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Por O Globo e agências internacionais — Washington

RESUMO

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GERADO EM: 19/12/2024 - 22:01

Plano de financiamento nos EUA fracassa: divisão política ameaça paralisação.

Plano de financiamento para evitar paralisação do governo dos EUA, apoiado por Trump e Elon Musk, fracassa na Câmara. Proposta incluía extensão do financiamento e suspensão do teto da dívida. Republicanos divididos e democratas relutantes em ceder. Pressão para novas negociações antes do prazo final.

A Câmara dos Deputados dos EUA rejeitou um plano defendido pelo presidente eleito Donald Trump para ampliar o financiamento ao governo federal e evitar uma paralisia de boa parte dos serviços públicos, a um mês de sua posse. Na véspera, Trump, apoiado por seu futuro "czar da eficiência", Elon Musk, atuou para impedir que um plano de financiamento, que contava com apoio bipartidário, prosperasse, alegando que ele fazia "muitas concessões" aos democratas.

O plano apresentado ao plenário nesta quinta-feira, com o aval de Trump, previa a extensão do financiamento ao governo por mais três meses, assim como uma série de emendas, incluindo US$ 110 bilhões para regiões afetadas por desastres naturais.

No ponto que mais provocou questionamentos, incluindo em sua própria base, o texto trazia uma suspensão de dois anos do teto da dívida dos EUA — na prática, esse é o limite de empréstimos que podem ser contraídos pelo governo para pagar suas contas. Quando ele é atingido, as autoridades precisam honrar seus compromissos com o dinheiro que estiver em caixa, correndo o risco de um indesejado calote.

Os republicanos, liderados pelo presidente da Casa, Mike Johnson, usaram uma manobra que permitia a aprovação com dois terços do plenário, mas fracassaram: o texto teve 174 votos a favor, incluindo dois democratas, e 235 contra, incluindo 38 republicanos.

— Nós nos reagruparemos e chegaremos a outra solução — disse Johnson, em uma entrevista coletiva na qual atacou a minoria democrata. — É muito decepcionante para nós que todos, exceto dois democratas, tenham votado contra a ajuda a fazendeiros e pecuaristas, contra o auxílio em desastres, contra todas essas medidas bipartidárias que já haviam sido negociadas e decididas.

Segundo a CNN, deve ser feita uma nova tentativa para passar o pacote, dessa vez por maioria simples, mas as chances de sucesso são igualmente mínimas.

— Isso (proposta alternativa) mantém o governo funcionando. O que meus amigos querem fazer votando "não" é efetivamente fechá-lo — afirmou o deputado republicano Tom Cole no plenário, tentando imputar a culpa pela derrota nos democratas, mas sem mencionar seus colegas de partido que foram contra a medida.

O Congresso não aprovou um Orçamento para o ano fiscal de 2025, inciado em outubro, e precisa aprovar pacotes de financiamento para garantir as operações do governo federal. O primeiro plano foi aprovado em setembro e garantia verbas até sábado, 20 de dezembro.

Por isso a pressa: caso a Câmara e o Senado não passem um novo texto até 0h01 de sábado, apenas as atividades essenciais de agências federais estarão garantidas, causando problemas à população na época das festas de fim de ano e potencialmente até para a posse de Trump, em janeiro.

Para garantir o apoio dos democratas, Johnson incluiu no plano original uma série de emendas, como sobre o apoio a regiões afetadas por desastres naturais, ajuda a fazendeiros e itens peculiares, como sobre o repasse de um estádio de futebol americano. Contudo, havia dissidências internas entre os republicanos, que não queriam gastar com o que viam como concessões aos democratas — na quarta-feira, Trump se juntou ao coro, amparado por Elon Musk, cuja tarefa no futuro governo será cortar despesas públicas, especialmente cargos.

Presidente da Câmara dos EUA, Mike Johnson, em entrevista coletiva — Foto: Kevin Dietsch/Getty Images/AFP
Presidente da Câmara dos EUA, Mike Johnson, em entrevista coletiva — Foto: Kevin Dietsch/Getty Images/AFP

Os dois ordenaram que os parlamentares republicanos vetassem a proposta de Johnson, que foi colocada em suspenso, e passaram a defender que apenas gastos básicos aparecessem no novo e enxuto texto. Ao mesmo tempo, Trump sugeriu que o teto da dívida fosse ampliado imediatamente, relegando ao governo Biden uma medida normalmente impopular e evitando problemas com parte de sua base que tem um discurso de austeridade mais incisivo.

— Vamos voltar à mesa e continuar negociando como fizemos ontem (quarta-feira) à noite — disse à CNN Steve Scalise, vice-líder da maioria.

Com tantas dissidências dentro do Partido Republicano, Johnson sabe que precisará do apoio dos democratas para passar o financiamento, mas os governistas não parecem dispostos a ceder a qualquer custo. Chuck Schumer, líder da maioria no Senado, afirmou que a derrota era um bom sinal para que todos voltassem ao plano original. Rosa DeLauro, integrante da Comissão de Apropriações, foi mais direta, e colocou a culpa do impasse em Trump e, especialmente, Musk.

— Ontem (quarta-feira), um multimilionário, aparentemente sem conhecimento prático de governo ou de dotações, um presidente autoproclamado dos Estados Unidos, Elon Musk, emitiu uma ordem para que os republicanos da Câmara fossem contra sua própria liderança eleita e fechassem o governo — disse DeLauro, citada pelo portal Politico. — Logo depois, o Congresso estava em um caminho rápido para uma paralisação do governo.

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