O ministro da Defesa da Coreia do Sul, Kim Yong-hyun, apresentou sua renúncia nesta quarta-feira, um dia após a tentativa frustrada do governo sul-coreano de impor lei marcial para combater supostas ameaças existenciais ao país. Apontado como peça-chave na frente militar da trama, Kim virou alvo de um pedido de investigação da oposição, que o acusa de traição — crime punível no país com prisão perpétua e pena de morte.
O pedido de renúncia do chefe da Defesa foi apresentado ao presidente Yoon Suk-yeol em meio à enorme pressão política e popular que se seguiu ao arroubo autoritário do governo — que sob lei marcial poderia fechar o Congresso, controlar a imprensa e impedir reuniões. Kim assumiu "total responsabilidade" pela decretação da lei marcial, desculpando-se com o país pela confusão provocada pela medida.
"Em primeiro lugar, lamento profundamente e assumo total responsabilidade pela confusão e preocupação causadas ao povo em relação à lei marcial (...). Assumi total responsabilidade por todos os assuntos relacionados à lei marcial e apresentei minha renúncia ao presidente", afirmou Kim em um comunicado.
Relatos na imprensa sul-coreana já apontavam para Kim como a figura por trás do plano para impor a lei marcial. Ele teria apresentado a ideia ao presidente, exercendo uma importante influência, ainda de acordo com a imprensa local. Oficialmente, o ministro permanece no cargo até que sua renúncia seja aceita — embora ainda possa enfrentar punições mais severas, mesmo que seja mantido na função.
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Parlamentares que apresentaram uma moção de impeachment contra o presidente também buscam o mesmo contra o ministro. Em um desdobramento ainda mais sensível para o ministro, representantes do Partido Democrático pediram a abertura de uma investigação contra Kim por traição, crime que pode ser punido com prisão perpétua e morte em Seul.
Entenda a crise política
O presidente da Coreia do Sul decretou lei marcial na terça-feira, sob o pretexto de proteger o país de "forças comunistas" pró-Coreia do Norte e assegurar a ordem constitucional no país. A medida, que determinava o fechamento do Congresso, também proibia manifestações públicas e reuniões políticas e estabelecia o controle da imprensa. Apesar das ameaças mencionadas, Yoon não detalhou as ameaças específicas de Pyongyang que teriam justificado a imposição da lei.
Em um discurso em rede nacional, por meio do qual anunciou a medida — o mesmo no qual citou as ameaças antiestatais —, Yoon acusou a oposição de "paralisar o governo" por interesses políticos. Na semana passada, os deputados da oposição, que têm maioria no Parlamento, aprovaram um plano de Orçamento significativamente reduzido. O Legislativo também já havia tentado abrir investigações contra o presidente, que está cada vez mais isolado no cenário nacional.
Após a decretação, o líder da oposição, Lee Jae-myung, convocou um protesto em frente à Assembleia Nacional. Organizações civis e sindicais também fizeram o mesmo. Embora forças de segurança tenham isolado o prédio, 190 parlamentares conseguiram entrar no plenário, votando por unanimidade pela ilegalidade da medida. Após a votação, Yoon recuou e derrubou o decreto de lei marcial. (Com AFP e NYT)
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