Os bancos multilaterais de desenvolvimento mobilizaram US$ 28,3 bilhões (R$ 169 bilhões) em recursos privados no ano passado, para medidas de combate aos efeitos das mudanças climáticas. Isso, de acordo com relatório divulgado em conjunto pelas 10 instituições de fomento globais, a partir de um financiamento total de US$ 125 bilhões (R$ 746,7 bilhões) para mitigação e adaptação, dos quais 60% são destinados a países em desenvolvimento.
Em 2024, conforme documento apresentado no G20, o grupo aumentou a margem de empréstimo em cerca de US$ 400 bilhões (R$ 2,4 trilhões) para os próximos dez anos. Para especialistas, o processo está no caminho certo.
Uma questão, no entanto, chama a atenção: a esperada capitalização dessas instituições depende de governos dos países desenvolvidos e os Estados Unidos, já com Donald Trump no comando, terão papel relevante, sobretudo em relação ao Banco Mundial, o que aumenta as incertezas em relação ao processo.
Financiamento misto
Moacyr Araújo, coordenador geral da Rede Clima, vinculada ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, observa que o papel dos organismos multilaterais, bem como o dos bancos nacionais de desenvolvimento, é central para compor os US$ 300 bilhões (R$ 1,8 trilhão) previstos na nova meta global de financiamento definida na COP29. O futuro governo americano preocupa, mas estão surgindo novas frentes e fontes de recursos.
—Vejo o movimento nessa direção. Se não tivermos recursos privados, não conseguiremos resolver o problema. Os países em desenvolvimento não podem ter novos financiamentos e ficar com dívidas ainda superiores às que já existem. Isso não é solucionar o problema, é transferi-los.
Nesse sentido, a reforma dos bancos multilaterais contribuirá não apenas para que se tornem mais acessíveis e ágeis, como também facilitará a criação de instrumentos que aumentem a esfera de atuação. Caberá a essas instituições, protagonismo na mobilização de recursos, principalmente os privados, e instrumentos flexíveis para levar o dinheiro aos países que precisam deles.
Por exemplo, utilizando blended finance (financiamento misto), mecanismo de investimento que une recursos públicos, de fomento e filantrópicos ao capital privado; e replicando o Eco Invest, parte do Plano de Transformação Ecológica do Brasil que atua como mecanismo de proteção cambial, com investimento privado internacional.
Segundo Araújo, se instituições de fomento trabalharem mais com o BNDES, banco que lidera o secretariado da Plataforma Brasil de Investimentos Climáticos e para a Transformação Ecológica (BIP), a estratégia pode ser base inovadora para atrair, junto com os multilaterais, investimentos externos em tecnologias novas, como a do hidrogênio verde, e em soluções baseadas na natureza. A plataforma, que já conta com US$ 10,8 bilhões (R$ 64,5 bilhões) em projetos, foi criada para fazer a ponte entre fontes de financiamento e projetos alinhados às políticas públicas nacionais de descarbonização.
Rogério Studart, pesquisador sênior do Cebri e ex-diretor-executivo no BID e no Banco Mundial, também enfatiza a relevância do papel dos bancos de fomento no financiamento climático a partir da reforma financeira global apoiada pelo G20, presidido este ano pelo Brasil.
— Eles devem, e podem, ser mais ágeis, trabalhar de forma mais coordenada, e emprestar mais. Porém talvez tão importante quanto o financiamento seja a colaboração com bancos nacionais para originar projetos verdes de qualidade, desenvolver soluções e mitigar risco dos investimentos.
Diminuição de riscos
A reforma dos multilaterais, a seu ver, contribuirá não apenas para tornarem as instituições mais acessíveis e ágeis, como para a criação de instrumentos econômicos que os credencie a dar garantias às operações, diminuindo o risco dos países em desenvolvimento e reduzindo o custo dos empréstimos. Outra discussão importante foi a aprovação pelo FMI do uso de Direitos Especiais de Saque (SDRs), que pode gerar entre US$ 80 bilhões e US$ 140 bilhões (entre R$ 478 bilhões e R$ 836,4 bilhões) para ações sobre clima e enfrentamento da pobreza.
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