'Duelo' de mísseis contra os EUA? O que se sabe sobre a arma hipersônica Oreshnik, citada por Putin e já usada contra a Ucrânia
Existência do armamento foi revelada pelo presidente Vladimir Putin em pronunciamento feito em novembro, e é vista como uma perigosa ameaça ao Ocidente
Por O Globo — Rio de Janeiro
RESUMO
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GERADO EM: 19/12/2024 - 09:19
Putin revela míssil hipersônico Oreshnik: ameaça ao Ocidente?
Putin revelou o míssil hipersônico Oreshnik e desafia os EUA. Com alcance de até 3 mil km e velocidade Mach 10, pode transportar ogivas nucleares. Especialistas veem ameaça ao Ocidente e alegam dificuldade de defesa. Possível evolução de projeto militar russo controverso.
O anúncio feito pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, de que um novo míssil de médio alcance foi usado em um ataque contra a região ucraniana de Dnipropetrovsk acendeu alertas ao redor do mundo no mês passado. Já nesta quinta-feira, Putin elevou o tom e sugeriu um "duelo" com os Estados Unidos para mostrar o poder bélico do novo míssil balístico hipersônico Oreshnik.
A declaração foi dada por Putin enquanto ele falava sobre o ceticismo ocidental sobre o Oreshnik. Ele disse que, se ambos os lados selecionassem um alvo designado para ser protegido por mísseis dos EUA, a Rússia provaria que pode derrotar qualquer sistema de defesa antimísseis americano. "Estamos prontos para tal experimento", disse Putin, afirmando que a Rússia está ficando mais forte.
Como é o novo míssil Oreshnik?
O equipamento teria a capacidade de levar ogivas nucleares, e seu emprego é encarado como uma perigosa mensagem ao Ocidente. Segundo Putin, o míssil atinge dez vezes a velocidade do som (Mach 10), “que é de 2,5 km a 3 km por segundo".
O líder russo afirmou que esse era um míssil de médio alcance (MRBM), o que, de acordo com a Associação para o Controle de Armas, significa um alcance entre mil e 3 mil quilômetros, além de uma margem de erro de cerca de 150 metros em relação ao alvo determinado.
O presidente russo declarou que "atualmente não há maneiras de conter esta arma", e especialistas dizem que os atuais sistemas de defesa aérea em operação na Ucrânia não são capazes de interceptar mísseis balísticos. Uma das alternativas, como apontou a empresa de consultoria Defense Express, em artigo nesta quinta-feira, é o sistema THAAD (Defesa Terminal de Área de Alta Altitude, em inglês), mas os EUA têm hoje apenas sete baterias operacionais.
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Em seu canal no Telegram, Yan Matveev, analista militar russo, disse acreditar que o Oreshnik seja uma adaptação do projeto de míssil balístico de alcance intermediário (IRBM) RS-26 Rubej, que tem alcance de até 5,8 mil km e capacidade de levar até quatro ogivas nucleares de 0,3 megaton cada (a bomba Little Boy, usada pelos EUA contra Hiroshima, em 1945, tinha poder explosivo de 0,015 megaton).
Oficialmente, o programa de desenvolvimento do RS-26 havia sido paralisado em 2018, e uma decisão final sobre a continuidade ou não não seria tomada antes de 2027, afirmou o site militar russo Top War, citando o orçamento militar do país. No passado, os EUA afirmaram que o projeto violava o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário, assinado em 1987 por Washington e Moscou e que previa a eliminação dos mísseis balísticos e de cruzeiro com alcance entre 500 km e 5,5 mil km. O acordo foi abandonado em 2019.
Entre as semelhanças operacionais com o RS-26, o Oreshnik, afirmam especialistas e fontes dos serviços de inteligência dos EUA e Reino Unido, poderia levar uma carga conhecida como MIRV (Veículo de Reentrada Múltiplo Independentemente Direcionado, em inglês), que lhe permite transportar múltiplas ogivas, inclusive nucleares.
— Este é um grande foguete com capacidade de carga útil, presumivelmente MIRVs, e tem a capacidade associada a ele de transportar cargas nucleares — disse à CNN Tom Karako, diretor do Projeto de Defesa de Mísseis do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), apontando que provavelmente foi a primeira vez em que o sistema de múltiplas ogivas foi usado em combate.
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