ocupados.

Na semana passada, em sua entrevista coletiva anual, Putin disse que está disposto a conversar com Trump.

— Você perguntou o que podemos oferecer, ou o que eu posso oferecer ao recém-eleito presidente Trump quando nos encontrarmos” — disse Putin a um jornalista da rede NBC. — Primeiro de tudo, não sei quando nos encontraremos. Porque ele não disse nada sobre isso. Não falo com ele há mais de quatro anos. Claro, estou pronto para isso a qualquer momento, e estarei pronto para uma reunião se ele quiser.

Ameaça aos cartéis e pessoas transgênero

No campo doméstico, Trump disse que "acabar com a loucura transgênero", prometendo acabar com medidas de inclusão adotadas ao longo dos últimos anos, e que foram um de seus principais argumentos de campanha.

Repetindo uma ideia que tem raízes em discursos religiosos, afirmou que "será política oficial do governo dos Estados Unidos que haverá apenas dois gêneros, masculino e feminino", e que manterá "os homens longe dos esportes femininos" — o republicano é um dos mais vocais críticos da presença de atletas transgênero, e conta com o apoio de esportistas que alegam terem sido prejudicadas em competições oficiais.

Nos últimos anos, estados democratas e republicanos adotaram caminhos opostos em políticas para as pessoas transgênero, que incluíram desde a proteção a procedimentos de transição de gênero até, no extremo oposto, o banimento de literatura sobre o tema de bibliotecas públicas e escolares.

— No dia 20 de janeiro, a América virará para sempre a página de quatro longos e horríveis anos de fracasso, incompetência e declínio nacional, e inauguraremos uma nova era de paz, prosperidade e grandeza nacional — disse Trump, antes de fazer promessas em tom de ameaça. — Assinarei ordens executivas para acabar com a mutilação sexual infantil e remover pessoas transgênero das Forças Armadas e de nossas escolas primárias e secundárias.

Em outra frente, disse que designará os cartéis de drogas do México como "organizações terroristas", potencialmente abrindo espaço para intervenções militares, como o próprio Trump sugeriu que poderia fazer caso retornasse à Casa Branca. Em seu primeiro mandato, ele ameaçou fazer a inclusão dos grupos armados na lista de terroristas, mas recuou a pedido do então presidente, Andrés Manuel López Obrador, em uma posição similar à da nova líder, Claudia Sheinbaum.

— Nós colaboramos, coordenamos, trabalhamos, mas nunca seremos subordinados. O México é um país livre, soberano, independente e não aceitamos intervencionismos no nosso país — disse a presidente mexicana em um ato político neste domingo.

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